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De volta ao espaço: como funciona a SpaceX Dragon 2

O último final de semana foi marcado por um acontecimento histórico em meio à crise em precedentes pela qual estamos passando: o lançamento da Dragon 2, primeira espaçonave tripulada de uma empresa privada a chegar à Estação Espacial Internacional (ISS) na órbita terrestre. Ela pertence à SpaceX, companhia fundada em 2002 por Elon Musk com o objetivo final de viabilizar a colonização de Marte em um futuro não muito distante. Ainda estamos longe – afinal, são 54,6 milhões de quilômetros de distância entre nós e o Planeta Vermelho. Mas toda longa jornada precisa de um início.

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Além de ser o primeiro voo particular tripulado para a órbita terrestre, a missão da Dragon 2 é a primeira espaçonave tripulada lançada pelos Estados Unidos em nove anos, desde a aposentadoria do ônibus espacial Space Shuttle em 2011. De lá para cá, a evolução na tecnologia espacial foi gigantesca – ainda mais considerando que o ônibus espacial realizou sua primeira missão tripulada em 1981, sendo reconstruído e aperfeiçoado a cada nova missão pelas três décadas seguintes. A importância do ônibus espacial é tremenda – ele foi utilizado no lançamento de telescópios, incluindo o Hubble; de inúmeros satélites orbitais e sondas interplanetárias; e também na construção e manutenção da própria ISS. Mas a Dragon 2 é um veículo espacial menor, mais moderno e mais eficiente.

 

 

A nave

A Dragon 2 é a sucessora da espaçonave Dragon 1, que fez seu primeiro voo orbital em dezembro de 2010. A Dragon 1 é uma nave de carga, capaz de transportar até 6.000 toneladas para a Estação Espacial, e mais de 3,3 toneladas de carga volta para a Terra, sendo a única espaçonave em serviço atualmente que é capaz de retornar ao planeta trazendo equipamentos e amostras. O projeto da Dragon 2 é uma evolução da Dragon 1 adaptado para o transporte de astronautas – até sete pessoas, embora as missões da NASA sejam limitadas a quatro pessoas por questões de segurança e utilização de recursos.

Assim como a Dragon 1, a Dragon 2 é foi concebida para ser lançada ao espaço à bordo do foguete Falcon 9, também operado pela SpaceX e movido por um motor Merlin 1D, que queima RP-1 (querosene refinada) e oxigênio líquido. Com impulso de 1,71 milhões de lb.f (o que dá aproximadamente 236.000 kgfm de torque, usando uma conversão simples), o Falcon 9 tem capacidade para levantar até 22.800 kg de carga.

Isto é bem mais do que pesa a Dragon 2, que tem peso seco (sem fluidos, carga ou ocupantes) de 9.525 kg. Embora seja levada para o espaço pelo Falcon 9, a cápsula possui seus próprios motores – quatro pares de motores SpaceX SuperDraco, redundantes para o caso de alguma falha. Eles são capazes de operar por meses depois de abastecidos com uma mistura de metil-hidrazina e tetróxido de nitrogênio, e geram juntos um impulso de 71 kN (o equivalente a 2.212 kgfm).

Além de serem utilizados na aterrissagem da Dragon 2, conferindo à nave a capacidade de pousar com a mesma precisão de um helicóptero, eles também permitem que ela se desloque a pelo menos 500 metros por segundo para afastar-se do foguete em caso de emergência, como uma explosão iminente. A câmara de combustão dos motores é feita de Inconel (superliga com base em níquel, cromo e ferro) impresso em 3D. É graças a estes motores que a Dragon 2 pode pousar em qualquer lugar no planeta, sem a necessidade de contar com um mergulho no oceano – e com a possibilidade de ser reutilizada.

A capsula em si é revestida com um escudo de calor feito de PICA-X (Phenol Impregnated Carbon Ablator), que é basicamente fibra de carbono com resina de fenol e formaldeído – um material cujo custo de produção é dez vezes menor que o utilizado nas missões anteriores da NASA e igualmente eficaz. Por fora, a Dragon 2 tem o formato de um cilindro com um cone no topo – e este cone é capaz de acoplar-se imediatamente à Estação Espacial Internacional de forma autônoma.

 

Por dentro

É claro que, apesar das capacidades autônomas, a SpaceX Dragon 2 tem como grande diferencial o fato de ter uma tripulação. Esta vai acomodada de forma relativamente confortável em um cockpit com bancos de fibra de carbono revestidos com Alcantara e um quadro de instrumentos digital com telas sensíveis ao toque que mostram a situação da espaçonave em tempo real.

Além disso, quatro janelas permitem que os tripulantes observem a paisagem especial diretamente. A temperatura ambiente é mantida entre 18°C e 26°C e, segundo a SpaceX, pode ser controlada pelos astronautas com a mesma facilidade de um termostato doméstico.

Curiosamente, porém, não foram divulgadas informações sobre a forma como os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley vão “ao banheiro” na Dragon 2 – um dos representantes da companhia disse que fica “perto do topo da cápsula”, mas sempre que algum veículo da imprensa questiona a respeito, o entrevistado se esquiva ativamente da pergunta.

 

A missão

Chamada Demo-2, a missão tem como figuras centrais os astronautas Douglas Hurley e Robert Behnken, dois dos membros mais experientes da equipe de astronautas da NASA. Hurley tem 53 anos de idade e já passou 28 dias e 11 horas no espaço. Behnken tem 49 anos e já passou 29 dias e 12 horas em órbita, incluindo 37 horas de caminhada espacial – ou seja, livre no espaço, fora de um veículo ou da estação.

Em 30 de maio (último sábado), o dia Centro Espacial Kennedy, no Cabo Canaveral, Flórida, começou às 9h da manhã (horário local) – foi quando os astronautas acordaram e começaram a se preparar para o lançamento. Eles passaram por um briefing às 12h55 e, vinte minutos depois, chegaram ao Pad 39A, de onde o Falcon 9 faria sua decolagem. Esta aconteceu às 15h22, exatamente horário programado com semanas de antecedência. A chegada à Estação Espacial Internacional aconteceu após 19 horas de voo, com o acoplamento acontecendo às 10h16 da manhã do dia 31 de maio.

O objetivo agora é retornar à Terra – embora ainda não tenha ficado claro quando isto vai acontecer. É fato que a Dragon 2 tem a capacidade de permanecer até 210 dias no espaço, e em breve saberemos quando Hurley e Behnken irão retornar. Quando isto ocorrer, eles provavelmente pousarão em algum lugar da costa da Flórida, onde aguardarão a chegada de uma embarcação para buscá-los.

A missão é o último passo para que a Dragon 2 seja homologada para missões de longa duração na Estação Espacial Internacional, abrindo caminho para jornadas mais além – como o programa Artemis, que começará em 2024 com o retorno da humanidade à Lua. Marte virá depois, se tudo correr bem.