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Projetos

Silver Arrows Project: contando a história das Flechas de Prata com fotografia e computação gráfica

Na década de 1930, as corridas de Grand Prix (que deram origem à Fórmula 1) foram dominadas pelos chamados Silver Arrows, ou “Flechas de Prata” — os monopostos da Mercedes e da Auto Union (você pode ler a história nestes posts especiais). Foi uma época romântica do automobilismo, onde vencer a qualquer custo significava fazer concessões e bolar soluções rápidas e eficientes diante de situações inesperadas. Rivalidades ferozes, circuitos desafiadores e carros que não eram exatamente seguros também fizeram do período antes da Segunda Guerra um dos mais perigosos do automobilismo.

Acontece que, como eram os anos 30, muito pouco daquilo foi documentado — o que se conhece veio de algumas fotos antigas e sem cores e relatos de quem viveu para ver aquela época. Não há muito material visual.

Aqui entra o Silver Arrows Project, que une fotografia e computação gráfica para nos dar um olhar inédito sobre esses tempos gloriosos do automobilismo. E o resultado é estonteante. Duvida?

01-1934_Nurburgring

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Lindo, não? Esta imagem, chamada “The Legend Is Born — Nürburgring, Alemanha — 3 de junho de 1934”,  retrata o início da história das Flechas de Prata, ou Silberpfeil, quando (segundo a lenda) o chefe da equipe, Alfred Neubauer, e o piloto Manfred von Brauchitsch removeram a pintura do Mercedes W25 para mantê-lo dentro do peso máximo permitido para a Fórmula 750, que era de — vejam só — 750 kg. Alguns dizem até que o carro pesava exatamente um quilo acima do limite. Não se sabe se isto é verdade, mas é uma bela história — e a imagem acima a ilustra de forma impecável.

Naturalmente, os anos 1930 não eram como hoje, quando um “fotógrafo” nasce toda vez que alguém baixa o Instagram. Naquela época câmera eram raras, e mais raros ainda eram os que sabiam usá-las. Sendo assim, os caras por trás do Silver Arrows Project — os artistas gráficos Jan Rambousek e Tomas Kopecny, e o curador Jun Okuma (que também é fotógrafo e cineasta) — decidiram recriar cenas históricas baseadas em relatos e fotografias antigas e produzindo imagens de altíssima resolução, com 170 megapixels, ou 20.000 px.

Para isso, foram usadas fotos reais e elementos feitos com as mais avançadas técnicas de modelagem 3D. Uma extensa pesquisa de campo, com fotos e carros reais, foi realizada para que tudo fosse o mais fiel possível — não apenas os carros e cenários, mas toda a atmosfera da década de 1930, incluindo as pessoas (centenas delas foram caracterizadas), suas vestimentas e seu comportamento. O nível de detalhes é assustador, e fica ainda mais quando vemos o vídeo com o making of:

[vimeo id=”98970774″ width=”620″ height=”266″]

Tudo começou com alguns esboços — os primeiros conceitos, que já davam uma ideia de como ficariam as imagens finais. Foram escolhidos momentos importantes na história dos Silver Arrows, retratados em mais onze imagens além da que mostramos acima, e boa parte dos elementos das fotos foi construída e inserida digitalmente — os autódromos, por exemplo, estão bem diferentes do que eram há 80 anos — isso falando apenas dos que ainda existem.

Mais de 20 veículos, foram modelados digitalmente — e não só os monopostos de Grand Prix, mas também veículos para compor o cenário. O resultado você confere a seguir.

 

“DEFEAT BUT NOT DESPAIR” – MONTLHÉRY, FRANÇA – 1 DE JULHO DE 1934

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No dia 1º de julho de 1934, Louis Chiron venceu as Flechas de Prata da Mercedes no Alfa Romeo P3, que era um carro menor e menos potente. A situação não se repetiria nas quatro outras corridas da temporada — duas delas ficaram com a Mercedes, uma com a Auto Union, e uma com a Bugatti.

 

“EPIC WIN ON AN EPIC TRACK” – MELLAHA, LÍBIA – 12 DE MAIO DE 1935

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O circuito de Tripoli ficava em Mellaha, na Líbia — que na época era uma colônia italiana na África —, e era um dos circuitos mais rápidos do mundo. A imagem retrata o piloto da Mercedes Luigi Fagioli se distanciando do resto do grid logo no início do Grande Prêmio de Tripoli em 1935. Naquela corrida, as Flechas de Prata da Mercedes ficaram com as duas primeiras posições.

