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Car Culture

Dodge Demon: tudo o que já sabemos (e o que não sabemos) sobre o novo muscle car americano

Logo nos primeiros dias de 2017 a Dodge garantiu o título de lançamento mais aguardado do ano ao anunciar que está preparando uma versão ultra-radical de arrancada para as ruas do Challenger: o Dodge Challenger SRT Demon. Não foi preciso dizer nenhum número, tampouco mostrar algum detalhe do esportivo. O retorno do nome Demon deixou claro que algo grandioso está por vir.

O problema é que a Dodge levou o atual método de lançamento de carros a um outro nível, divulgando informações em doses homeopáticas ao longo de 14 semanas — as 14 semanas que separam a data que o carro foi anunciado pela primeira vez do dia 12 de abril, quando ele será revelado no Salão de Nova York.

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Enquanto o dia 12 não chega decidimos juntar tudo o que sabemos sobre o Dodge Challenger Demon em um só post para facilitar sua busca por informações sobre o monstro e também para concentrarmos a discussão nos comentários deste post.

Vamos lá.

 

Ele estará em “Velozes e Furiosos”

Em dezembro de 2016, antes do anúncio do Demon, a Universal pictures lançou alguns teasers do novo “Velozes e Furiosos 8”, oficialmente chamado “The Fate of The Furious”. Nestes vídeos vimos alguns Dodge Challenger com para-lamas salientes, rodas enormes e pneus borrachudos. Como se trata de um filme com carros customizados, eles pareciam apenas uma versão mais agressiva feita somente para as telas, como o Challenger Luxz, que aparece neste vídeo.

Mas não era o caso: em um vídeo de Vin Diesel discursando para a equipe do filme, divulgado em janeiro, os carros foram exibidos “sem querer”. Os logotipos nas laterais deixavam claro que aquele se tratava do novo Demon. Além disso, a estreia do filme acontecerá dois dias depois da estreia do carro. Não é coincidência.

 

Ele será quase 100 kg mais leve que o Hellcat

A Dodge já deixou claro que pretende transformar o Demon em um supercarro de arrancadas, um ícone tipicamente americano. Para isso, ele passará pela mesma dieta que qualquer carro de pista precisa adotar para ficar mais leve. A redução de peso inclui a adoção de rodas de liga super leve, barras estabilizadoras de alumínio, mangas de eixo e braços de suspensão de liga leve, remoção do banco traseiro e do banco do passageiro, adoção de ligas de aço de alta resistência no habitáculo, prisioneiros de roda de material leve (titânio?), pinças de freio de liga leve e barra estrutural do painel de instrumentos feita de alumínio. Ele também não terá ajustes elétricos no banco do motorista, nem nos retrovisores e muito menos ar-condicionado (este último será um opcional sem custo, assim como o banco do passageiro).

Reduza a velocidade do vídeo e acompanhe os componentes destacados

Com isso ele será mais de 90 kg mais leve que o Hellcat, que pesa colossais 2.030 kg. Ainda não há detalhes de quanto cada pedaço arrancado do Challenger ajudou a reduzir seu peso, mas sabemos que as rodas de liga super-leve de 18×11 polegadas são 7,2 kg mais leves; o ajuste da coluna de direção deixou de ser elétrico para eliminar mais 1,8 kg; a remoção de boa parte do isolamento acústico eliminou mais 8,1 kg; e a remoção do revestimento do porta-malas e do estepe eliminou mais 9,1 kg. Os bancos eliminam mais 51 kg.

 

Ele terá visual próprio

Não é muito fácil distinguir os Challengers se você não é iniciado no universo Mopar. Além das versões do Challenger, ainda há os pacotes opcionais que modificam o visual de cada uma destas versões deixando-as muito parecidas ou até idênticas dependendo do pacote escolhido.

O Demon, contudo, terá um visual próprio. Ele será diferenciado à primeira vista por seus para-lamas salientes, que alargaram o carro em quase 10 cm. Além disso, o scoop único no capô (o Air Grabber, sobre o qual vamos falar mais adiante) e as enormes rodas de 18×11 polegadas também serão exclusivas do modelo. A Dodge quer que todos tenham certeza de que estão diante do demônio quando esse carro chegar na drag strip.

