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Project Cars Project Cars #136

Project Cars #136: conheça a história do Mitsubishi Eclipse GST de Leandro Correa

Olá amigos do Flatout, meu nome é Leandro Amorim Correa, tenho 27 anos e sou graduado em Sistemas de Máquinas Navais. Por meio dessa acalorada conversa lhes apresento o meu esportivo japonês de alma americana.

Confesso-lhes que fiquei matutando durante algum tempo sobre a maneira de começar a escrever a minha história, por fim achei oportuno dar algumas palavras de incentivo àqueles que sonham em ter um carro legal para poderem vivenciar mais profundamente a cultura automotiva.

Nunca desista de seus sonhos

Demore o tempo que demorar, a nossa paixão pelos carros não se esgotará. Mesmo que fique durante muito tempo adormecida, algum dia essa paixão irá surgir forte e você saberá que está no momento certo para colocar seu sonho em pratica.

Assim aconteceu comigo. Me lembro nitidamente da primeira vez que vi um Eclipse na minha vida: era 1995 e eu estava estudando na segunda série do colégio Olavo Bilac (RJ) quando ao sair pelos portões acompanhado de um colega de classe, vislumbrei aquela “nave espacial” deslumbrante parar a nossa frente. Era o pai desse amigo que estava vindo buscá-lo.

Apesar da minha familia ter tido carros bem legais, que hoje inclusive são cultuados pela comunidade gearhead (Gol GTi, Opala Comodoro, Maverick) aquela máquina era de um padrão que eu jamais tinha visto até então. Fiquei fascinado pelo formato da área envidraçada, que parecia ter vindo de algum tipo de avião e pela lanterna traseira vermelha de lado a lado que ostentava letras prateadas “ECLIPSE”.

Com a inocência de qualquer criança praticamente implorei a minha mãe que comprasse um, porém nessa época em que a abertura das importações era recente, o preço de um carro desses superava qualquer possibilidade financeira dela, pois a maioria dos que rodavam por aqui eram de importação independente e o preço era surreal. Assim com o tempo, e devido a raridade desse carro na época (praticamente o unico Eclipse que eu via era o do pai desse amigo) eu dizia para mim mesmo que um dia eu iria ter um Eclipse.

Mas depois disso, acabei mudando para o interior do Rio de Janeiro e perdi contato com esse colega, nunca mais vi um Eclipse pessoalmente e a vontade foi passando e caindo no esquecimento… mas não totalmente.

Felizmente os fatos se convergiram para que quinze anos depois esse sonho fosse reaceso, o que culminou na compra do meu Eclipse.

Mas para que esse sonho se tornasse realidade…

Estávamos em 2010, eu estava frequentando a Escola Naval (EN) e cursava o quarto ano. Na EN os aspirantes vivem em regime de semi-internato permanecendo a semana em estudos e são liberados para passar o final de semana em casa.

A gente se organizava em “camarotes” divididos entre quatro pessoas, e a escolha dessas pessoas era por afinidade. Logo, no meu camarote ficávamos eu e mais três amigos.

Nessa época eu era um dos primeiros da minha turma a ter um carro, e também já estava concluindo o curso de máquinas, portanto os papos sobre carro eram frequentes. Nos finais de semana fazimos viagens até o interior para voltar para casa em meu Santana 1993 e meus amigos falavam de seus planos em qual carro comprariam após a formatura.  Um dia resolvemos chegar os carros usados na internet.

Foi aí que por acaso, olhando os sites conhecidos de classificados, como o Webmotors e o Mercado Livre, uma pequena foto de um anúncio destacado me chamou a atenção. Era um Eclipse preto, de São Paulo. Cliquei no link e no anúncio o proprietário fazia referências a um clube chamado “Mitsumania”

O “Mitsumania” ou Mitsubishi Clube do Brasil, era um fórum dedicado a proprietários de carros da marca Mitsubishi, mas a maioria dos seus membros (ou pelo menos os que mais comentávam nos fóruns) eram proprietários de Eclipse.

Isso fez com que a chama daquele sonho se reacendesse dentro de mim! E ignorando a chacota que meus amigos faziam comigo dizendo que era besteira gastar dinheiro em um outro carro velho (meu Santana tinha 17 anos) e que eu tinha que fazer como eles: comprar um carro barato e mais novo para começar a vida. Um corsa Classic, um Logan ou outra coisa prática para trabalhar.

Eu os ignorei e disse que para trabalhar já tenho o meu “Panzer” (apelido do meu Santana). O que eu quero comprar é um Eclipse!

Todos os sonhos requerem um certo sacrifício

No meu caso, me inscrevi no fórum do Mitsumania, e o acessava todos os dias. Eu passava horas namorando os Eclipses na seção de classificados do clube. Todos lindos, porém a grande maioria deles custavam muito acima do preço da tabela Fipe, como a maioria dos carros de clube muito bem cuidados.

