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Car Culture

Os melhores hot hatches do universo: Volkswagen Gol GTI 16v

Às vezes nem nos damos conta, mas é fato que boa parte dos esportivos nacionais de que a gente tanto gosta são nada mais do que hot hatches: Escort XR3, Corsa GSi, Fiat Uno Turbo e, claro, o Gol GTI. Este último é, sem dúvida, o mais icônico deles, e a versão que melhor representou sua linhagem foi a última: o Gol GTI 16v, baseado na então recém-chegada segunda geração.

A história do GTI começa bem antes de 1995, quando foi lançado — mais precisamente, 11 anos antes, com o lançamento do Gol GT em 1984. O primeiro Gol esportivo tinha o motor 1.8 do Santana e 99 cv declarados. Depois dele, foi a vez do Gol GTi, de 1988 trazer a primazia da injeção eletrônica em seu motor 2.0 de 121 cv, além de marcar época com sua pintura bicolor Azul Mônaco e prata (podem esperar posts sobre eles em breve!).

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Mas embora hot hatches sejam carros carismáticos e atraentes por natureza, o nível de um deles é medido pelo desempenho. E o GTI 16v pode não ser o mais carismático ou chamativo deles, mas com certeza foi o auge da sigla em termos de performance.

Enquanto as duas versões esportivas anteriores do Gol usavam motores praticamente idênticos ao de outras versões ou modelos (como o Gol GTi de 1988, que usava o motor do Santana), o Gol GTi  tinha um motor bem diferente, até mesmo daquele que ocupava o cofre do GTI 8v. E o motor é o grande astro do GTI 16v.

Todos os outros Gol usavam motores nacionais, fossem eles o AE 1.0 (que na verdade era de origem Ford) ou os AP de 1,6 a dois litros, no lançamento da segunda geração em 1994. Contudo, para o esportivo que chegaria no ano seguinte, a VW decidiu elevar seu desempenho importando um motor quase pronto da Alemanha. Sua arquitetura era semelhante à do AP2000, porém ele trazia algumas diferenças fundamentais que melhoravam bastante seu desempenho.

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A primeira delas era o bloco mais alto, que permitia maior comprimento das bielas — de 144 mm para 159 mm. Com 15 mm a mais, as bielas mais longas contribuíam para uma relação r/l (resultado da divisão de meio curso dos pistões  pelo comprimento das bielas) mais baixa — de 0,32 para 0,29, resultando em  motor de funcionamento mais suave em altas rotações e maior rendimento Além disso, o cabeçote de 16 válvulas alemão tinha fluxo cruzado — e as duas modificações ajudavam a elevar a potência do motor a 141 cv a 6.250 rpm, com torque de 17,8 mkgf a 4.500 rpm. Em um carro que pesava menos de 1.200 kg, o resultado era uma relação peso/potência digna de hot hatches europeus — 7,9 kg/cv.

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Moderando a força e a enviando para as rodas dianteiras estava o câmbio de cinco marchas alemão do Audi A4, acoplado a uma embreagem de acionamento hidráulico. O conjunto era o suficiente para chegar aos 100 km/h em 8,8 segundos, com velocidade máxima de 203 km/h (ainda que o teste da Quatro-Rodas na época indique 10,21 segundos). No entanto, a aceleração não era o único apelo do GTI — freios e suspensão também foram tratados à altura. Os freios eram a disco nas quatro rodas, ventilados na dianteira e sólidos na traseira, e traziam ABS como opcional.

A suspensão ficou mais baixa e mais firme e ganhou barra estabilizadora na traseira — o que deixou seu comportamento dinâmico mais preciso — e mais arisco, não sendo complicado fazer a traseira desgarrar. Completando o “chão” do carro, rodas de 15 polegadas eram calçadas por pneus de medidas 195/50 — de perfil bem baixo para um Gol.

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Esteticamente era o mais discreto dos Gol esportivos, sem muito a se destacar além dos faróis com unidades auxiliares embutidas, saias laterais, aerofólio traseiro e o desenho diferenciado das rodas de 15 polegadas. Por dentro, bancos Recaro de ótimo apoio (com couro bicolor, de detalhes vermelhos, como opcional) e um volante menor, de três raios. O subwoofer no porta-malas era de série, mas o CD-Player era opcional. Meses mais tarde a Parati ganhou uma versão GTI com exatamente as mesmas características — incluindo o motor.

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Era impossível, porém, não notar a bolha no capô, necessária por causa do motor mais alto — ela era seu elemento estético mais característico.

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O GTI permaneceu em linha por quatro anos até que, em 2000, a Volkswagen lançou a chamada “Geração III” do Gol — que na verdade era um facelift um pouco mais profundo do que o normal. Mas isto não vem ao caso — o que importa é que o GTI também fora atualizado, e sua nova cara também o transformava em um sleeper. Explicamos: na estreia do Gol GIII, a Volkswagen acabou com as versões e resolveu fornecer pacotes de acabamento que estavam disponíveis para todos os motores.

Sendo, assim, um Gol 1.0 podia ter a praticamente a mesma aparência e os equipamentos que um GTI, que tinha o motor 2.0 16v atualizado para render 145 cv e trazia novas rodas de 15 polegadas, mesmo sem andar tanto quanto ele — que perdeu a bolha no capô. Sendo assim, a exclusividade ficava nos detalhes:  volante em couro, retrovisores azulados, espelhos iluminados. O desempenho do Gol (e da Parati) GTI, contudo, ainda era seu maior destaque:  o 0-100 km/h  agora declarado era de 8,7 segundos, com máxima de 206 km/h.

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De qualquer forma, isto não foi suficiente para que o GTI 2.0 16v continuasse no mercado — a versão GTI, que já era naturalmente a menos vendida, começou a vender ainda menos depois que a maioria de seus recursos e modificações estéticas (como faróis com máscara negra e rodas) passaram a ser disponíveis em todas as outras versões. Além disso, em 2000 a Volkswagen já oferecia o Golf GTI com motor 1.8 turbo de 150 cv, mais moderno e com melhor desempenho. No fim daquele ano, o Gol GTI 2.0 16v saiu de linha para nunca mais voltar.

Desde então o Gol se tornou um carro de baixo custo, com o lançamento da geração “G4”, e depois passou por uma reformulação completa no lançamento da terceira geração de fato em 2008, que trazia uma nova plataforma. Compartilhada com o Polo e com o Fox, de motor transversal e melhor comportamento dinâmico do que nunca, a plataforma do novo Gol era, para todo fã da VW, um convite para a volta de uma versão esportiva. Mas até agora o Gol GTI 16 válvulas não deixou sucessor — o que não significa que ele não mereça um lugar entre os melhores hot hatches do universo!

[ Foto: rodrigoevora (motor) ]