Há uns dias topei com essa pergunta feita pelos americanos do Petrolicious e fiquei pensando em todos os postos feios e legais pelos quais já passei. Como eles não responderam a pergunta, tomei a liberdade de tentar uma resposta. Ou ao menos uma reflexão misturada com memórias e algumas hipóteses. Quer vir junto nessa viagem?
Para começar a conversa: eu adoro postos de combustível. Todos eles. Desde os mais bagaceiros até os mais suntuosos e modernobregas que até cobram estacionamento. Revirando a memória, tenho certeza que isso tem a ver com o lazer da minha família (e de tantas outras) nos anos 1980 e 1990. Morando às margens da Dutra e depois nos cafundós do Velho Oeste de SC, muitos fins de semana passaram a bordo do carro, com a família inteira enlatada com os vidros abertos para conhecer ou simplesmente revisitar outro lugar.

Como bem sabe todo bom viajante, o caminho é tão prazeroso quanto a chegada, e é aí que entram os postos de combustível. Eles estão sempre lá, de portas abertas para receber nossas mentes aliviadas, corpos cansados, bexigas cheias e carros sedentos. Encha o tanque, lave o rosto, descanse 20 minutos, beba algo e você está pronto para mais umas boas horas de estrada, curtindo a vida e o caminho.
Pare por um minuto e imagine-se encostando o carro nestes postos — qualquer um deles, em qualquer carro:
Todos foram construídos entre 1930 e 1965. Inacreditável, não?
Depois dessa viagem ao centro da memória, comecei a procurar a resposta e percebi que ainda se faz postos estilosos como antigamente, mas são menos comuns e um pouco diferentes. E isso, talvez, tenha a ver com a forma como o mundo passou a enxergar os carros e com a evolução da tecnologia, da arquitetura, do mercado e — por que não? — da sociedade.

Acho que a resposta passa pelo que os carros (e motos, sempre inclua elas, ok?) se tornaram. Há 50 ou 60 anos eles eram glamourosos, eram símbolo de uma liberdade que a humanidade não conhecia até a explosão dos automóveis após a Segunda Guerra. O carro era um patrimônio familiar como nossas próprias casas. Comprar um carro era um grande evento. As famílias faziam fotos junto aos carros, dentro deles, viajando neles — mas não por ostentação ou exibicionismo, e sim pela alegria de ter algo tão empolgante, belo e, talvez, até libertador como um carro.

Viajar de carro era estar livre. Não apenas para ir e vir por onde e quando quiser, mas para falar, conversar e se portar como bem entendemos. Diferentemente dos ônibus e aviões, que exigem formalidades e dividem a família em pares/trios, as viagens de carro permitem a espontaneidade e mantém a família reunida e preserva a intimidade, da mesma forma que na mesa de jantar.

Ter um carro era especial. Nada mais natural que os postos que cuidavam dos nossos carros fossem especiais também. Lembra do atendimento Texaco na Hill Valley de 1955?
Mas o tempo passou, o carro se tornou banal e, ironicamente, passou a ser visto mais como uma ferramenta importante do que um símbolo de liberdade e utilidade. É meio como uma máquina de lavar: você não precisa de uma, nem deseja uma, mas é conveniente ter uma em casa porque ela facilita sua vida.

E isso tem tudo a ver com a forma que enxergamos os postos de combustível hoje: se os carros não são mais especiais para as pessoas, porque os postos seriam? Por que investir em um design arquitetônico especial, como um bom restaurante, se a sociedade moderna vê nos carros e postos o mesmo valor que um supermercado ou uma rede de fast food. Não é por acaso que os projetos mais simples e baratos tornaram-se o padrão institucional dos postos. Duas ou três colunas, uma cobertura plana, uma loja ao fundo e pronto. Aí está seu posto exatamente igual àquele outro da rua de baixo. Próximo, por favor!

Mas essa seria uma resposta banal. Meio que uma birra entusiasta contra o mundo que trata os carros como um câncer sobre rodas. A resposta talvez esteja ao nosso redor, no design dos supermercados, redes de fast food, telefones celulares, condomínios e televisores. Somos 7,6 bilhões de pessoas — consumindo, se locomovendo, necessitando e vivendo. Como suprir a demanda de tanta gente na velocidade necessária sem padronizar? O que é um condomínio de apartamentos, se não uma pilha de casas padronizadas? A banalização é resultado da massificação. É por isso que os postos de combustíveis são tão iguais, meio feios, pouco inspirados, sem muita emoção, embora perfeitamente funcionais. Como uma máquina de lavar roupas. O design massificado é a tradução do espírito de nossa época: tudo ao mesmo tempo agora para todos e em todos os lugares.
Mas isso talvez não seja tão ruim como parece. Você não encontra um templo do combustível todas as vezes que precisa abastecer seu carro, mas em troca você tem mais opções em mais lugares e, considerando a legalidade, alguma garantia de qualidade. E o mundo ainda tem alguns postos de combustíveis arquitetonicamente inspiradores para você admirar e visitar, como este posto Repsol inaugurado em 1997 na Espanha:
O futurista Helios House, em Los Angeles, inaugurado em 2007:
O posto A1, em Madri, Espanha, de 2007:
O Acciona, também na Espanha, também de 2007, que tem até paineis fotovoltaicos no telhado:
O posto Statoil em Velfjord, na Noruega, que desde 2008 “aquece” a paisagem gelada com sua luz amarelada e suas paredes de madeira:
Ou este outro, também da Statoil, também em Velfjord, também de 2008:
O posto Litro Premium, em Bucareste, na Romênia:
Este posto da United Oil, na Califórnia, de 2009:
O posto Gazoline, em Cuneo, na Itália, de 2011:
Este posto na Eslováquia, inaugurado em 2012:
Este outro posto contemporâneo e impressionante, inaugurado em 2013 na Geórgia:
Ou ainda a brasileiríssima oficina mecânica Tecnomec, que foi inaugurada em 2015 em São Paulo e teve seu design reconhecido internacionalmente ao ser indicado à premiação Mchap, do Instituto de Tecnologia de Illinois: