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Car Culture

Getaway in Stockholm: como um dos primeiros virais automotivos da internet se tornou um clássico do underground

Estamos quase em 2020 e, se você quiser ver bons vídeos de carros na internet, não faltam opções além do canal do FlatOut. Todos os dias, centenas de canais publicam milhares de vídeos para todo o tipo de gosto – onboards em alta resolução de joyrides em supercarros, documentários independentes, coberturas de eventos, hot laps em autódromos, ou produções puramente estéticas, cheias de belas imagens e com muito ronco de motor. É bom viver nesta época.

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Nos começo dos anos 2000, porém, as coisas eram bem diferentes. A internet estava longe de ser democrática – na cidade onde eu morava, a maioria das casas sequer tinha computador – e, como o Leo comentou neste post sobre o Top Gear, havia poucas opções na televisão. O lançamento de filmes como “Velozes e Furiosos” e o remake de “60 Segundos” supria parte desta necessidade.

Mas foi justamente nesta época que surgiu uma das séries de vídeos sobre carros mais emblemáticas já feitas: Getaway in Stockholm – “Fuga em Estocolmo”, em tradução literal. Mais precisamente, em 2000, quando o primeiro dos dez volumes foi lançado – primeiro em DVD, com distribuição por conta dos próprios produtores. Depois, inevitavelmente, em incontáveis re-uploads na Internet, explodindo em popularidade após o lançamento do Youtube, em 2005. Se você é mais jovem, talvez nem se lembre, mas Getaway in Stockholm foi um dos primeiros virais automotivos da Internet.

Todos os vídeos seguem a mesma premissa: dois pilotos de rua disputam uma corrida ilegal pelas ruas e estradas de Estocolmo, na Suécia, e acabam perseguidos por policiais – que nunca conseguem pegá-los, e geralmente acabam humilhados pelos esportivos. A gravação, considerando a qualidade das câmeras na época, não é das melhores, mas isto acaba acrescentando à pegada realista dos vídeos, que quase não possuem edição ou cortes – apenas algumas vinhetas para dar contexto ou explicar algum aspecto da filmagem.

No total, dez vídeos foram lançados, cada um deles protagonizando um ou mais carros diferentes. E, embora todo o conteúdo esteja disponível na Internet de graça, ainda é possível comprar a coleção completa de DVDs.

Mas, afinal, quem foram (ou são) os responsáveis por Getaway in Stockholm? E de onde surgiu a ideia? Pois então: ninguém sabe ao certo – mesmo quase duas décadas depois do primeiro capítulo.

O primeiro Getaway in Stockholm, lançado em 2000, é o mais curto deles, com pouco mais de dez minutos de duração. O Porsche 911 usado pelo piloto (aparentemente, um exemplar da geração 964) é parado por uma perua Volvo da polícia logo nos primeiros instantes. Assim que os policiais descem do carro para abordá-lo, o motorista arranca dali e parte para um passeio em alta velocidade. Na maior parte do tempo, não se vê nem sinal dos policiais.

Se você já assistiu C’était Un Rendezvous, o clássico da década de 1970 protagonizado por uma Ferrari 275GTB que anda à toda nas ruas de Paris (ainda que, na verdade, o carro usado na filmagem tenha sido um Mercedes-Benz 450SEL 6.9) , vai notar certa semelhança – na pilotagem, na edição, na (falta de) trilha sonora e até na forma com que o Porsche estaciona no fim do vídeo. E é tudo intencional.

Veja bem: não há certeza de nada, e isto faz parte da mística. Mas, segundo consta, os criadores de Getaway in Stockholm – Mr. A, o produtor e diretor, e Mr. X, um dos pilotos – se inspiraram no curta de Claude Lelouch para criar o primeiro vídeo. Depois de assistir o filme com um grupo de amigos, Mr. A ouviu de um deles: “aposto que não daria para fazer isto aqui em Estocolmo, os policiais não deixariam”.

Aquilo soou como um desafio, e Mr. A contratou Mr. X, um piloto profissional, para produzir um “C’était un Redezvous sueco”. Mas o conceito foi evoluindo a partir dali. Nunca ficou claro se a ideia era, desde o início, distribuir os vídeos em DVD. Mas o fato é que, com o sucesso do primeiro episódio, os produtores se empolgaram e fizeram outros – um por ano, entre 2000 e 2009, todos assinados pelaGetaway in Stockholm Productions.

Getaway in Stockholm 2, de 2001, foi o primeiro a trazer uma corrida de rua – entre um Toyota Supra A80 de 600 cv e um Escort RS Cosworth. O epísódio é considerado pelos fãs um dos melhores, em boa parte por causa dos carros. O vídeo em si ainda sofre bastante com as câmeras precárias, que vibram muito e não têm boa captação de som.

Por outro lado, foi GiS 2 que colocou os produtores no radar das autoridades. Os policiais não gostaram de ser vistos por milhares de pessoas como incapazes de capturar dois pilotos de rua, e começaram a se esforçar mais para descobrir suas identidades. Eles nunca conseguiram mas, por precaução, Mr. A e Mr. X passaram a se empenhar ainda mais em esconder seus rostos, seus carros e qualquer coisa que pudesse identificá-los.

