FlatOut!
Image default
História

Dos carros de controle remoto ao título mundial de rali: a trajetória de Petter Solberg | Lendas do WRC

Muito se fala (aqui no FlatOut, inclusive) sobre o talento natural dos pilotos finlandeses – principalmente, porém não exclusivamente, para os ralis. Mas a Lenda do WRC sobre a qual vamos falar hoje vem de outro país nórdico: a Noruega – país que faz fronteira com o norte da Finlândia e com o oeste da Suécia. A Noruega é conhecida mundialmente pelo fenômeno natural do “sol-da-meia-noite”, que deixa o Sol visível no céu 24 horas por dia por causa da circunferência da Terra; pelas bandas de black metal, subgênero agressivo e rústico do heavy metal; pelo trio de synthpop A-Ha; e pela pesca de bacalhau – o país é um dos maiores fornecedores do peixe salgado do planeta. Mas a Noruega também é a terra-natal de Petter Solberg, um dos maiores e mais conhecidos pilotos de rali da era moderna.

Petter Solberg nasceu em 18 de novembro de 1974. Aos 13 anos de idade, em 1987, Solberg venceu seu primeiro campeonato – uma competição nacional de carros de controle remoto promovida pela Tamiya, a Norwegian Tamiya Cup. Parece pouco, mas os carros de controle remoto mais sofisticados exigem habilidade para serem conduzidos da forma correta. Além disso, foram os R/C que despertaram no jovem Solberg o interesse pelo automobilismo com carros de verdade. Quer dizer, isto e o hobby de seu pai, Terje, e sua mãe, Tove Solberg: eles eram pilotos de bilcross – uma versão de baixo orçamento das provas de ralicross, parecida com a Jokamiesluokka finlandesa, ou com a folk race sueca, com carros baratos, disputadas em estradas de terra.

Enquanto era novo demais para pilotar, Petter Solberg ajudava os pais na construção dos carros. Em 1992 ele entrou em sua primeira competição de bilcross – três dias depois de completar 18 anos de idade, e apenas um dia depois de tirar sua carteira de habilitação. Três anos depois ele já era campeão nacional norueguês de rallycross e hillclimb. Nas subidas de montanha, aliás, Petter mostrou-se um talento imbatível: em 1995 ele venceu 19 das 21 etapas do campeonato, e em 1996 venceu 15 das 19 etapas.

Também foi em 1995 que Petter Solberg participou de seu primeiro rali de verdade – o Norwegian Rally Bjørkelangen, ao volante de um Volvo 240 em uma categoria específica para os carros da marca. Foi quando ele soube que queria seguir fazendo aquilo pelo resto de sua vida. Em 1996 e 1997, Solberg correu em provas nacionais com o Toyota Celica Turbo 4WD, conquistando sua primeira vitória no Rally Solør em agosto daquele ano.

Em uma ascensão absurdamente rápida, na temporada de 1998 do Campeonato Norueguês de Rali, Petter Solberg conquistou seu primeiro título – novamente com o Toyota Celica, em sua versão GT-Four. O desempenho de Solberg chamou a atenção da Ford, que ofereceu a ele um contrato como piloto reserva para a temporada de 1999.

Entre seus colegas de equipe na Ford estava Colin McRae, um dos maiores pilotos de rali do planeta àquela altura, recém saído da Subaru. A passagem de McRae pela Ford, como contamos no post dedicado a ele, foi sem brilho e marcada por problemas mecânicos. Solberg, por outro lado, terminou na quinta colocação em sua segunda prova – nada menos que o Safari Rally, no Quênia, uma das mais desafiadoras etapas do campeonato.

A temporada de 2000 começou com Petter Solberg ainda na Ford, e foi assim até a 10ª etapa – quando, insatisfeito com os termos do contrato, o piloto decidiu mudar de equipe e assinou com a Subaru. Os pilotos principais eram Richard Burns e Juha Kankkunen. Solberg disputou as quatro últimas etapas do campeonato – e, ao final deste, substituiu Kankkunen como colega de Burns.

