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Car Culture

O Dodge Charger oficial de “Velozes e Furiosos” continua acelerando — com um Hemi de mais de 1.000 cv!

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Foto: Wolfgang Wahl

Você pode ser um dos fãs ou um dos críticos da franquia “Velozes e Furiosos” (a maioria de nós é um pouco das duas coisas, não é?) — de um jeito ou de outro, não pode negar que a série, que começou no submundo das corridas de rua e hoje retrata de crimes internacionais realizados com carros, conseguiu cravar raízes profundas na cultura automotiva mundial. E um símbolo disso é o Dodge Charger preto de Dominic Toretto, que aparece em quase todos os filmes e juntou-se a vários outros muscle cars do cinema como a definição física de badass.

O que já deve ser mais que óbvio a esta altura é que quando falamos do “Charger do Toretto”, estamos na verdade nos referindo a dezenas de carros que foram usados durante as filmagens. É por isso que, ao ler a respeito de um “carro de cinema” que está à venda, você precisa estar ciente de que a descrição pode ser verdadeira, mas que isto não significa que se trate do carro que você viu em detalhes, naquela cena com o protagonista ao volante. E com o Charger de “Velozes e Furiosos” não foi diferente.

Se tratando de um filme com corridas de rua, acidentes e perseguições, o primeiro “Velozes” usou vários carros no papel do Charger — um hero car, usado nas cenas mais calmas, com close-ups e detalhes, e diversos dublês, mais ou menos parecidos com ele, para as cenas mais arriscadas e trabalhosas — ou mesmo fatais. Na franquia, normalmente o hero car também é um project car, com modificações autênticas e mecânica preparada, enquanto os “clones” ou “dublês” usam mecânica genérica (o V8 small block Chevrolet 350) e são carros visualmente mais simples. Até porque muitos acabam destruídos…

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Este tipo de coisa nunca fica 100% esclarecida para o público mas, segundo consta, o Charger de Dom Toretto no primeiro filme da franquia teve dois hero cars. Dizem que ambos eram exemplares de 1969 “travecados”, como dizem os opaleiros, para ficarem parecidos com modelos de 1970. Isto explica o aspecto da dianteira do carro, que mistura características dos dois anos-modelo.

Um deles foi o carro usado em uma das últimas cenas do filme — a corrida entre o Dodge de Dom e o Toyota Supra Mk4 de Brian O’Conner, que terminou com o “Dojão americano” capotado após bater em um caminhão e quase totalmente destruído. O outro — que provavelmente foi usado na clássica cena do “carro de dez segundos”, na garagem de Dom —, parece continuar na ativa até hoje.

Se você é nosso leitor das antigas, mas das antigas mesmo — desde os tempos de Jalopnik Brasil —, primeiro: obrigado, de verdade! Segundo: você talvez lembre de um artigo que fizemos a respeito daquele que, supostamente, é exatamente o carro da cena da garagem. Quer dizer, há muitas evidências que indicam que sim, é ele, porém alguns detalhes colocam esta conclusão em cheque.

Mas vamos às evidências favoráveis: o mais recente vídeo do carro, de outubro de 2015, diz que o Dodge Charger 1970 foi usado por Dom Toretto nas cenas da garagem e que agora, percente a um colecionador italiano que, em vez de guardá-lo junto com seus outros carros, prefere colocá-lo para, bem, “viver um quarto-de-milha de cada vez” nas dragstrips europeias — aliás, você sabia que a Europa tem uma cena muito grande de arrancada?

Pois bem: em 2009, a Mecum Auctions (que recentemente vendeu um dos Toyota Supra usados no mesmo filme) leiloou um autêntico Dodge Charger do primeiro “Velozes e Furiosos”. O leilão, como de costume, foi parte da Monterey Car Week, o evento que também inclui o Concours d’Elegance Pebble Beach e as provas com carros de corrida históricos em circuitos como Laguna Seca — um dos eventos mais importantes do ano, o que certamente ajuda na credibilidade da coisa toda.

De acordo com os documentos, o carro foi construído por uma empresa americana chamada Cinema Vehicle Services. Depois das gravações, a Cinema teria restaurado o Charger e o melhorado bastante. No filme, o carro de Toretto era dotado de uma versão mais antiga do motor Hemi — os chamados “early Hemi”, com deslocamento de 392 pol³ (6,4 litros). Trata-se de um motor raro, com peças difíceis de encontrar e usado com pouca frequência em muscle cars – ele é mais comum em hot rods, e mesmo assim, nem tanto.

De qualquer forma na restauração o carro teria ficado ainda melhor que no filme. A ficha técnica da Mecum é extensa: de acordo com eles, o carro agora tem um Hemi de 528 pol³ (8,65 litros) feito a partir de um 426  (sete litros) com curso ampliado, cabeçotes Indy e compressor mecânico TBS. A alimentação fica por conta de um sistema de injeção eletrônica FAST, além do gás do riso — um cilindro de óxido nitroso no porta-malas garante mais cerca de 250 cv on demand.

O resultado: algo entre 950 hp (963 cv) normalmente, e 1.100 hp (1.115 cv) com NOS. O carro também recebeu uma transmissão TorqueFlite TCI  727, de duas marchas, além de um diferencial Strange com relação final de 3,73:1 e freios a disco Willwood nas quatro rodas.

O carro teria sido comprado por um colecionador italiano que mora na Suíça e, como já dissemos, não tem medo de explorar o potencial do “carro de dez segundos” de Dominic Toretto em eventos de arrancada. Aparentemente o carro leva uma vida relativamente agitada e, quando não está andando (forte, diga-se!), marca presença em exposições como “o legítimo Dodge Charger de Velozes e Furiosos”. O que é justificável. Na época, seu dono pagou US$ 200 mil — que, hoje, equivalem a cerca de US$ 220 mil, ou cerca de R$ 860 mil em conversão direta.

Mas será que ele é mesmo o Charger de “Velozes e Furiosos”? Repare no vídeo acima: Nos detalhes mais óbvios, este Charger realmente é idêntico ao do filme: rodas American Racing 200s de 15″, gaiola na cabine, molduras das lanternas traseiras pintadas de preto, motor Hemi com supercharger e escapes diretos, sem abafadores. Mas, ao olhar o carro com mais atenção, começamos a reparar algumas diferenças — claro, vale lembrar que todas elas podem ter sido realizadas no processo de restauração. Ou seja, não provam muita coisa.

Além disso, na época da venda, o carro foi entregue com com certificado de autenticidade, scripts de diálogos assinados pelos atores, dentre outras pequenas coisas que reforçam seu status.

De qualquer forma, este é só uma das dezenas de carros que foram o Dodge Charger de Toretto ao longo da franquia — diversos exemplares, de anos e motores diferentes, foram “este mesmo carro” por mais de uma década. Sem mencionar que o assunto é um Dodge Charger de mais de 1.000 cv que tem grandes chances de ser um ex-astro de cinema e não pretende se aposentar tão cedo. Para quê questioná-lo?