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Car Culture

BMW Art Cars: quando os carros viram obras de arte de verdade – Parte 1

Ao longo de seus 98 anos de existência, a BMW lançou alguns dos carros mais icônicos já produzidos, caso do roadster 507, do 2002 turbo, do Série 3 e, claro, dos modelos M, começando pelo M1 até o M5. Diferentemente dos carros italianos, a BMW sempre lançou mão de um design mais sóbrio e racional para seus carros, sem muita ousadia. Seus carros jamais seriam o que costuma-se chamar de “obra de arte sobre rodas”, se não fosse por uma série mais do que especial criada pela fabricante: os BMW Art Cars, que conheceremos um a um.

Os BMW Art Cars são obras de arte sobre rodas no sentido estrito do termo: uma coleção de 18 carros que serviu como tela em branco para o trabalho de 18 artistas plásticos diferentes ao longo dos últimos 40 anos. O melhor de tudo, é que boa parte deles não se limitou a isso, e acabou indo para a pista lutar por vitórias.

 

 

Os primeiros Art Cars

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Tudo começou em 1975, quando o piloto e leiloeiro francês Hervé Poulain teve a ideia de convidar um artista plástico para pintar o carro que ele usaria nas 24 Horas de Le Mans daquele ano. Ele entregou um BMW 3.0 CSL  de pista, com 480 cv, ao escultor americano Alexander Calder, que também era seu amigo pessoal. Sendo um escultor o desafio para Calder era criar uma pintura que transmitisse sua identidade artística em algo que ele não esculpiu, nem produziu. Ele acabou pintando o 3.0 CSL com cores vibrantes e linhas curvas sobre a asa, teto e capô, e foi convidado para assistir as 24 Horas de Le Mans de 1975 para testemunhar a  “premiere” de sua obra de arte nas pistas.

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Infelizmente, Poulain não conseguiu terminar a prova, mas a ideia dos Art Cars estava lançada, e foi adotada pela própria fabricante, que passou a convidar os artistas para pintar seus carros.

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O segundo carro foi feito no ano seguinte, 1976, e também foi um 3.0 CSL. Porém desta vez  preparado de acordo com as regras do Grupo 5 da FIA. Seu seis-em-linha de três litros turbinado produzia 750 cv e o levava a 341 km/h de velocidade máxima. A pintura foi feita pelo americano Frank Stella, que criou um padrão quadriculado com linhas tracejadas, que representam a vontade do artista de cortar e remodelar o carro.

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Em 1977 a BMW entregou um Série 3 E21 de 300 cv do Grupo 5 para Roy Lichtenstein, que pintou linhas coloridas longitudinais representando a estrada e a paisagem, segundo suas palavras. O design foi fortemente influenciado pelo seu estilo de histórias em quadrinhos, o que pode ser notado pelos pontos “Benday” que simulavam a impressão em papel.

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O BMW M1 pintado por Andy Warhol

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No ano seguinte a BMW não lançou nenhum Art Car, mas reservou algo especial para 1979. Um dos 453 BMW M1 foi entregue ao ícone da pop art Andy Warhol para ser usado como tela. O americano fez a pintura que talvez seja mais fácil de se compreender. Segundo ele, se um caro está se movendo realmente rápido, todas as linhas e cores são borradas. Por isso, ele pintou as cores sem limites, nem formas pré definidas, apenas trocava os pinceis e cores.

Depois de 23 minutos de trabalho, ele passou os dedos pela tinta ainda fresca para deixar seu toque pessoal. Warhol foi o primeiro artista a fazer a pintura diretamente no carro. Todos os anteriores usaram modelos em escala 1:5 para desenvolver a arte, que foi posteriormente reproduzida por técnicos em pintura nos carros reais. Warhol insistiu para pintar diretamente no carro de verdade. Quando perguntado se ele estava satisfeito com a obra, ele respondeu: “Adorei o carro. Ele é melhor que a própria arte“.

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O M1 Art Car correu apenas uma vez, nas 24 Horas de Le Mans de 1979 e foi dividido entre Manfred Winkelhock, Hervé Poulain e Marcel Mignot, que terminaram em sexto lugar geral e segundo na categoria.

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Carros nascidos para o museu

Depois do M1 a BMW voltou a oferecer um de seus carros a um artista somente em 1982. Diferentemente dos anteriores, os carros os anos 1980 e do começo da década de 1990 não foram para as pistas antes de serem guardados para a posteridade. Eles se tornaram exclusivamente obras de arte para serem expostas em galerias e museus.

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O primeiro deles foi o 635 CSi pintado pelo austríaco Ernst Fuchs. Segundo Fuchs, a pintura expressa várias experiências, medos, desejos e implorações, mas também a liberdade da criação artística.

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Ele batizou a pintura de “Firefox on Harehunt”, algo como “Raposa vermelha na caça à lebre”, pois ela “representa uma lebre correndo por uma rodovia durante a noite e saltando sobre o carro em chamas – o medo primitivo e o sonho ousado de superar a dimensão na qual vivemos. As cores são o chamado da velocidade e posso ver a bela lebre saltando sobre as chamas, fugindo de seus medos”. Ok. Nós acreditamos, sr. Ernst.

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O 635 CSi foi o mesmo carro oferecido em 1986 a Robert Rauschenberg (acima), que usou novas técnicas de transferência de fotografias  para a carroceria, em vez de apenas pintar padrões abstratos. Em 1989, o artista australiano M.J. Nelson transformou um M3 E30 preto em uma bela amostra da arte aborígene da Papunya, um povoado nativo da Oceania.

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Da Austrália também veio o artista seguinte, que também deixou sua marca em um M3 E30 no mesmo ano de 1989. O australiano Ken Done buscou inspiração na vivacidade das aves típicas de seu país — animais que, sob seu ponto de vista representam os dois valores mais fortes da BMW: beleza e velocidade.

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O carro seguinte foi um 535i E34 pintado pelo japonês Matazo Kayama, que usou um aerógrafo para desenhar nuvens azuladas sobre a carroceria prateada do carro alemão e depois usou técnicas clássicas japonesas como o Kirigane (corte de metal) e Arare (impressão folhada) para completar a estampa.

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Ele cortou pequenas folhas de prata, ouro e alumínio e as imprimiu individualmente na carroceria. Até hoje é considerado o Art Car mais elegante de todos.

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Nos anos seguintes, a BMW voltaria a usar seus modelos mais especiais como tela para os Art Cars, e eles voltariam a ver o asfalto dos autódromos no grid de largada.

Leia a segunda parte desta história neste link.