 

Ele terá uma caixa com equipamentos de arrancada

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Para se tornar um verdadeiro rei das retas de arrancada, a Dodge decidiu entregar o Demon com uma caixa de equipamentos próprios para a pista. A caixa inclui ferramentas da marca Snap-On com a marca Demon — um “jacaré” hidráulico, uma parafusadeira de impacto a bateria, um torquímetro e um calibrador — uma capa de proteção para o para-lamas (para você não riscar o carro enquanto trabalha no motor) e também uma bolsa de ferramentas.

Também haverá um par de rodas dianteiras mais estreitas que as originais do carro. Como sabemos, carros de arrancada usam pneus mais estreitos na dianteira para não gerar arrasto, então a ideia aqui é que você as instale quando chegar na drag strip, transformando as rodas originais com pneus 315 em um par reserva para a traseira no seu dia de arrancadas.

A Dodge também falou em um certo “track system” que será uma ECU auxiliar para o motor, com mapeamento específico para uso em pista e que permitirá o uso de combustível de competição, com octanagem superior a 100.

 

Sim: ele poderá usar gasolina de competição

No Brasil carros de arrancada normalmente usam etanol como combustível. O motivo é simples: a octanagem equivalente do combustível vegetal é superior à das gasolinas mais avançadas, o que significa que você pode usar taxas de compressão mais elevadas — é por isso que motores a Etanol produzem mais potência que motores similares a gasolina.

Nos EUA existe o chamado “racing fuel”, que é uma gasolina de alta octanagem (geralmente superior a 100)  que resiste a taxas de compressão elevadas e mapeamentos de ignição agressivos sem detonar. Normalmente carros de passeio não têm mapas ou taxas de compressão estáticas para essa gasolina porque, afinal, não faz sentido usar combustível de competição para ficar parado no trânsito. Mas a proposta do Demon é diferente: ele pretende ser um carro que pode ficar parado no trânsito a caminho da drag strip onde ele irá competir no fim de semana, então a Dodge encontrou uma forma de fazê-lo rodar com gasolina de competição.

The high-octane (HO) engine calibration includes an HO fuel butt

Para isso ele usará uma ECU auxiliar que será entregue junto com a caixa de maldades para a drag strip. Você a instala e ativa o modo de alta octanagem por meio de um botão no painel. O mapeamento só pode ser ativado se os sensores de detonação detectarem que o motor foi abastecido com gasolina de competição, caso contrário nada feito. Uma vez ativado, ele só será desativado quando o motor for desligado. Logicamente um sistema desses não depende apenas de um “remap”, por isso o Demon usará duas bombas de combustível, válvulas injetoras de maior vazão e flauta de combustível de alta pressão.

 

Hiperventilação

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Normalmente pensamos muito no combustível quando se fala em performance movida a combustão e acabamos esquecendo a outra parte da queima, tão importante quanto a gasolina. O mestre Aurelio Lampredi dizia que motores não bebem, eles respiram. Sim: a produção de potência precisa de combustão, que por sua vez precisa de combustível e comburente. Mais ar, mais combustível, mais centelha resulta em mais potência.

Por isso o Demon terá um compressor maior que aquele usado por seu irmão felino-bestial, que precisará ser alimentado por uma massa de ar muito maior. Felizmente o ar está em todo lugar abaixo da linha Kármán, basta encontrar meios de capturá-lo em abundância. O que a Dodge fez foi adotar não um, mas dois air catchers — aqueles dutos de admissão na parte central do farol mais interno do Challengerque alimentam um par de coletores de ar frio (CAI). Só isso já dobraria a capacidade de admissão do Demon em relação ao Hellcat (que tem só um ar catcher e um CAI).

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Mas a Dodge foi além e complementou a captura de ar com um scoop no capô, batizado Air Grabber em referência ao scoop dos Dodge e Plymouth dos anos 1960 e 1970. Esse scoop tem três divisões internas, sendo um par de dutos que também direcionam o fluxo de ar para os CAI, e uma seção centralizada que ajuda a arrefecer o cofre do motor — afinal, um dos efeitos colaterais da produção de quantidades copiosas de potência é a produção de calor. Essa seção central deverá ter uma persiana elétrica interna que se abrirá ou fechará de acordo com a necessidade de arrefecimento/otimização do fluxo aerodinâmico — exatamente como o Air Grabber dos anos 1960-70.

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Por último, ele terá os mesmos para-choques dianteiros do Hellcat, o que significa que ele ainda terá três tomadas de ar que irão ajudar a arrefecer freios e direcionar o fluxo de ar para o radiador do motor e os dois radiadores do sistema de intercooler/aftercooler.

