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Sessão da manhã

Climb Dance: o melhor vídeo de subida de montanha de todos os tempos

É claro que sabemos que, quando se trata de qualquer forma de arte, o conceito de melhor ou pior é totalmente subjetivo. Acontece que, ao falar de Climb Dance, o vídeo produzido pela Peugeot e protagonizado pelo “Finlandês Voador” Ari Vatanen e o Peugeot 405 T16 subindo Pikes Peak, no Colorado, é difícil resistir à tentação de chamá-lo de “o melhor vídeo de hillclimb de todos os tempos” mesmo 26 anos depois de ele ter sido lançado.

Decidimos prestar esta homenagem a Climb Dance, também, porque há alguns dias fizemos uma seleção de vídeos de subida de montanha matadores e esta pequena obra prima não estava lá. De qualquer forma, foi uma boa coisa, pois este vídeo é tão especial que merece um post dedicado só para ele.

Climb Dance é um representante gearhead do chamado cinéma vérité, gênero da sétima arte que é dedicado, como o nome diz, a documentar a realidade de forma artística e provocadora, fazendo uso de ângulos ousados, trilha sonora envolvente e pouco (ou nenhum) diálogo.

climbdance

O curta, dirigido por Jean Louis Mourey, foi gravado durante a edição de 1988 do Pikes Peak Hillclimb. Naquele ano, a Peugeot contratou Ari Vatanen para tentar quebrar o recorde na subida de montanha, que é uma das mais importantes do mundo – se não for a mais importante.

Os franceses tinham motivos para confiar em Ari “Dear God” Vatanen: em 1984, ele ajudou a Peugeot a conquistar o título de construtores do WRC (feito que foi repetido em 1986). Além disso, com um currículo que já incluía um título de pilotos em 1981, com o Escort RS1800, Vatanen tinha experiência o suficiente para que a Peugeot apostasse nele. Só precisava da ferramenta certa.

Ela veio: o Peugeot 405 T16 foi feito usando toda a experiência adquirida com o programa do 205 T16 feito para o Grupo B, a divisão de competição da companhia criou um carro de competição. Apesar do nome do sedã médio da Peugeot nos anos 1980, era totalmente novo.

Os painéis da carroceria eram feitos de Kevlar e fibra de carbono, e colocados sobre uma estrutura de chapas e tubos de aço. A suspensão era independente nas quatro rodas, com braços sobrepostos do tipo “duplo-A” e amortecedores duplos. No total, o carro pesava 880 kg, e tinha a sua disposição os 600 cv do motor 1.9 turbo XU9T – levados para as quatro rodas através de um bom e velho câmbio manual de seis marchas.

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Isto sem falar no exagerado conjunto aerodinâmico, com um splitter frontal gigantesco e uma asa traseira maior ainda, necessários para garantir downforce suficiente para que o 405 não decolasse.

Com ele, o finlandês conseguiu o tempo recorde de 10:47,220. No ano anterior, Walter Röhrl havia virado 10:47,850 com o Audi Quattro S1.

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O próprio Ari Vatanen lembra, em seu site, como o 405 T16 era um carro doentio:

“A aceleração do carro no asfalto (0 a 200 km/h em 10 segundos) me fazia pensar ‘deve ser assim a sensação de ser catapultado do convés de um porta-aviões'”, conta o finlandês. “Assistindo ao Climb Dance você consegue me ouvir negociando com a embreagem. Era preciso fazer isso para manter o turbo operando com pressão suficiente. Se eu reduzisse, as quatro rodas girariam em falso loucamente. Quando eu era jovem, tinha que usar a embreagem porque faltava potência, mas agora eu tinha potência demais!”

Ele não estava mentindo. Cada segundo capturado pelas câmeras usadas no filme mostram como o carro parecia não querer ser controlado, apontando o bico para a beira do precipício o tempo todo enquanto rasgava a superfície cheia de pedras e poeira, e exigindo reações imediatas, violentas e precisas ao mesmo tempo, do piloto – naqueles tempos Pikes Peak ainda não era asfaltada. Não que hoje, com asfalto cobrindo todos os 20 km do trajeto, a montanha não seja desafiadora, mas certamente não teríamos uma demonstração de pilotagem tão intensa se Climb Dance tivesse sido gravado atualmente.

Mas agora chega de papo. Dê o play, coloque fones de ouvido (recomendamos fortemente) e aprecie.

Esta versão remasterizada em HD foi encomendada pela Peugeot em 2013, para comemorar a volta da equipe de fábrica a Pikes Peak. Com Sébastién Loeb ao volante do 208 T16 Pikes Peak – este, outro monstro com seu V6 biturbo de 887 cv – a Peugeot conseguiu outro recorde: 8:13,878, tempo que ainda não foi superado.

A Peugeot ainda usou o 405 T16 em competições por alguns anos: em 1989, Robby Unser venceu novamente em Pikes Peak, com um tempo de 10:40,340; e em 1989 e 1990 a Peugeot garantiu vitórias no Rali Dakar – a primeira com Vatanen e Bruno Berglund, e a segunda com Vatanen e Jacky Ickx.

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Contudo, a maior lembrança será mesmo de 1988, quando o finlandês levou o Peugeot 405 T16 para dançar nas montanhas.