 

“STONED TO LIFE” – LASARTE, ESPANHA – 22 DE SETEMBRO DE 1935

04-1935_Lasarte

Duas Flechas de Prata, uma disputa: Luigi Fagioli, da Mercedes, ultrapassa Bernd Rosemeyer, da Auto Union, no circuito de Lasarte, na Espanha — conhecido por seu terreno cheio de pedras. A Mercedes acabou vencendo a corrida, além de abocanhar a segunda e a terceira posições.

 

“THE ‘RAINMASTER’ REIGNS” – MÔNACO – 13 DE ABRIL DE 1936

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Uma forte chuva no circuito de rua de Mônaco acabou provocando uma série de acidentes na corrida, mas isso não impediu as Flechas de Prata de ficar com as três primeiras posições. O vencedor foi Rudilf Caracciola, no Mercedes-Benz W25K, seguido de Achille Varzi e Hans Stuck, cada um em um Auto Union Type C.

 

“STEEPER, STRONGER, FASTER” – AVUS, ALEMANHA – 30 DE MAIO DE 1937

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O famoso anel de Avus, na Alemanha,  foi palco da épica disputa entre Bernd Rosemeyer, da Auto Union, e Rudolf Caracciola, da Mercedes. Naquele dia, Rosemeyer estabeleceu o recorde de 4:11,2 a uma velocidade média de 276,39 km/h do circuito, que prevaleceu por 34 anos.

 

“THE BEND THAT BROKE” – BRNO, TCHECOSLOVÁQUIA – 26 DE SETEMBRO DE 1937

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Tazio Nuvolari, um dos maiores pilotos de todos os tempos, perde um pneu de seu Alfa Romeo no antigo circuito de rua de Brno, na atual República Checa. Ele ainda consegue chegar em quinto, mas acaba indo pilotar pela Auto Union no fim da temporada de 1937. Rudolf Caracciola venceu aquela corrida pela Auto Union.

 

“DO THE DONINGTON HOP” – DONINGTON, INGLATERRA – 2 DE OUTUBRO DE 1937

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Um salto épico no circuito de Donington, no Reino Unido, protagonizado por  Manfred von Brauchitsch no Mercedes W125 e Bernd Rosemeyer no Auto Union Type D, em 1938. A corrida, que não fazia parte do campeonato, foi vencido por Tazio Nuvolari, também da Auto Union.

 

“BURN AND CRASH” – NÜRBURGRING, ALEMANHA – 24 DE JULHO DE 1938

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Manfred von Brauchitsch é puxado de seu carro em chamas pelo chefe de equipe Alfred Neubauer. Graças à ação rápida da equipe para conter o fogo, ele ainda consegue voltar à corrida — mas sofre um acidente com seu W154. Seu colega de equipe, Richard Seaman, acabou vencendo a corrida.

 

“LET IT RAIN” – BREMGARTEN, SUÍÇA – 21 DE AGOSTO DE 1938

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Uma chuva torrencial encharca os três pilotos da Mercedes:  Manfred von Brauchitsch, Rudolf Caracciola e Richard Seaman, que está à frente. No fim das contas, Caracciola consegue ultrapassar Seaman na 11ª volta e vence a corrida, fazendo jus a seu apelido de “Rainmaster”.

 

“A DAMPENED VICTORY” – SPA, BÉLGICA – 25 DE JUNHO DE 1939

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Uma vitória triste: Hermann Lang, pela Mercedes, passa pelo que sobrou do carro de Richard Seaman, seu colega de equipe, que morreu pouco depois do acidente em Spa. Lang venceu a corrida, mas ele e a equipe toda estavam de luto.

 

“THE FATHERLAND’S FINALE” – NÜRBURGRING, ALEMANHA – 23 de julho de 1939

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Esta foi a última vitória de Rudolf Caracciola, que cruzou primeiro a linha de chegada diante de 250 mil pessoas em Nürburgring Nordschleife. Também foi a última corrida na Alemanha antes do estouro da Segunda Guerra Mundial.

 

As imagens foram expostas durante o Goodwood Festival of Speed, em junho, e agora estão disponíveis para a compra em formato impresso. A alta resolução permitiu quadros bem grandes e detalhados — as maiores impressões medem  260 x 110 cm (!), mas destas só serão feitas cinco unidades. Além destas, há impressões de 110 x 46 cm (limitada a 80 unidades) e 56 x 29 cm (limitada a 800 unidades). Há, ainda, um jogo de cartões postais de 23 x 10 cm — e você pode garantir o seu aqui.