 

Mas… e a potência?

Bem, sabemos que ele terá mais potência devido às modificações no sistema de admissão. Também nos parece evidente que ele terá um compressor de maior volume cravado no V do motor Hemi, mas até agora não há a menor pista sobre qual será a potência máxima do Demon. A estimativa mais plausível — e o número mais recorrente nos enigmas da Dodge — é 757 hp, ou 767 cv. Mas não será só isso.

Each Demon Crate is personalized for its owner with a serialized

Serial 0757: seria 757 hp?

O Dodge Demon terá três níveis de potência diferentes, que variam de acordo com o modo de condução selecionado. A Dodge deixou isso claro ao apresentar seu Performance Pages (o sistema de registro de dados de desempenho) para o Demon. Ele terá três modos de condução — Drag, Custom e Auto — e em cada um deles a potência exibida varia: XXX no primeiro, XYZ no segundo e YYY no terceiro.

É possível que 757 cv seja a potência no virabrequim (bhp) no modo mais comportado (Auto). O modo drag permitirá usar o mapeamento mais hardcore para produzir um caminhão de potência com a gasolina de alta octanagem. Aliás, o vídeo também mostra que os modos irão atuar sobre os amortecedores adaptativos, sobre o diferencial blocante eletrônico e nos tempos de troca da transmissão.

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O torque pode ter sido revelado em um teaser que mostrava uma marca diferente nos pneus 815/40 R18. 815 lb ft são 112,4 mgkf. Será esse o torque máximo no modo drag? Pode ser ainda que P815 seja “power 815” — 815 hp/826 cv e o 757 seja o torque máximo do carro — 757 lb ft ou 104,4 mkgf.

 

 

Ele terá ar-condicionado para o motor

Motores grandes produzem muito calor. Motores sobrealimentados produzem ainda mais calor. Motores acelerando em arrancadas esquentam ainda mais. Agora imagine tudo isso acontecendo de uma vez só e você logo chegará à conclusão de que o Demon precisaria gastar boa parte do seu tempo em pista para arrefecer o motor antes de mais uma puxada brutal.

A Dodge também percebeu isso e é por isso que ele terá o sistema air-grabber, que abrirá uma persiana na tomada de ar central do capô e ajudará na admissão de ar fresco para o cofre. Mas isso ainda demandaria muito tempo, então a Dodge decidiu usar algo mais rápido: o ar-condicionado do carro para resfriar a temperatura do ar admitido a até 7,2º C, permitindo não apenas um ganho expressivo de potência para a arrancada, como também o resfriamento rápido do motor e compressor, possibilitando arrancadas consecutivas sem perda de desempenho.

 

 

Ele terá “reserva de torque” e trans brake

Normalmente, quando você acelera um motor supercharged em ponto morto ou com o carro parado, parte da pressão produzida pelo compressor é aliviada pela válvula bypass. Mas como o Demon é um carro de arrancada, ele precisa do máximo de torque possível nos primeiros instantes de aceleração.

Por isso a Dodge desenvolveu uma programação que permite que o compressor do motor atinja uma pressão maior de trabalho antes da arrancada. Assim, quando o carro inicia sua arrancada a pressão de trabalho estará mais elevada, resultando em mais potência e torque logo no início da faixa de rotações e atingindo a pressão máxima em menos tempo.

O sistema funcionará em conjunto com o freio de transmissão (trans brake), um sistema usado em carros de arrancada para permitir que o motorista gire o motor à rotação ideal com o câmbio engrenado sem a necessidade de frear o carro. O Demon será o primeiro carro produzido em série a ser equipado com um trans brake de fábrica.

O piloto/motorista posiciona o câmbio em Drive e ativa o sistema mantendo uma das borboletas do volante pressionadas. Em seguida ele pode segurar a aceleração a até 2.350 rpm sem se preocupar em pisar no freio ou com a possibilidade de o carro começar a andar lentamente. Na hora da largada basta soltar a borboleta para desativar o trans brake. Segundo a Dodge, com o trans brake ativado no momento da arrancada o motor tem 105% mais pressão do compressor e 120% mais torque em relação à largada com o freio pressionado.

