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Project Cars Project Cars #368

Project Cars #368: a história de quase 10 anos do meu Honda Civic Si

Para quem ainda não me conhece, sou Carlos Eduardo Almeida. Já colaborei para o Flatout em outras oportunidades, contando sobre uma viagem fodástica que eu fiz pela Meca dos petrolheads (Alemanha) e também contando um pouco da vida de um de meus heróis, o engenheiro neozelandês John Britten, que construiu, do zero, no quintal de casa, uma motocicleta incrível e teve colhões de brigar nas pistas de igual para marcas como Honda e Ducati. Dessa vez estou aqui para contar um pouco da minha história, e principalmente, do carro que me acompanha há quase 10 anos.

Quando anunciei que passara para engenharia de redes de comunicação na Universidade de Brasília, meu pai ficou muito feliz. Só viria a saber depois, mas meu velho sonhava em ser engenheiro eletricista, porém a necessidade falou mais alto e ele teve que seguir outros rumos na vida. Como ele havia guardado uma grana para caso eu não passasse na universidade pública, esse dinheiro virou meu primeiro carro. Um Gol CL “bolinha” pé de boi, mas com motor 1.8 Mi, ou seja, um motor legal num carro muito leve. Praticamente um muscle car à moda tupiniquim!

Passados os anos, me formei e ralei um bocado até conseguir um emprego. Aquela mula de carga, que havia me servido tão bem por pouco mais de oito anos, já não atendia mais meus anseios de jovem adulto imberbe recém empregado. Queria mais conforto e desempenho.

Nesta época a Fiat havia anunciado uma nova versão do Punto. Era a agora famosa versão T-Jet. Quando comecei a ler os prospectos, já havia decidido até a cor e os opcionais. O meu seria branco banchisa com teto solar! No mesmo fim de semana do lançamento, fechei negócio e deixei um cheque de entrada, que seria descontado assim que o pedido fosse processado pela fábrica.

Passaram-se os dias, que viraram semanas, que viraram um mês e nada. Eu já estava ficando impaciente, queria logo curtir meu primeiro carro comprado com minhas próprias posses! Puxa vida, quem essa Fiat pensa que é para ficar empatando a minha vida?! Shut up and take my fucking money!

Nesse período, um primo veio nos visitar com uma novidade. Ele havia recém adquirido um Civic Si! Ele foi lá em casa exatamente para me mostrar o carro, estava feliz da vida com a aquisição. Então, quando ele falou “toma”, segurando a chave do carro na minha frente, antes que ele pudesse pensar em mudar de idéia eu já estava longe! Ao voltar do passeio e após ficar assombrado com a estabilidade e o VTEC kicked in yo, voltei decidido. Iria cancelar o negócio no Punto e começar a procurar um Civic Si usado para mim. Eu precisava 8.000 rpm para viver!

vaga perfeita 1

Como não tinha a menor chance de pagar R$ 100.000,00 num carro novo, avisei a esse meu primo que estava oficialmente iniciada a temporada de caça ao Civic SI. Um mês depois dessa visita, num domingo à tarde, me liga ele de Goiânia:

_ Achei seu carro, pode vir com o cheque assinado!

_ Mas como assim Fernando? E o carro tá bom?

_ Você deu sorte de eu ter comprado o meu antes! O carro está tão bom que eu compraria ele ao invés do meu e economizaria um troco!

O carro estava com apenas 11.000 mil km rodados. Quando fomos buscar o carro, estavam acabando de encerá-lo, o que me fez ficar imediatamente apaixonado. Cheirava a novo. Eu acho até que percebi aquele feixe de luz solar passando entre as nuvens e iluminando o carro, enquanto anjos cantavam em uníssono “OOOOOOHHHHHHHH”. Ou talvez fosse só o sono mesmo. Mais provável ser sono…acho.

recém chegado 2

No DF, todos os Si     que eu encontrei à venda estavam mais rodados e muito mais caros que aquele carro. Segui o conselho do meu primo e voltei pra casa com ele. Eu fiquei arrumando desculpas a semana inteira para visitar meus amigos e parentes, por mais longe que eles morassem. Naquela semana eu fiquei imensamente feliz em ser amigo da vez. Eu quase não conseguia acreditar! O primeiro veículo que comprei com meu próprio dinheiro era um carro incrível!

após viagem estrada real

Desde então, esse carro já me levou para algumas das minhas maiores experiências: fiz o primeiro (e único) trackday da minha vida, fui para eventos marcantes da vida de vários amigos e parentes (e que me marcaram muito também), me levou para meu casamento, depois para assinar meu divórcio, aguentou firmemente alguns anos de castigo pela minha ex-esposa, nos levou para viagens incríveis. A única vez que ele me deixou na mão foi quando a bateria arriou. A última viagem que fiz com ele, em abril desse ano, percorri duas estradas sensacionais (Serra da Graciosa e Serra do Rio do Rastro), visitei pessoas muito queridas, reforcei laços de amizade com um amigo de infância e fiz novos amigos.

Depois que o retomei das mãos da ex-esposa, ressucitei algumas idéias. Pena que o dólar foi para a estratosfera e barraram vários projetos legais que eu tinha pra ele. Mas no fim, isso foi até bom, porque como manterei ele como meu carro de uso diário, um motor muito preparado aumenta a chance de quebra. Esse é o carro que eu tenho que virar a chave na segunda-feira de manhã e ele ligar de estalo!

Decidi mudar algumas coisas em termos de visual e desempenho, obviamente. Optei por manter o motor atmosférico, mas não irei seguir o conceito de “stages” ridiculamente copiado dos ianques e que não faz o menor sentido. Então, fui pesquisar para saber o que funcionava e o que era balela. Resolvi seguir o meu caminho, ao invés de copiar o que todo mundo faz, até porque o que todo mundo faz aqui não faz o menor sentido para mim. Hoje não faria diferente, apenas mudaria a ordem das execuções.

Talvez alguns de vocês até se decepcionem, já que meu carro não vai ter nada de mirabolante, potência absurda, dinâmica afiada para colocar tempo em M3 no ‘ring, swaps malucos e um calvário até se chegar à perfeição. Espero, com a minha experiência, dar uma idéia de poucas coisas que podem ser feitas em um carro de uso diário para deixá-lo ainda mais divertido sem perder confiabilidade. E, para quem tem Civic Si, passar um pouco da minha experiência para se ter um carro legal. Nada de “stages” aqui – a idéia é simplesmente propor um caminho diferente, que pode ser executado aos poucos, com peças que muitos nem imaginam que existe e que não vão te depenar inteiro para entregar cavalos-vapor fictícios.

estrada vazia shakedown

Acho que vocês ficarão surpresos do quanto a série K de motores é preparada lá fora das mais diversas maneiras, da capacidade desse motor e da variedade de peças para ele, sejam genuínas Honda ou de aftermarket!

Nos próximos episódios vou contar o que aprontei para deixar o melhor carro que já tive ainda melhor! Até lá.

Por Carlos Eduardo Almeida, Project Cars #368

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