Em sua primeira temporada cheia por uma equipe de elite, Petter Solberg teve como melhor resultado um segundo lugar no Rali da Acrópole, na Grécia, a sétima etapa do campeonato – seu primeiro pódio no WRC. Ele poderia ter conseguido um resultado como este antes, mas voluntariamente cedeu seu lugar a Richard Burns em mais de uma ocasião, a fim de ajudá-lo a conquistar o título naquele ano.

Em 2002 foi a vez de Richard Burns deixar a Subaru, sendo substituído o Tommi Mäkinen. O finlandês, tetracampeão pela Mitsubishi – com quatro títulos consecutivos entre 1996 e 1999 – fez uma temporada mediana pela equipe das Plêiades, com uma única vitória em Monte Carlo, a primeira etapa. Quem brilhou mesmo foi Petter Solberg, que embora tenha conquistado sua primeira vitória na última etapa, o Rali da Grã-Bretanha, apresentou desempenho extremamente consistente, subindo ao pódio quatro vezes e pontuando em nove das 14 etapas. Ao fim da competição, Petter Solberg foi o segundo colocado, atrás apenas do finlandês Marcus Grönholm.

Foi em 2003, porém, que Petter Solberg atingiu o auge de sua carreira como piloto no WRC, conquistando seu primeiro título. Não que tenha sido fácil: aquele ano foi o primeiro no qual o francês Sébastien Loeb disputou uma temporada completa, e ele já dava sinais de que seria o maior vencedor da década. Para começar, Loeb venceu em Monte Carlo, o primeiro evento do ano, enquanto Solberg teve de abandonar a prova depois de um acidente – ambos, aliás, compartilham o mesmo estilo de pilotagem suave e preciso.

Nas etapas seguintes, Solberg e Loeb disputaram ponto a ponto a liderança no campeonato. Ambos subiram ao pódio sete vezes mas, com quatro vitórias contra três do piloto da Citroën, Petter Solberg levou o título para casa com 72 pontos. Sébastien Loeb terminou o ano com 71 pontos.

Nos anos que se seguiram, como é bem sabido, Loeb simplesmente monopolizou o campeonato mundial de rali, conquistando nove títulos consecutivos entre 2004 e 2012, sempre pela Citroën. Mas Petter Solberg – que acabou se tornando o último piloto não-francês a conquistar um título no WRC até hoje – também foi fiel a sua equipe, permanecendo no posto de piloto principal da Subaru até o fim de 2008 – quando a companhia anunciou que sua equipe de fábrica deixaria o Campeonato Mundial de Rali após 28 anos. Todas as vitórias de Petter Solberg no WRC foram conquistadas com a Subaru – 13 delas no total, sedo que a última foi no Rali da Grã-Bretanha de 2005.

Se a Subaru tivesse continuado na competição, talvez Solberg tivesse continuado no time – sua relação com a marca japonesa era excelente e, além de conduzir seus carros de rali, ele ajudou no desenvolvimento de diversas edições especiais do Impreza WRX de rua, a fim de assegurar que seu comportamento dinâmico fosse próximo do que se via nos bólidos de competição.

Solberg não ficou muito tempo sem um carro para correr no WRC, contudo. Em 2009, após pesquisar algumas opções, ele decidiu alugar um Citroën Xsara WRC e fundou sua própria equipe, a Petter Solberg World Rally Team. A equipe competiu entre 2009 e 2011 e teve desempenho razoável. Embora não tenha conquistado nenhuma vitória, Solberg conseguiu o terceiro lugar na temporada de 2010, já com o Citroën C4 WRC, subindo ao pódio em oito das 13 etapas.

Petter Solberg ainda correu pela Ford em 2012, ao volante do Fiesta RS WRC, com o qual subiu ao pódio cinco vezes e conquistou o quinto lugar no campeonato.