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Car Culture

BMW Art Cars: quando os carros viram obras de arte de verdade – Parte 2

No post anterior falamos sobre a origem dos Art Cars, contamos a história do BMW M1 pintado por Andy Warhol e citamos a transição de Art-Cars de pista para obras estáticas de museu ao longo dos anos 80. Mas o que veio depois disso?

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Para o início da década de 90, a BMW continuou convidando artistas para pintar carros, transformando-os efetivamente em telas sobre rodas. O primeiro carro, logo em 1990, foi um Série 7 E32 — mais precisamente um 730i, dotado de um seis-em-linha de três litros e 188 cv.

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O artista das Ilhas Canárias Cesar Manrique foi o criador da pintura com cores vibrantes e pinceladas largas e livres. Seu objetivo era “combinar as noções de velocidade e aerodinâmica com o conceito da estética” — provavelmente referindo-se ao visual da geração E32 do Série 7: elegante, porém capaz de sugerir velocidade.

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No ano seguinte a BMW deu à pintora sul-africana Esther Mahlangu. Ela mesclou a arte tradicional de seu país às formas alemãs de um BMW Série 5 E34. “Minha arte evoluiu da tradição tribal de decorarmos nossas casas”, ela conta. Mahlangu tornou-se a primeira mulher a figurar na lista de convidados para criar Art Cars, e o 525i decorado com padrões africanos e cores vivas — até mesmo nas rodas — foi o primeiro feito por um artista do continente africano.

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Alguns artistas, contudo, preferiam uma abordagem menos abstrata e humana e produziam algo de conceito mais próximo da máquina que lhe servia de tela.

BMW Z1 e 850CSi

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O BMW Z1 é um raro e inovador roadster que, embora dividisse a plataforma com o Série 3 E30, tinha o design muito mais futurista (e as famosas portas que deslizavam para dentro das soleiras). Ainda em 1991, o Z1 foi o carro dado ao alemão A.R. Penck. Para ele, O Z1 por si só já era uma obra de arte, pois refletia “a criatividade e a fantasia de um engenheiro” e eram uma representação perfeita do termo “Art Car” em todos os sentidos.

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Ele decidiu, então trabalhar com o contraste e sobrepor o design altamente técnico do Z1 com hieróglifos primitivos, quase rupestres — mas que, ao mesmo tempo, eram uma escrita codificada desenvolvida pelo próprio pintor.

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Por outro lado, quatro anos depois, o artista britânico David Hockney viu-se diante de um BMW 850CSi — o grand tourer com motor V12 lançado em 1989 (depois ele recebeu um motor V8) que trazia algumas inovações técnicas impressionantes para a época — e decidiu-se por pintar o lado de fora do carro como se fosse o interior, ou ao menos o que ele entendia como o interior do carro.

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Formas aparentemente abstratas revelam uma maneira totalmente diferente de enxergar os componentes mecânicos e estruturais de um carro e até mesmo seus ocupantes.

 

A arte de volta às pistas

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Voltando alguns anos no tempo, vemos um sinal de que a BMW podeira voltar a colocar seus Art Cars para competir. Foi em 1992, quando o artista italiano Sandro Chia decorou um protótipo do BMW Série 3 com motor de quatro cilindros, 2,5 litros e 370 cv. Chia, que grafitava carros nas ruas quando era adolescente, retratou na pintura colorida os rostos “das pessoas que olham os carros”.

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“O automóvel é um objeto desejado na sociedade. Todos os olhos estão sobre ele. As pessoas olham os carros de pert. Este carro reflete o olhar delas”. Profundo.

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Mas tudo fica mais veloz, barulhento e direto quatro anos depois, em 1999. O Art Car foi nada menos do que um dos três V12 LMR que correram em Le Mans naquele ano — um dos três que apareceram nos primeiros treinos de classificação. A decoração ficou a cargo da artista conceitual americana Jenny Holzer, que estampou frases de impacto como “Proteja-me do que eu quero” (Protect me from what I want) e “Você é tão complexo que não reage ao perigo” (You are so complex you don’t respond to danger).

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O Art Car não participou da corrida — apenas dos treinos de classificação — mas os outros dois sim. Um deles abandonou a prova nas horas finais, mas o outro venceu — e ficou na frente de Toyota (uma das favoritas com o GT-One), Audi, Nissan e Mercedes-Benz (que nem terminou a corrida com seus CLR).

O carro seguinte demorou para aparecer — só em 2007. E ele também foi usado para correr, mas de uma forma um tanto diferente: o objetivo da BMW com o conceito H2R era conquistar recordes de velocidade para carros com motor a hidrogênio.

Para isso, ele tinha um V12 de seis litros baseado no motor a gasolina do sedã 760i que, com comando duplo VANOS nos cabeçotes, produzia 290 cv. Era o suficiente para garantir a velocidade máxima de 301,95 km/h.

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Depois que o carro cumpriu seu papel, o artista dinamarques Olafur Eliasson e sua equipe removeram a carroceria de compósito do carro e colocaram em seu lugar uma intrincada estrutura feita de barras de metal brilhantes. Depois, tudo foi coberto com camadas de gelo, criadas com água pulverizada ao longo de dias. O Art Car ficou exposto em uma sala com temperatura controlada entre 2007 e 2008.

Dois anos depois, uma pausa nas corridas — o Art Car da vez foi um BMW Z4. E, na verdade, o carro foi o “pincel” usado para pintar com cores primárias (vermelho, amarelo e azul) uma tela do tamanho de um campo de futebol. Os pneus ficaram coloridos e os respingos acabaram colorindo também a carroceria.

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“Para mim, o uso de um pincel não-tradicional como um carro de alto desempenho (no caso, o BMW  Z4, que havia acabado de ganhar uma nova geração) é uma ótima maneira de investigar a relação entre emoção, tecnologia e criatividade industrial”, comentou o sul-africano Robin Rhode que, com sua equipe, executou o projeto em 12 horas.

O mais recente Art Car encerra — por ora — um ciclo que começou com um carro de corrida usando outro carro de corrida. Trata-se do BMW M3 E92 GT2 — bólido de competição que correu em várias provas de longa duração em 2010, incluindo as 24 Horas de Le Mans em 2010.

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Na corrida daquele ano, um dos carros foi o escolhido para ser o Art Car de nº 17. A arte ficou a cargo do artista americano Jeff Koons, que se inspirou na velocidade, nas cores e nas explosões do automobilismo para criar uma arte gráfica de linhas retas coloridas sobre um fundo preto — como os rastros de luz em uma corrida noturna. Faz sentido, porque o maior espetáculo de uma corrida de longa duração como Le Mans acontece à noite.

Koons trabalhou intensivamente em conjunto com a equipe de aerodinâmica da BMW Motorsport a fim de garantir que o carro estivesse pronto a tempo para a corrida, utilizando-se dos recursos da equipe para implementar sua arte em perfeita harmonia com os elementos funcionais do carro. A apresentação do carro finalizado aconteceu durante um evento fechado, com 300 convidados.

Esta playlist traz todo um mini-documentário, em cinco partes de um minuto cada, documentando o processo de criação do M3 GT2 Art Car

O carro, de nº 79 participou da edição de 2010 da corrida em La Sarthe ao lado de outro M3 GT2 — o de nº 78. Enquanto este chegou ao fim da corrida na 19ª posição depois de 320 voltas, o Art Car não terminou a corrida, sucumbindo a uma falha no sistema de alimentação. Como obra de arte, porém, ele é sem dúvida um dos Art Cars mais bonitos em quatro décadas de história.

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Não leu a primeira parte dessa história? Então clique aqui