Hora e outra eu investigava o Webmotors e o Mercado Livre à procura de algum Eclipse que não pertencesse a membros do clube, e assim foi a busca até o fim do ano. Comecei a ficar ansioso, pois sabia que se havia um momento para realizar o sonho, o momento era aquele. Eu era solteiro, não tinha família para sustentar e estava iniciando minha carreira na Marinha. Então eu tinha tempo livre e poucas despesas, podia me dar o luxo de ter o Eclipse.

Entretanto minha grana era curta, e os carros que eu podia comprar, sempre tinham algum problema mecânico ou de documentação.

Na véspera da formatura, no entanto, finalmente dei o passo decisivo. Resolvi pegar todo o dinheiro que eu tinha (e o dinheiro que eu não tinha) para comprar o meu carro de um senhor que morava em Brasilia!

Juntando minha aplicação em renda fixa, com o soldo especial de fardamento (a Marinha dá dois soldos para os recém-formados comprarem fardas novas) consegui juntar R$26 mil, e o carro custava R$30 mil. Os R$ 4 mil restantes obtive sacrificando a poupança reservada para a minha festa de formatura. Dessa forma eu iria — depois de 7 anos em regime de internato — participar apenas da cerimônia formal de formatura e deixar de viver a comemoração festiva com meus amigos e familiares para comprar um carro… que estava a 1.400km de minha casa!

“Você pirou?”

Essa foi a primeira pergunta que minha mãe fez quando contei a ela meu plano! Logicamente meus outros familiares também me desaprovaram e me saturaram com perguntas do tipo:

— “E se você for pra Brasilia e não comprar o carro?”

— “E se o carro não for capaz de chegar até o Rio de Janeiro?”

— “Com que dinheiro você vai pra Brasilia? Vai de ônibus? Vai dormir onde? Vai comer o quê? Vai chegar lá e voltar logo em seguida?”

Perguntas., perguntas e perguntas.

Apesar de tudo isso, não arredei o pé. O momento era aquele: o carro que eu queria tinha ótimas referências e estava com um preço otimo. Apesar de estar com alguns detalhes de uso, o proprietário me garantiu que ele aguentaria a viagem de volta (e meu coração me fazia acreditar nas palavras dele). Até mesmo a cor era idêntica à do Eclipse dos meus sonhos. Além disso, se eu esperasse um pouco mais ele certamente seria vendido para outra pessoa.

Contudo dias antes de eu pegar o ônibus para Brasilia, minha mãe se comoveu com minha determinação e resolveu bancar uma passagem de avião, com duas condições: a primeira condição de que isso me ajudasse a retornar vivo em casa, com ou sem o carro e a segunda condição de que ela fosse junto e pudesse revezar comigo no voltante dessa máquina!

O resto da história eu prefiro a reservar para um post falando somente de como foi a aventura em trazer o carro de volta pra casa.

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Resumindo: o carro correspondeu às minhas expectativas. O antigo proprietário foi muito sincero e honesto, apresentando todos os aspectos do carro que mereciam atenção imediata e foi muito transparente na negociação. Voltamos vivos e com o carro — senão eu não estaria escrevendo esse post!!!

Não deixe seu sonho se transformar em pesadelo

Hoje eu reconheço que não se deve tomar 100% de sua decisão baseada na paixão. Realmente existiam vários fatores que foram desconsiderados nessa viagem. Além disso por desespero eu poderia ter me agarrado a um carro que me traria muita dor de cabeça mais tarde (com o Eclipse isso acontece muito, infelizmente) e por isso aconselho sempre quando possível buscar ajuda de uma pessoa próxima quando faltar aquele “empurrão final”.

Conselhos de terceiros podem até ser irritantes ou desestimulantes, mas com certeza se forem de alguém que gosta de você de verdade (como mãe ou pai) pode ter certeza que irão te ajudar. Deixo aqui meus agradecimentos para a minha mãe! Essa conquista teve uma participação sua.

Agora vamos falar do carro

O Eclipse surgiu em 1989. Fruto de uma joint-venture da Mitsubishi com a Chrysler. Dessa parceria surgiu o nome no qual vocês vão ouvir falar muito: DSM ou Diamond Star Motors — DSMers são os fãs da marca.

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Desta maneira, já temos uma primeira curiosidade sobre o modelo: O Eclipse na verdade é um carro americano e não 100% japonês como muitas pessoas pensam, e é por isso que lá nos EUA eles são tão populares quanto os volkswagen são aqui.

O Eclipse era um carro esportivo popular, de mecânica japonesa confiável com motor 4G63T (versões GS-T e GS-X) já a versão de entrada, a GS (o Eclipse de Brian O’Conner em Velozes e Furiosos) possui o motor Chrysler A420, que ao contrário do que muitos pensam, não é turbo de fabrica.

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O foco principal desse “esportivo popular” era, portanto, a relação custo/benefício. Por ter um motor oriundo do WRC, fica claro  por que os DSMers dizem que o Eclipse é um carro que “implora” pra ser preparado, e por que existe uma infinidade de peças de preparação no mercado americano. Algo bem semelhante ao que vemos hoje com o Subaru Impreza WRX.

