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Técnica

Como o criador do McLaren F1 quer revolucionar a fabricação de carros

Gordon Murray é o cara por trás do Brabham BT46 “fan car”, o projetista do primeiro F1 turbo a conquistar um título mundial, idealizador do conceito aerodinâmico do McLaren MP4/4 e o pai do McLaren F1, considerado por muitos o supercarro definitivo. O que mais alguém com esse currículo poderia querer? Curtir uma merecida aposentadoria como um dos maiores gênios do design automotivo? Nada disso: Murray agora pretende revolucionar a forma de fabricar carros.

Você talvez se lembre de um carro compacto e urbano para três pessoas no qual Murray estava trabalhando há algum tempo, o T-27. Foi com o desenvolvimento deste carro, menor que um smart ForTwo e com espaço para um passageiro a mais, que Murray desenvolveu o método de fabricação batizado iStream.

O nome não é estranho? Não, você não o ouviu em um lançamento da Apple, mas sim na apresentação do cupê conceitual da Yamaha no Salão de Tóquio, o Sport Ride, que poderá ser construído com esse método.

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Mas afinal, que raios é esse tal iStream? O que ele tem de tão diferente e revolucionário em relação aos métodos de produção convencionais? Para começar, demos uma olhada no site do iStream, que diz o seguinte:

“O iStream combina tecnologia de ponta em materiais de baixo peso, baixo consumo de energia e locais de produção flexíveis para entregar um novo processo de produção, capaz de produzir veículos inovadores e avançados. Ele maximiza os benefícios da tecnologia de construção de baixo peso da Fórmula 1, sem seus custos associados proibitivos, para criar um processo de produção de baixo investimento e emissões.”

Bem… então o sr. Murray encontrou uma forma de aplicar a construção dos carros de F1 em grande escala e por uma fração do preço? Quase isso.

Em seu processo o chassi do carro é construído com tubos de aço por meio de um processo totalmente automatizado. Os tubos são cortados, dobrados e soldados para formar a estrutura básica do carro, chamada iFrame.

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Em seguida essas estruturas recebem painéis de fibra de vidro ou de carbono compostos por um sanduíche de lâminas com um preenchimento tipo colmeia (honeycomb).

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O sistema “honeycomb” não é novidade — ele já é usado na F1 há muito tempo pois é mais forte, mais rígido, e também absorve mais energia que alumínio ou aço. A diferença para os iPanels está no baixo custo de produção, obtido pela forma de construção e composição desses painéis: eles usam uma matriz de baixo custo e cura rápida, e são prensados já com o formato final exato. Esse processo permite a produção de painéis com curvatura ou geometria complexa (como vincos ou estruturas de reforço) em grande volume.

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Os painéis então são montados e colados à estrutura básica do carro em menos de dois minutos, formando um monobloco leve e de baixo custo, e mais versátil que as atuais plataformas.

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Além disso, é possível fabricar vários tipos de veículos na mesma linha de produção e usando a mesma plataforma básica pois as mudanças podem ser feitas rapidamente, bastando apenas reposicionar os tubos de aço da estrutura inicial.

O site oficial do iStream mostra como exemplo uma plataforma que pode ser usada para um carro compacto para dois ocupantes, um cupê de dois lugares, um carro familiar para quatro pessoas, um SUV e uma van.

Além do Sport Ride, a parceria de Murray com a Yamaha também resultou em um outro modelo conceitual proposto para ser construído por esse método, o Motiv, apresentado em fevereiro deste ano. Contudo, por enquanto estes dois modelos ainda estão longe da linha de produção.

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Mas isso não significa que o iStream demorará para ser colocado em prática. Lembra que a TVR anunciou seu retorno e um novo carro com motor Cosworth e o envolvimento de Murray? Pois o esportivo poderá ser o primeiro carro produzido com o iStream. Além disso, há outras cinco fabricantes negociando com Murray formas de desenvolver seu carro usando o processo iStream.

De nossa parte, torcemos para que o negócio funcione e resulte em carros leves, divertidos e, acima de tudo, baratos. E caso nada disso saia do papel, quem se importa? Um cara como Gordon Murray tem crédito de sobra para arriscar.