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Estudo mostra que combustível brasileiro é mais barato do que em vários países – será mesmo?

Você acha o combustível brasileiro caro? Pois saiba que, segundo um estudo realizado pela rede de consultoria UHY Moreira, o Brasil tem um dos combustíveis mais baratos do mundo para o consumidor final. Eles chegaram à essa conclusão comparando o custo em dólar para encher o tanque de 80 litros de um Ford Transit em 20 países, considerando também o custo do combustível e a proporção dos impostos no preço final. Mas será que isso significa mesmo que nossos combustíveis são dos mais baratos?

Os países incluídos no estudo foram Dinamarca, Holanda, Reino Unido, Irlanda, Israel, França, Alemanha, Japão, Espanha, Croácia, Romênia, Austrália, China, Canadá, Rússia, EUA, México, Malásia e Emirados Árabes Unidos. No Brasil, os 80 litros de gasolina custam US$ 102,73, ou R$ 227,5, dos quais US$ 54,98 (R$ 121,75) são impostos. Isso coloca o preço no Brasil como o sétimo mais barato deste grupo de 20 países. O preço mais barato é praticado nos Emirados Árabes Unidos, onde o tanque cheio custa US$ 37,6 (R$ 83) e o mais caro é a Dinamarca, onde os 80 litros de gasolina custam US$ 190,8 (R$ 420,7).

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Contudo, a simples conversão cambial direta não significa que nossa gasolina é mais barata para o consumidor final. Por exemplo: alguns analistas prevêem uma disparada do dólar a R$ 2,80 neste ano. Se isso se concretizar, os 80 litros de combustível passarão a custar US$ 81,25, tornando-os mais baratos no universo desta pesquisa, mas isso obviamente não significa que eles ficaram mais baratos na bomba. O inverso aconteceria se a cotação do dólar caísse bruscamente (valorização do Real). Nesse quadro, nossa gasolina ficaria mais cara sem custar mais ao consumidor.

Além disso, a pesquisa considerou a única gasolina oferecida no Brasil, que tem entre 18% e 25 % de álcool anidro em sua composição, enquanto nos países europeus encontra-se desde a gasolina pura, até uma mistura com 5% de etanol como antidetonante. Na Alemanha e na França é possível encontrar gasolina com 10% de etanol, enquanto nos EUA e na Austrália é permitido adicionar até 10% de acordo com a demanda de combustível. A referência é o custo mas, na prática, estamos falando de produtos ligeiramente diferentes.

Custo e poder de compra

Aqui entra também a questão do poder de compra. Será que 420 reais para um Dinamarquês é o mesmo que 420 reais para um brasileiro? Infelizmente, para comparar o poder de compra é preciso levar em consideração uma série de fatores, como o salário mínimo, o índice de preços de alguns insumos básicos, inflação, carga tributária e outros indicadores que apontam o custo de vida — algo que exigiria um estudo extenso feito por empresas de auditoria e consultoria como a própria UHY Moreira. Mas uma comparação rápida do salário mínimo lá e aqui pode dar uma noção de quanto vale a gasolina em cada país.

No Brasil, o salário médio do trabalhador é R$ 1.792, de acordo com o IBGE, equivalente a R$ 10,2 por hora. Na Dinamarca o valor médio praticado, segundo a embaixada dinamarquesa, é de US$ 20 por hora (R$ 45), o que renderia aos dinamarqueses R$ 7.920 (US$ 3.591) em um emprego de oito horas diárias de segunda a sexta. Logo, encher o tanque de um Ford Transit na Dinamarca custa menos de 5% de um salário mínimo, enquanto no Brasil o mesmo tanque custa 13% do salário médio — mais que o dobro da Dinamarca, onde o tanque custa menos que o dobro em valores absolutos. Mas lembre-se: o salário médio não representa o real poder de compra dos países.

Como dito antes, a pesquisa considera também os impostos. Nesse quesito o Brasil fica em décimo lugar entre os 20 países, mas isso não é motivo para comemoração. Um estudo anterior da própria UHY Moreira mostrou que os impostos incidentes sobre a gasolina brasileira estão acima da média mundial. No Brasil, 41,8% do preço da gasolina vão para o governo, enquanto a média internacional é de 36,22%.

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O estudo ressalta também as vantagens de reduzir os impostos sobre os combustíveis — como acontece na Malásia, que subsidia 30% da gasolina e do diesel. Segundo o diretor da UHY, Eric Waidergorn, em declaração ao Estadão, “enquanto o governo da Malásia perde uma grande quantidade de dinheiro por ter um subsídio aos combustíveis, ele argumenta que faz tal contribuição para ajudar no crescimento do PIB do e que está disposto a aceitar a perda. Isso poderia ser um estímulo para o pensamento do governo brasileiro“.

Como se sabe, o preço dos combustíveis influencia diretamente o custo dos bens de consumo e alimentos no Brasil, uma vez que 60% da produção industrial nacional é transportada por rodovias. Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes, a carga tributária é a principal vilã dos preços dos combustíveis — algo que afeta não só a gasolina, mas também o diesel (que é dito subsidiado no Brasil), o que também afeta o custo operacional do transporte coletivo. Ao contrário do que o estudo mostra, nossa gasolina pode ser mais barata em valores relativos para quem mora em outros países. Aqui dentro ela continua cara, e não só no bolso do cidadão, mas para toda a economia do país.

[ Fotos: EBC (abertura), UHY (tabela) ]