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Aviões

O Monstro do Mar Cáspio e a volta dos ecranoplanos

Dizem que o pato é uma ave capaz de fazer tudo – andar sobre a terra, nadar sobre a água, e voar pelo céu – sem fazer nada direito. A chave para a excelência, via de regra, é a especialização. É por isso que carros anfíbios não andam muito bem na água e nem na terra, por exemplo. E também é por isso, em parte, que não existem ainda carros voadores vendidos em concessionárias.

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Mas, às vezes, faz-se necessária esta versatilidade. Como na década de 1960, quando os soviéticos decidiram criar enormes veículos para flutuar sobre a água, a poucos metros de altitude, e passar despercebidos pelos radares norte-americanos. Eram os ecranoplanos (do russo экраноплан, ou ekranoplan), que eram gigantescos, caríssimos, complexos e fascinantes.

Os ecranoplanos não são nem aviões, nem barcos – mas parecem aviões e são classificados como embarcações pela Organização Marítima Internacional. Eles decolam e pousam sobre a água, mas não chegam a atingir mais que 20 metros de altitude. É como na simulação abaixo:

Embora tenham fuselagem e asas que lembram enormes aviões, os ecranoplanos não voam pela sustentação aerodinâmica causada por uma zona de baixa pressão sob as asas. Em vez disso, eles se valem do efeito solo – o mesmo utilizado por carros de competição, mas de forma reversa – para “flutuar” sobre superfícies planas, como a água do mar ou planícies suficientemente lisas. O perfil das asas gera uma zona de alta pressão sob as mesmas, o que forma uma espécie de “colchão de ar” sobre o qual o veículo se apoia em um voo rasante. Não é muito diferente, em princípio, de um hovercraft – exceto que os hovercrafts criam seu próprio colchão de ar para flutuar a poucos centímetros do solo usando hélices e motores, enquanto os ecranoplanos só utilizam este sistema na decolagem e no pouso: durante o “voo”, o colchão de ar é mantido pelo próprio desenho da fuselagem e das asas enquanto o veículo está em movimento.

Talvez o mais famoso de todos os ecranoplanos seja o KM, de Korabl-Maket (“Aeronave-Protótipo” em russo). Ele ficou mais conhecido como “Monstro do Mar Cáspio”, apelido dado pelos norte-americanos ao observar, nas imagens feitas por seus satélites, a enorme silhueta do veículo sobre o Mar Cáspio – que, tecnicamente, é um enorme lago de água salgada que fica entre as fronteiras de Azerbaijão, Cazaquistão, Irã, Rússia e Turcomenistão. Durante a Guerra Fria, os dois lados estavam constantemente observando as ações um do outro, e a descoberta do enorme ecranoplano foi um belo susto.

Ele era um monstro, de fato – mesmo não sendo classificado como um avião, ele era considerado a maior e mais pesada aeronave do mundo até o ano de 1988. Tinha 92 metros de comprimento, 37,6 metros de envergadura, 21,8 metros de altura e, vazio, pesava 240.000 kg. Totalmente carregado e abastecido, podia chegar aos 544.000 kg.

Ele era movido por dez motores turbojato Dobrynin, cada um com empuxo de Kuznetsov NK-87 (cerca de 13.000 kg), e podia voar a uma altitude entre 4 e 14 metros. Tinha uma tripulação de cinco pessoas e capacidade para levar até 50 passageiros, caso necessário. Apesar das dimensões colossais, ele era veloz – sua velocidade máxima batia nos 650 km/h, e a velocidade de cruzeiro ficava entre 430 km/h e 500 km/h. A autonomia era de 1.500 km antes de precisar reabastecer. De fato, a economia de combustível é outra das vantagens que os estudiosos da aviação atribuem aos ecranoplanos, pois eles sofrem muito menos arrasto aerodinâmico.

Entre sua concepção pelo engenheiro aeronáutico Rostislav Alexeyev e seu primeiro voo passaram-se dois anos – tempo relativamente curto para o desenvolvimento de um veículo tão grande e complexo. O Monstro do Mar Cáspio serviu à união Soviética por 15 anos, entre 1966 e 1980, até sofrer um acidente causado por erro humano e cair. Não houve fatalidades ou feridos, mas o ecranoplano sofreu danos suficientes para ser declarado impossível de consertar. Ele ficou boiando por uma semana antes de afundar, e jamais foi considerada uma missão para recuperá-lo – simplesmente não valia a pena.

Contudo, ao longo de 15 anos, ele foi exaustivamente estudado pelos engenheiros da União Soviética. Liderados pelo próprio Alexeyev, eles criaram em 1987 o ecranoplano  e serviu como base para que, em 1987, fosse construído o ecranoplano Lun MD-160. Lun quer dizer “gavião” em russo.

 

O Lun era um pouco menor que o Monstro do Mar Cáspio, com 73 metros de comprimento, 44 m de envergadura, 19,2 m de altura e pesava até 380.000 totalmente carregado e abastecido. Ele voava a uma altitude máxima de cinco metros, apenas, e era movido por oito motores turbojato Kuznetsov NK-87 com 28.600 lb de empuxo cada um – suficientes para levá-lo até os 550 km/h.

Ele era equipado com seis lança-mísseis anti-superfície P-270 Moskit, que utilizava munição teleguiada – mas só por precaução, pois seu principal objetivo era ser um veículo de transporte. E para isto ele foi utilizado, servindo a Frota do Mar Negro até a dissolução da União Soviética. Desde então, o Lun está parado em na base aeronáutica de Kaspisk, no Mar Cáspio. Dá para vê-lo pelo Google Maps.

 

A volta dos ecranoplanos

Uma segunda unidade do Lun, batizada Spasatel (“salvador” em russo), chegou a ter sua construção iniciada, com o objetivo de ser uma espécie de hospital móvel e ajudar em salvamentos. Na verdade ele ficou quase pronto – fala-se em 90% – antes de os fundos militares destinados a seu desenvolvimento serem interrompidos.

Recentemente, no fim de junho, circularam relatos na mídia russa dizendo que o Spasatel seria, enfim, concluído nos próximos anos. De acordo com as notícias, a ideia seria transformá-lo em algo mais próximo de um avião, incluindo um trem de pouso e asas redesenhadas para dar a ele a capacidade de voar fora do efeito solo.

O que se sabe com certeza, porém, é que a Rússia está desenvolvendo um novo ecranoplano bem menor e mais moderno – o Seagull (“Gaivota” em inglês), que tem seus primeiros testes planejados para algum momento entre 2022 e 2023. Com cerca de 10% do peso bruto total do Monstro do Mar Cáspio – ou seja, 54 toneladas – ele deverá ter capacidade para levar até 100 pessoas.

O projeto está sendo tocado pelo Ministério Russo para Situações de Emergência. Além de ser usado para transportar passageiros e carga, ele também poderá ser útil em monitoramento ambiental e em equipes de salvamento – em especial, graças à sua alta velocidade e capacidade para acessar praias virgens e navios naufragados em alto mar, por exemplo.