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Project Cars #532

Project Cars #532: chegou a hora de montar o motor da Dakota

Por Eduardo Martinelli, Project Cars #532

 “A obstinação de Shackleton em não sucumbir às exigências da vida cotidiana, combinada à sua infinita capacidade de ficar entusiasmado com empreendimentos irrealistas, fazia com que fosse possível acusa-lo de ser um homem basicamente imaturo e irresponsável”- A incrível viagem de Ernest Shackleton, por Alfred Lansing

Com o cabeçote novo na retífica para o ajuste das válvulas, ficamos por um tempo sem mexer no carro, pois agora é “só basicamente” montar o motor, colocar o carro para andar novamente (parado na banquisa de gelo desde 04 de janeiro), pintar as rodas de prata novamente, colocar os pneus novos (rolos compressores da Cooper Cobra), fazer uma funilaria básica inspirado na Dakota R/T americana e pronto. Endurance Project pronto para navegar pelas estradas novamente!

Só que… só que não. Ao desmontar o motor notamos que o óleo do câmbio está viscoso demais, vermelho… está com água misturada, provavelmente do radiador do câmbio. Nada com que se preocupar até o momento (espero), após montar o motor, vamos checar isto com calma.

Este tempo de “ócio” me fez rever as fotos do carro quando o motor ainda estava inteiro, o motor é praticamente todo preto, com o filtro de ar também preto, um buraco negro, sem detalhe algum. Oras bolas…. estamos falando de uma R/T aqui! Precisa ter um “encantamento” por baixo do capô também! Lembrem-se que o motor será ligeiramente mais forte que o original devido ao comando Edelbrock que coloquei. Não será tão rápida quanto uma R/T americana que tinha motor 5.9 mas com certeza será um pouco mais forte que a 5.2 original.

Como ela será um period correct, busquei referências dentro da própria Dodge e encontrei na Dodge Ram RT10 a inspiração! Calma que não farei um swap de Viper ali.

Mas as cores do motor, a combinação, muito final dos anos 1990 início dos anos 2000. Motor prata com tampa de válvula Mopar em vermelho. Ficará perfeito no carro.

Dá-lhe enviar estas partes para a pintura eletrostática, enquanto isto o pessoal da Gearhead Garage foi atrás das velas de platina (não íamos trocar, agora vamos, é assim um Project Car, um imenso mundo de idas e vindas, escolhas e mudanças constantes e se for para melhor, então mudar com certeza), buscamos também um sensor novo de temperatura, o que estava lá era o original e detonado pelas gambiarras dos antigos donos (se é que podemos chamar assim, prefiro chamá-los de usuários da Dakota).

Este sensor deu trabalho, tivemos que adaptar um novo funcional e mais confiável, para isto seria necessário refazer o furo para a rosca caber certinho, e para achar a ferramenta? Várias procuras em retíficas atrás da medida correta (17 mm) para emprestarem, pois não fazia sentido comprar esta ferramenta apenas para usar uma vez na Dakota.

Quando todas as peças chegaram, a pintura em vermelho da tampa de válvula ficou incrível! Vai casar completamente com o carro, period correct.

Novo problema? Por que não? Haviam alguns parafusos do motor já enferrujados e ou manchados, coisa de uso normal, mas o motor estava com aquela pintura reluzente, maravilhosa! Resolvemos trocar todos os 10 quilos de parafusos do motor (se não for 10 quilos, é algo próximo disso, haja parafuso!)

Para piorar? Isto ocorreu bem na antecipação de feriados de São Paulo, ou seja, todo distribuidor/fornecedor grande fechou, não valia a pena comprar uma grande quantidade de parafuso em uma loja normal, com o custo lá em cima! Resolvemos esperar….. valeu a pena, em alguns casos, tivemos economia de 60% no custo do parafuso (lembrem-se que que estou falado de alguns quilos de parafusos trocados, a economia foi muito boa, por sinal).

A hora chegou! Vamos montar o motor! Vamos colocar o novo comando bravo e… e….. as varetas ficaram com um espaço de dois dedos…. foi necessário trocar as varetas também. E aqui encontramos o maior problema até então.

Se o comando Edelbrock é para o motor Dodge 318, por que uma folga tão grande nas varetas? Tudo isso apenas por ser um comando bravo? Nem é tão bravo assim, é ligeiramente apenas.

Impasse. Os caras da Gearhead Garage são sensacionais, mas a Dakota era o primeiro Dodge V8 deles, e tiveram que desmontar por inteiro, o estudo foi de ambos os lados.

Fui atrás dos especialistas em Dodge no Flatout Clubsport, localizei o Rafael Zotti no instagram e começamos a conversar, o que era uma simples dúvida virou uma aula de Dodge. Estava fazendo uma m…. gigantesca!

Comprei o comando Edelbrock para Dodge 318 LA! O motor da Dakota é o 318 Magnum, comando roletado enquanto o LA não é. Ou seja, peça de um motor um pouco mais antigo que o Magnum (recomendo a leitura do link abaixo). Continuamos a conversar para buscar uma solução à partir daquele ponto, ou encontrava uma maneira de usar o comando que comprei ou teria que comprar um outro comando específico para o roletado do 318 Magnum. E com recursos limitados isto seria uma péssima alternativa.

Os detalhes técnicos e a história do V8 318 LA dos Dodge Charger e Dart nacionais

Por sorte, seria possível manter o comando Edelbrock desde que colocasse as vareta com dupla cabeça e ocas do Magnum LA. Ia ser um híbrido Dodge Dakota R/T 318 Magnum LA, nada tão period correct do que uma adaptação como esta, é preciso olhar o copo meio cheio. Desvantagens? O carro consumiria mais gasolina, paciência. É um V8. Cavalo que anda é cavalo que bebe.

Comunico toda a informação com o pessoal da Gearhead Garage e depois marcamos um call (estou em Criciúma e eles em São Paulo), ficamos quase 1h no telefone conversando sobre isto e sobre os demais detalhes do projeto e do motor, mas esta despesa não lançarei no controle financeiro do carro, se não estou conseguindo economizar grana, pelo menos economizo linhas de excel. Pedaladas financeiras? Talvez, mas sou a raposa cuidando do galinheiro.

Tudo na mão, todas orientações dadas e motor finalmente montado! Que coisa maravilhosa! Está com o motor pronto (leia: “está com o motor montado, não está desmontado)!

Aproveitamos este período de Endurance Project encalhado na banquisa para tirar as rodas e enviar para a pintura, lembrem-se que elas eram pretas, voltariam à cor prata original. As cinco rodas, por sinal. Rodas enviadas, pneus velhos retirados e mais um problema…. é um problema atrás do outro, vamo que vamo! Uma das rodas estava com a borda quebrada, o ar do pneu não vazava mas não dava para continuar assim, vamos aproveitar e consertar este quebrado, assim as rodas já voltarão zeradas e com os pneus taludos colocados.

Só faltará a funilaria e o escape… Ah, e falta ligar o motor também.

“A banquisa se quebrou em várias partes, é hora de pegar os botes e procurar um local mais seguro, de preferência uma terra firme para que possamos nos recuperar deste período a deriva no terrível mar de Weddell”