À medida em que novos vídeos eram feitos, a produção foi ficando cada vez mais sofisticada, na medida do possível para a época. No terceiro vídeo, protagonizado por um Honda NSX, pela primeira vez um helicóptero foi usado para algumas tomadas aéreas.

Os produtores também começaram a incluir nos DVDs algumas cenas extras, gravadas em eventos de arrancada e drift, encontros de carros modificados e provas de rallycross, além de imagens de bastidores e manobras gratuitas feitas pelos envolvidos no projeto. A equipe, aliás, também passou a envolver mais pessoas para ajudar na logística dos vídeos.

Um detalhe interessante: nenhum dos carros usados nos vídeos pertencia aos membros da GiS Productions. Todos eles eram emprestados de fãs, que ofereciam seus esportivos para participar das gravações – e isto contribuiu para uma boa variedade de automóveis nos dez volumes.

Em GiS 4, o mesmo Honda NSX do volume anterior disputava contra um Chevrolet Corvette conversível. Trata-se do racha mais longo de todos – os pilotos disputam por quase uma hora, concentrando boa parte da ação em vias rápidas de Estocolmo. Neste vídeo é possível perceber com clareza uma das características mais marcantes de GiS: as filmagens eram feitas sempre no fim da madrugada, perto do amanhecer, quando havia menos tráfego.

Em compensação, o quinto episódio, estrelando um Mazda RX-7 FD, é bem mais curto: “apenas” 16 minutos. Nele, o esportivo japonês com motor Wankel anda solitário, e o vídeo dá a entender que em determinado momento o motor superaqueceu, causando o fim prematuro do passeio. Uma curiosidade: a última cena do episódio mostra o piloto do RX-7 voltando para a garagem e estacionando o carro, mas na verdade o Mazda foi o único veículo usado na série a ser apreendido pela polícia.

O sexto episódio, que traz uma disputa entre um Porsche 911 GT3 e um Dodge Viper GTS de primeira geração, é um dos poucos a contar com uma quantidade maior de cenas externas, alternando com tomadas onboard e câmeras espalhadas pela carroceria dos carros. As imagens também são melhores do que nos episódios anteriores, o que aumenta a sensação de envolvimento para quem assiste.

O episódio 7, em termos de produção, trazia uma volta às origens, com uma pegadas mais orgânica e – fora alguns beauty shots dos carros no início – câmeras onboard. O elenco, por sua vez, é uma dupla de Bimmers: um M3 CSL da geração E46, com supercharger no motor seis-em-linha de 3,2 litros e um kit aerodinâmico mais agressivo, contra um BMW M5 da geração E39 (o primeiro com motor V8).

No oitavo episódio, os produtores resolveram inovar e, pela primeira vez, incluíram uma moto no roteiro: uma Honda CBR 1000RR Fireblade, que na época era uma das motos mais rápidas do mundo ao lado da Suzuki Hayabusa, e no vídeo disputa uma corrida de rua contra uma Audi RS6 Avant de primeira geração, a C5. Neste vídeo, como é raro na série GiS, é possível ver claramente o velocímetro da moto – que, na maioria do tempo, marca entre 200 e 250 km/h nas movimentadas ruas de Estocolmo.

No episódio 9, talvez em referência ao primeiro vídeo, os produtores optaram por colocar dois dos Porsche 911 mais velozes que se podia comprar na época – o 911 GT3 e o 911 GT3 RS. Rolou até uma referência ao momento em que o carro é abordado pela polícia, e a GiS Productions, só para tirar uma onda, incluiu “os corajosos homens e mulheres da polícia de Estocolmo” nos agradecimentos.

O décimo e último vídeo, lançado em 2009, mantinha o Porsche 911 GT3 na briga e convocava um Lamborghini Gallardo para encará-lo. Sem dúvida o ronco do motor V10 naturalmente aspirado (que certamente recebeu ao menos um sistema de escape aftermarket) é o mais visceral a aparecer na série – bem como a briga entre os dois superesportivos está entre as mais acirradas a aparecer em todos os episódios.

Depois do último vídeo, talvez por notarem que estava ficando cada vez mais difícil manter o anonimato, a Getaway in Stockholm Productions parou de lançar novos volumes. Eles mantiveram a distribuição dos DVDs por mais alguns anos antes de simplesmente sair de cena, deixando órfãos milhares de fãs. O canal oficial do Youtube criado para divulgar os lançamentos, com trailers e cenas de bastidores, ainda está no ar, mas o último upload foi feito há nove anos: um trailer para GiS 8.

Por outro lado, talvez eles tenham parado de fazer vídeos simplesmente porque seu conteúdo deixou de ser algo inédito – afinal, já se passaram quase vinte anos desde o primeiro episódio, e hoje em dia há, literalmente, milhares de pessoas dispostas a ganhar fama online com pegas de rua. E, sem dúvida, Gateway to Stockholm teve sua influência nisto.

Sugestão do leitor Felipe Cunha