Nós (DSMers) classificamos o Eclipse em gerações: 1Ga, 1Gb, 2Ga, 2Gb, 3G e 4G, entranto só é DSM o Eclipse fabricado até sua geração 2Gb.

Quando as pessoas pensam em “Eclipse” elas logo imaginam o filme “Velozes e Furiosos”, assim não há como negar que sua geração com maior numero de fans é a 2Gb

Infelizmente ocorreu também um efeito que considero negativo de toda essa fama, que é a grande quantidade de xuning que esse carro sofreu como consequência da estética (de gosto duvidoso) desses filmes e também nos jogos da série “Need for Speed Underground”, além de inúmeros maus tratos de seus donos. Assim sendo, o carro ganhou no Brasil injustamente a fama de “bomba”.

Lógico que quando estamos falando de um “esportivo popular” tambem falarei sobre os defeitos do carro em um outro post quando a oportunidade surgir.

Finalmente, os planos para o carro

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Quando eu o comprei, ele já possuia alguns upgrades mecânicos de herança de seu primeiro proprietário. Dentre elas, uma turbina GT35R, bomba de combustível Walbro 255lph e chip de potência. O motor produzia algo em torno de 300 cv (a potência original era 214 cv). Esteticamente o carro possuía apenas rodas ENKEI RSV de 18 polegadas, ponteira de 4,5 polegadas montada sobre o escape original e o para-choques dianteiro da versão 2Gb. (o capô com extração de ar, que aparece nas fotos, eu coloquei depois).

Havia, portanto, alguma base para a preparação. Inicialmente eu não tinha pretensão nenhuma de preparar o meu carro como hoje em dia, pois a potência que eu tinha na época ja me satisfazia. Tampouco queria mexer na estética original do carro, que por sinal é atemporal.

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Minhas ações iniciais foram voltadas a consertar os defeitos conhecidos do carro, como os pneus a suspensão e alinhamento e outros que apareceram, como os amortecedores da mala que perderam a pressão.

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Pneus novos, reparo na suspensão e amortecedores do porta-malas

Permaneci cerca de um ano e meio com o carro da maneira que ele comprei, porém depois disso me vi estimulado a prepará-lo.

Meu atual objetivo é deixá-lo com o setup necessário para que este carro possa participar de trackdays (e não fazer feio) mas com uma aparência que não denuncie tanto sua preparação e que permaneça em um nível que o permita ser usado em viagens ou nos finais de semana.

Depois de algum tempo pesquisando o conjunto que mais me agradasse e com a ajuda de outros membros mais experientes do clube chegamos a minha atual receita de preparação:

Motor
A prepraração deverá usar o potencial máximo da turbina GT35R, nesse caso de 700 a 800 cv. Precisa ser forjado para resistir a altas taxas de boost (treskilimei?). O momento de inércia e o R/L terão que ser reduzidos para se adequarem ao conceito de “motor girador”.

Câmbio e transmissão
Precisará ter uma embreagem que resista ao grande torque, no mínimo uma ACT2600 Xtreme Duty ou uma Excedy Mark II
O carro terá que ser controlável em curvas, por isso eu tinha que ter um diferencial de deslizamento limitado.

Suspensão e Freios
Apesar de executar o reparo da transmissão eu ainda achava que o carro era muito “bobo” para perder a traseira. Não sei se isso era algum problema não identificado, má distribuição de peso ou inabilidade do motorista, mas o fato é que isso não me transmitia muita segurança, então a suspensão seria completamente retrabalhada e o chassi enrijecido com strut bars e sway bars.

Além disso se você quer correr você precisa de meios para parar o carro, e nesse quesito os freios originais do Eclipse são péssimos.

Combustível e arrefecimento
Basicamente o upgrade no setup do motor deveria ser acompahado igualmente pela capacidade de suprir o motor de combustível e também de resfriar o cofre.

Em matéria de combustível, no começo cogitei rodar usando apenas gasolina Pódium no tanque, pois ela tem octanagem mais alta, o que me permitiria aumentar a taxa de compressão. Entretanto essa gasolina é dificil de se obter em minha região (só tem 1 posto num raio de 100 km que vende essa gasolina) e também recentemente vem ficando muito cara, assim tive que me curvar e considerar a utilização do E85 ou até mesmo E100 como “alimento para a fera”

Aparência

Não curto personalização estética, portanto pretendo apenas “atualizar” o bodykit para a versão 2Gb e todo o resto que farei nesse quesito terá um embasamento voltado exclusivamente para o funcional. Defino isso como deixar o carro ser “lobo em pele de cordeiro”

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Aparência desejada

Cereja do bolo

Após concluir todas as etapas anteriores pretendo partir para a adição de um sistema de cárter seco e convertê-lo para tração 4×4 do Eclipse GS-X, contudo existem diversos fatores que devem ser levados em consideração para isso.

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Diagrama 3D de um sistema de cárter seco

Por hoje me despeço. Nos veremos no próximo tópico onde abordaremos com mais detalhes a questão da preparação. Até lá!

Por Leandro Amorim Correa, Project Cars #136

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