FlatOut!
Image default
Projetos

O mundo precisa de mais picapes antigas com motor Hellcat

O conceito de “melhor” é extremamente subjetivo. Qual é o melhor álbum de música na história da humanidade? Minha resposta (The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd) certamente vai ser diferente da sua. E tudo bem – é assim que o mundo funciona. Então, posso dizer com toda a certeza que para mim não há aplicação melhor do V8 Hellcat do que colocá-lo em uma picape Dodge clássica. Mas não qualquer picape Dodge clássica, mas uma Power Wagon 1968, representante da era de ouro da indústria americana.

Swaps envolvendo o motor Hellcat não são novidade: as marcas do lado americano da Stellantis vem fazendo “swaps de fábrica” e colocando o V8 supercharged em tudo o que podem desde que caiba no cofre (aliás, Jeep, quando rola o Wrangler/Gladiator Hellcat?). O motor de 6,2 litros e pelo menos 712 cv – potência da Ram 1500 Rebel TRX – usa como base o V8 Hemi, o que significa que já existem receitas testadas e de eficácia comprovada (às vezes envolvendo até kits prontos) para instalá-lo em uma boa variedade de modelos vendidos no mercado americano. Assim, ninguém precisa reinventar a roda na hora de colocar um Hellcat em um Charger ou Challenger, seja moderno ou novo. (Isso, aliás, vale para qualquer V8 vendido como crate engine, de qualquer marca. São essas coisas que nos fazem invejar o pessoal lá nos States de vez em quando, não?)

Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicoshistórias de carros e pilotosavaliações e muito mais!

 

FLATOUTER

O plano mais especial. Convite para o nosso grupo secreto no Facebook, com interação direta com todos da equipe FlatOut. Convites para encontros exclusivos em SP. Acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Direito a expor ou anunciar até sete carros no GT402 e descontos em oficinas e lojas parceiras*!

R$ 26,90 / mês

ou

Ganhe R$ 53,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

*Benefícios sujeitos ao único e exclusivo critério do FlatOut, bem como a eventual disponibilidade do parceiro. Todo e qualquer benefício poderá ser alterado ou extinto, sem que seja necessário qualquer aviso prévio.

CLÁSSICO

Plano de assinatura básico, voltado somente ao conteúdo1. Com o Clássico, você terá acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, incluindo vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Além disso, você poderá expor ou anunciar até três carros no GT402.

R$ 14,90 / mês

ou

Ganhe R$ 29,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

1Não há convite para participar do grupo secreto do FlatOut nem há descontos em oficinas ou lojas parceiras.
2A quantidade de carros veiculados poderá ser alterada a qualquer momento pelo FlatOut, ao seu único e exclusivo critério.

Então, também é de se imaginar que um engine swap precisa ser inédito, inovador, ou quase impossível para nos impressionar, correto? Bem, nem sempre. E a tal Dodge Power Wagon é prova. Quando bati os olhos nela, fiquei encantado com seu conceito simples e direto, porém muito bem executado.

A caminhonete é obra da Roadster Shop, uma daquelas empresas que aparecem de tempos em tempos com um projeto novo que “quebra a Internet” – como a dupla de Camaro 1970 formada pelo “Road Rage” e pelo “Rampage”, dois restomods com carroceria widebody e um V8 454 no cofre de cada um. Carros ousados, ambos com chassi feito sob medida, carroceria alargada, suspensão de corrida e uma enorme quantidade de fabricação in-house. O que é admirável, claro, mas é fácil perder a sensibilidade e achar tudo mais do mesmo, passado algum tempo.

E assim, a gente pode deixar passar aqueles projetos mais simples e diretos, que nem por isso são menos atraentes. Como a Power Wagon Hellcat que a Roadster Shop montou.

O nome Power Wagon é importante para os fãs da Dodge, embora não seja muito lembrado. A linhagem começou em 1945, logo depois da Segunda Guerra Mundial, e não foi por acaso – ela era a versão civil dos veículos militares da série Dodge WC que foram utilizados durante o conflito e, como o Jeep Willys original, eram tão bem projetados que não vendê-los seria uma baita oportunidade perdida. O estilo militar caiu bem com pintura em outras cores e uma cabine mais arrumadinha, tanto que a primeira fase, movida por motores seis-em-linha Flathead, durou até 1958 sem maiores alterações.

 

A partir do ano seguinte, entrou em cena a segunda fase, também chamada Power Wagon, porém com estilo mais moderno – agora os para-lamas ficavam no mesmo nível da linha do capô e as formas gerais eram mais quadradas. Foi o bastante para que, com atualizações pontuais na carroceria, a Power Wagon permanecesse em linha até 1980, quase sempre movida pelos motores V8 da lendária família LA, que até hoje são sinônimo de confiabilidade e resistência em várias partes do mundo (no Brasil, inclusive, já que a versão de 318 pol³ – ou 5,2 litros – foi usada em todos os Dodge V8 brasileiros).

Quando a Power Wagon saiu de linha, deu lugar à primeira Dodge Ram – que ainda era quadrada e bem diferente da Ram clássica dos anos 1990, muito antes de seu nome se tornar uma marca. O que acaba fazendo a ligação com nosso tema. Até porque a Ram voltou a ter uma versão chamada Power Wagon em 2005, sempre com motor V8 Hemi (5.7 ou 6.4) e foco na capacidade de carga e reboque. Apropriado, para dizer o mínimo.

Gosto de imaginar que o pessoal da Roadster Shop quis imaginar um elo perdido – uma carroceria antiga com o V8 Hemi mais potente que se pode ter hoje em dia. Uma picape sobrevivente, com as marcas dos anos todas à mostra, mas que por baixo do exterior judiado guarda um coração atual com disposição de sobra.

 

Esta é a beleza da construção de carroceria sobre chassi – é possível simplesmente transplantar uma carroceria clássica sobre uma base nova, feita sob medida. Claro, o peso é maior, mas quando se tem um V8 de 717 cv e 89,8 kgfm de torque para fazer o trabalho pesado, não faz tanta diferença assim.

E sim, os caras deixaram o Hellcat exatamente como vem de fábrica, em sua calibragem original – a mesma do primeiro Challenger Hellcat. Com a preparação fora do caminho, eles puderam concentrar-se na construção.

O primeiro truque está justamente no chassi. Em vez de usar a estrutura original da Power Wagon, a Roadster Shop lançou mão de um projeto desenvolvido por eles próprios, chamado RS4, que já foi utilizado em outros projetos feitos na oficina e pode ser comprado sozinho. A estrutura é construída ao redor de longarinas reforçadas, feitas com aço .188 e já conta com todos os pontos de fixação e suportes compatíveis com a carroceria desejada. Ford Bronco, Chevrolet Blazer K5, a série C100 da Ford e outros modelos de picapes vendidos nos EUA já receberam chassis parecidos pelas mãos da Roadster Shop, mas é a primeira vez que um chassi RS4 é feito para ser usado em uma Power Wagon.

O chassi RS4 já vem com suspensão montada (um sistema independente na dianteira e um eixo rígido na traseira, com amortecedores ajustáveis Fox nos quatro cantos); diferenciais Dana 44 e Dana 60 na dianteira e na traseira, respectivamente; e, em alguns casos, uma caixa de transferência pronta para ser adaptada em qualquer transmissão comumente utilizada em picapes antigas, manual ou automática.

 

No caso desta Power Wagon, a opção foi o consagrado câmbio 4L80E automático de quatro marchas, ligado a uma caixa de transferência Atlas e, excepcionalmente, dois diferenciais Currie 60 VXR. Um conjunto que, nos Estados Unidos, é quase arroz-com-feijão quando se trata de projetos como esse. A força do conjunto chega ao chão por meio de um jogo de BR Goodrich T/A, calçando rodas de aço estampado de 18 polegadas com calotinhas.

 

Se, com seus 702 cv, câmbio ZF 8HP e pneus de 35 polegadas, a Ram Rebel TRX vai de zero a 100 km/h em 3,7 segundos, certamente a Power Wagon Hellcat não deve ficar muito distante.

Tudo isto, porém, pode passar quase despercebido se você não reparar nos eixos que se revelam parcialmente sob os para-choques – ou não abrir o capô. A carroceria foi mantida exatamente como encontrada – a tinta azul-bebê quase totalmente apagada no capô, no teto e no topo dos para-lamas, pátina por todos os cantos e vários outros sinais da idade ainda aparecem. Tudo foi preservado com tratamento anti-corrosão, e o resultado pode enganar os desatentos.

Ao abrir a porta, você enxerga o contraste de peças novas ou restauradas, como o volante, o revestimento do painel e todos os instrumentos; e mais itens que exibem marcas da idade e do uso, como os revestimentos das portas e do banco inteiriço, o acabamento do teto e peças como retrovisor interno e quebra-ventos. A ideia é fazer a picape parecer mesmo um survivor, e eles conseguiram.

Fora isso, não há nada extremamente espetacular nesta picape (fora o motor Hellcat, que já nasceu espetacular). Nada que seja uma revolução na forma de se montar um restomod, ou que te faça dizer em voz alta “como ninguém pensou nisso antes?”. Ao contrário – é quase óbvio.

E, sinceramente, isso não é problema algum. Às vezes você só quer ver um projeto bem executado, criado por quem entende do assunto e capaz de agradar a todo tipo de entusiasta – e, quando o intuito é esse, inventar moda acaba ficando em segundo plano.

 

HELLCAT EVERYTHING!

Esta é a RAM 1500 TRX de 712 cv, a nova picape mais f**a do mundo

Sim, a Jeep colocou o Hellcat em um Wrangler – e ainda fez uma picape Renegade!

General Mayhem: este Charger 1968 é um rat rod com o V8 de 717 cv dos Dodge Hellcat debaixo do capô