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Quais são os prós e contras do estepe temporário?

A notícia de que uma das comissões da Câmara aprovou o Projeto de Lei que pretende banir os estepes temporários alimentou uma discussão calorosa nos comentários do FlatOut em nossas redes sociais e entre os entusiastas em geral. Um lado defende a proibição (que não é bem uma proibição, mas uma obrigação, como veremos mais adiante) por não gostar dos estepes temporários por diversos motivos. O outro lado não vê problemas em comprar um carro com estepe diferente, e alguns até acham que essa intromissão do governo não faz sentido algum.

Muitos leitores perguntaram qual a opinião do FlatOut quanto a isso, então vamos falar sobre o assunto, mas antes de analisar os prós e contras, precisamos fazer algumas observações sobre o projeto de lei.

 

O que diz o projeto?

Como dissemos anteriormente, não se trata de uma tentativa de proibição dos estepes temporários. O que a lei quer fazer é obrigar os fabricantes a fornecer estepes com “idênticas dimensões às das demais rodas e pneus que equiparem o veículo”, porém exclui “os veículos que, por incorporarem novas tecnologias, dispensem o fornecimento de pneus e rodas sobressalentes”.

Aqui cabe uma explicação: todo projeto de lei precisa ser enviado às comissões permanentes das câmaras do Congresso Nacional (a câmara baixa, que é a Câmara dos Deputados; e a câmara alta, que é o Senado Federal). Estas comissões são uma espécie de “órgãos técnicos”, que discutem e votam as propostas que serão apresentadas. Essas Comissões se manifestam emitindo opinião técnica sobre o assunto, por meio de pareceres.

São 25 comissões permanentes, que abrangem todas as áreas da sociedade. Neste caso do Projeto de Lei 82/2015, ele será submetido a cinco comissões, das quais já foi aprovado por duas. Em seguida, ele terá que passar por mais duas antes de ser enviado ao Senado, que também tem suas comissões permanentes. No Senado o projeto passará pelas mesmas cinco comissões (porém agora formadas por senadores) e precisa ser aprovado por todas elas.

Passando pelas comissões o projeto vai a plenário, onde é votado pelos parlamentares presentes. Exceto se estiver tramitando em caráter conclusivo, quando precisa ser apenas enviado ao gabinete da presidência para ser sancionado ou vetado em 30 dias. Caso não seja vetado, ele é automaticamente aprovado.

Portanto, este projeto ainda tem nove etapas pela frente.

 

As vantagens do estepe temporário

Pneus furados são um problema bem menos comum hoje em dia que no passado. Ao menos é essa a justificativa dos fabricantes para a adoção dos estepes temporários. Os motivos reais são outros: o estepe temporário é mais barato, mais leve e ocupa menos espaço. Tanto que no Reino Unido e em outros países de língua inglesa ele é chamado de “space saver tire”, algo como “pneu economizador de espaço”.

Em alguns carros — geralmente projetados em países onde o estepe não é obrigatório — o nicho do estepe sequer tem profundidade para acomodar um estepe de tamanho normal. Um bom exemplo é o Volkswagen Golf GL de terceira geração, que foi vendido no Brasil entre 1993 e 1998. Na Europa ele era oferecido com estepe temporário, mas ao chegar no Brasil a Volkswagen decidiu instalar um estepe idêntico às quatro rodas. O resultado foi um calombo no porta-malas que só foi resolvido com a adoção de uma base para nivelar o fundo.

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Ainda hoje muitos carros vendidos no Brasil adotam esta solução, que quase sempre é adaptada como porta-ferramentas.

Considerando que um estepe temporário tem entre 115 e 135 mm de largura e que a maioria dos carros usam pneus de 165 a 255 mm de largura, estamos falando de uma redução de 3 cm a 12 cm na altura do porta-malas. Parece pouco? Supondo que você tenha um porta-malas de 60 cm de largura por 60 cm de profundidade, estamos falando de 11 a 40 litros a menos só para levar um pneu sobressalente igual aos demais.

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Depois tem o peso: um conjunto de pneu e roda de aço de 15 polegadas pode chegar facilmente aos 20 kg, enquanto um conjunto temporário correspondente pesa entre 10 kg e 13 kg — uma diferença de 7 kg a 10 kg, ou aproximadamente duas caixas de 12 latas de cerveja ou dois sacos grandes de arroz transportados o tempo inteiro na traseira do seu carro. E ainda que pareça pouco demais para afetar o consumo ou o desempenho, esse peso faz diferença na hora mais importante de um estepe: quando você vai montá-lo no carro. Quando você precisa segurar com uma só mão a roda centralizada enquanto gira o parafuso com a outra, estes sete ou dez quilos fazem muita diferença.

No Brasil o estepe temporário ainda tem uma outra vantagem: ele é menos sujeito a roubos. Por não servir para nada além de levar o carro até a borracharia, ele tem pouco valor e, consequentemente, é pouco (ou nada) visado por ladrões.

 

Os contras

O estepe temporário só deve ser usado pelo tempo e distância necessários para chegar a uma borracharia ou a um lugar seguro. Ele tem durabilidade inferior e por isso só pode ser usado a até 80 km/h. Nas cidades isso não é um problema grave, mas em viagens longas um pneu furado pode representar quase metade do caminho em velocidades baixas devido à limitação do pneu.

Além disso, ele não terá a mesma capacidade de frenagem e de tração, nem a mesma aderência dos demais pneus, o que exige ainda mais cuidado na condução.

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Outra crítica frequente é que ele não pode entrar no rodízio de pneus, nem formar par com um pneu novo na hora de trocar os pneus velhos do carro — nesse caso o motorista compra somente um ou três pneus novos e coloca o estepe para completar o par ou o jogo e um dos pneus usados vai para o estepe.

O rodízio com o estepe não é recomendado porque você acabará com pneus com diferentes níveis de desgaste em um mesmo eixo.Já a formação de par com um pneu novo na hora da troca não faz sentido: se um pneu não é seguro para rodar, ele também não é seguro para servir como estepe e, na melhor das hipóteses, deverá ser usado com a mesma cautela necessária com o estepe temporário.

 

E qual a opinião do FlatOut?

Nós três — eu, Dalmo e Juliano — não vemos muito problema em usar um estepe temporário em troca dos seus pontos positivos (redução de peso, mais espaço e facilidade de uso). Mas também não achamos que ele deva ser o padrão da indústria, muito menos proibido por uma lei.

Diferentemente de uma geladeira ou de uma motosserra, um carro tem diferentes usos e utilidades. Por isso, agora falando por mim (Leo) a situação ideal seria ter, na hora da compra, a opção do tipo de estepe (ou kit de reparo) que irá acompanhar o carro. Temos um nicho para as concessionárias aqui, não?

Quem viaja e não tem seguro, certamente irá preferir levar um estepe convencional no porta-malas. Quem tem seguro ou não se importa em correr o risco de ter que fazer metade da viagem em baixa velocidade e com cuidado, irá se contentar com o pneuzinho. Ou com um kit de reparo.