A Land Rover estima, orgulhosamente, que 80% dos carros que fabricou desde 1948, quando ainda era apenas Rover, continuam na ativa. É possível que nenhum outro fabricante consiga dizer a mesma coisa. Prova de toda essa longevidade é nosso Achado Meio Perdido de hoje, um Land Rover Série 1 1951 aparentemente em perfeito estado. Muitos o chamam de Defender, ainda que o nome só tenha surgido em 1989, para diferenciar os Land Rover 90 e 110 do Discovery. Mais justo seria dizer que, fora uma melhoria ou outra, o Defender é que é um Série 1. Um carro cheio de histórias para contar.
Sua carreira começou em 1948, com apresentação oficial no Salão do Automóvel de Amsterdã. Com chassi de aço, sua carroceria era inteiramente de alumínio por uma razão simples: no pós-Segunda Guerra Mundial, aço andava em falta e só podia ser usado no essencial. De modo colateral, essa seria a principal garantia de sua durabilidade.
O projeto foi criado por Maurice Wilks, designer chefe da Rover. Inspirado no Jeep que tinha em sua fazenda em Newborough, ele criou um protótipo que tinha volante central, à moda McLaren F1, mas a ideia, naquela época, não deu muito certo e o volante voltou para a direita (lembre-se que falamos de um carro feito no Reino Unido).
Criado para ser um modelo único, voltado ao trabalho em fazendas e em fábricas, ele era espartano ao extremo. Sem carpete, sem tapete, sem isolamento acústico. Capota e cobertura para as portas eram opcionais. Vinha até com uma tomada de força (ou PTO – power take off), um dispositivo que permitia conectar a ele implementos agrícolas. Como se fosse um trator, mas com a vantagem de poder ir à vendinha da cidade comprar mantimentos. Máquina de trabalho, mesmo. E foi isso que o tornou tão popular.
Seu painel de instrumentos ficava no meio do console, mas não na linha do para-brisa, como o Toyota Etios. Abaixo dela. Trazia apenas voltagem da bateria, nível do tanque de combustível, velocímetro e hodômetro.
A ideia da Rover era criar um modelo de trabalho para fazer caixa e se manter viva, juntando algum dinheiro para quando o aço voltasse a ser oferecido na quantia necessária. Coisa de dois ou três anos, no máximo. Só que, quando a produção de automóveis se normalizou, o Série 1 vendia tanto que era impossível tirá-lo de linha. O Série 1 vendia mais do que toda a produção de automóveis junta!
Uma das características mais incômodas do carro, a bateção de ombro na coluna B, não existia no Série 1 porque ele era um modelo aberto. Quando surgiu a versão station wagon, isso se evidenciou, mas tinha explicação. A carroceria não poderia passar dos limites externos dos pneus. Ficava rente a eles, para conseguir atravessar espaços estreitos sem danos. E como ele era estreito: tinha apenas 1,55 m de largura.
As demais medidas mostram ainda mais sua vocação para enfrentar terrenos difíceis. Tinha 1,87 m de altura, 3,35 m de comprimento e meros 2 m de entre-eixos. Seu motor era um 1.6 de cerca de 50 cv, com uma transmissão manual de quatro marchas, a mesma do Rover P3, com uma caixa reduzida de duas velocidades.
O sistema de tração nas quatro rodas era inovador e esquisito. Vinha com um sistema de roda livre que desengatava o eixo dianteiro da transmissão manual em velocidades mais altas. Um mecanismo no assoalho do motorista permitia que ele reengatasse o eixo quando achasse necessário.
Em 1950, os faróis deixaram de ficar encobertos pela grade dianteira e passaram a se integrar a elas. Como no Série 1 1951 que encontramos para vender.
Segundo seu dono atual o carro ficou em uma mesma família desde novo até o momento em que ele o adquiriu. Em outras palavras, ele é o segundo dono do veículo. Para um fabricado em 1951, isso é algo realmente raro.
Toda a carroceria está em perfeito estado. O único defeito dele é um retoque no para-lama, nada mais. Nunca foi batido, segundo o atual proprietário.
Como o veículo ficou muito tempo na família que o comprou novo, o vendedor prefere não se arriscar a dizer a quilometragem original. Hoje, seu hodômetro marca 80.000 km, mas isso pode não dizer muita coisa, já que o hodômetro pode ter sido zerado algumas vezes. Pelo estado de conservação do utilitário, poucas, provavelmente.
Os bancos e o carburador do Série 1 não são originais, mas o vendedor ainda tem o carburador que veio com seu Land Rover. Fora isso, todos os demais equipamentos estão como vieram de fábrica.
Sem pendências de documentação, o anunciante pede por sua raridade R$ 38.000. Para quem curte um veterano capaz de enfrentar trilhas como um garoto, este Série 1 é uma belíssima pedida. Basta entrar em contato com o vendedor pelo link abaixo e combinar os caminhos que o levarão até sua garagem.
[ OLX ]
“Achados Meio Perdidos” é o quadro do FlatOut! na qual selecionamos e comentamos anúncios de carros interessantes ao público gearhead, como veículos antigos, preparados, exclusivos e excêntricos. Não se trata de uma reportagem aprofundada e não nos responsabilizamos pelas informações publicadas nos anúncios – todos os detalhes devem ser apurados com o anunciante.