O sistema faz parte da suíte de assistências de arrancada que a Dodge deu ao Demon: line lock, controle de largada e trans brake. O primeiro é um sistema desenvolvido para as pistas de arrancada. O line lock freia somente as rodas dianteiras para facilitar os burnouts de aquecimento dos pneus. O controle de largada todos nós conhecemos: ele controla a tração e a aceleração do motor de modo a aproveitar ao máximo torque, potência e tração.

 

Sua transmissão precisou ser reforçada

O cardã do Demon irá aumentar a capacidade de transmissão de torque em 15% usando aço de alta resistência, tubo 20% mais espesso e tratamento térmico nas pontas do cardã. A carcaça do diferencial também foi reforçada para permitir melhor transmissão de torque, usando alumínio A383 com tratamento térmico e engrenagens de aço de alta resistência. Depois, as semi-árvores (ou semi-eixos, como são chamados popularmente) usam ponta de 41 estrias e aumentam a capacidade de transmissão de torque em 20% através do uso de ligas de aço de alta resistência.

Além disso, para eliminar um dos grandes inimigos da tração numa arrancada, o wheel hop (uma trepidação vertical das rodas que faz com que elas percam o contato com o solo momentaneamente), a SRT desenvolveu uma programação para o controle de tração que reduz o torque do motor momentaneamente ao detectar a possibilidade de destracionamento.

 

Ele terá suspensão de pista e amortecedores ajustáveis

O Demon usará amortecedores adaptativos da Bilstein, molas com menos carga nas quatro rodas e barras estabilizadoras menos rígidas nos dois eixos. Soa estranho? É que para conseguir a máxima aderência na drag strip a suspensão precisa ter pouca carga na distensão dos amortecedores dianteiros e pouca carga na compressão dos amortecedores traseiros. Com isso a transferência de peso para a traseira será maior, proporcionando mais aderência para a arrancada.

Normalmente esse tipo de ajuste compromete a estabilidade lateral do carro — ele fica sem muita precisão para apontar nas mudanças de direções/entradas de curvas. É por isso que, embora não tenha dito explicitamente, a Dodge certamente desenvolveu um modo de arrancada, que ao ser ativado modifica os parâmetros dos amortecedores adaptativos para as especificações ideais para a drag strip.

Segundo a Dodge, o Demon terá molas com 35% menos carga na dianteira e 28% menos carga na traseira. A barra estabilizadora dianteira é 75% menos rígida e oca, enquanto a traseira é sólida e 44% menos rígida que as originais do Hellcat.

 

Os dilemas da Dodge

Ainda há muita coisa não respondida pela Dodge, mas a fabricante decidiu deixar uma série de dilemas no final de cada teaser. Não conseguimos desvendar nenhum deles pois ainda não temos um matemático na equipe do site, nem um Rain Man para fazer todas as associações numéricas possíveis em um curto espaço de tempo.

O primeiro dilema está na placa do carro no vídeo que revelou os pneus de arrancada:

gallery-1485435743-demon1

#2576@35. O que isso significa? Lembre-se que o @ significa “at” em inglês. Nesse caso, 2576 alguma coisa a 35 alguma coisa.

Depois tivemos dois dilemas de uma vez só. Uma equação na pista do vídeo sobre a suspensão especial, que diz 13,5=575@500:

Third_Law_Version_04_Demonvtbpukg096mie3udbhlbeepm65-620x349

E outra série de fórmulas divulgada no release de imprensa do mesmo vídeo:

Software:

  • Rear = F/F and Front = F/S
  • F/F – F/S maintained @ wide open throttle (WOT)
  • F/F – F/F < WOT
  • Traction control disabled/ESC maintained

Result:

  • 13.5=575@500

Depois a marca lançou um teaser só para mostrar mais um dilema, sem nenhuma revelação sobre o carro:

Captura de Tela 2017-04-08 às 16.53.22

3.9+221=405. Que matemática é essa, Dodge?

Uma semana mais tarde, no vídeo do trans brake, veio mais uma charada de placa:

srt_demon_lockandloadotdh0sq10d4echc7piqk28un2t

8.3+317=534. WTF?

Ao anunciar o sistema de arrefecimento rápido, o teaser mostra um número quase indecifrável na tabela de tempo da drag strip:

srt_demon_teaser_hotcoldij5jubf73tkbbnhd2gdlacj1vd

As telas do performance pages também parecem esconder alguma mensagem nos números do relógio e da temperatura, além dos dados de desempenho:

Captura-de-Tela-2017-03-09-às-12.49.52