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Project Cars Project Cars #09

Sonho de infância: a história do BMW 850i de Marco Centa

Olá pessoal do FlatOut, me chamo Marco, sou de Londrina, Paraná. Sempre gostei muito de carros – minha primeira palavra foi “tátá”, que era como eu chamava as VW Brasílias (por causa do barulho do escape delas), e desde pequeno sabia nome de todas as marcas e modelos. Como muitos aqui, devorava todas as revistas de carros da época, mês após mês.

Quando passei a morar em Curitiba, via todas as novidades circulando pela Visconde de Guarapuava, rua pela qual passávamos todo domingo, no caminho para o almoço da nona. Eis que em 1993, com quase dez anos de idade, encontro pela primeira vez um BMW. Vi um vulto prata assobiando ao acelerar por nós, logo depois parando no semáforo. Perguntei ao meu pai que carro era aquele e ele, lendo na tampa traseira, afirma: “é uma… BMW 850i, filho”. A lembrança daquele automóvel ficou cristalizada na minha memória.

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Os anos se passaram e essa paixão foi evoluindo. Meu primeiro carro foi (e ainda é, pois ainda está comigo) um Gol G3 1.0 8v. Hoje ele só tem a carcaça de Gol, pois está com um 2.0 T. Nessa época convivi bastante com a família VW: adquiri uma Saveiro G3 1.8 e também uma Parati 1.8, que seguiam meu estilo Henry Ford de criatividade e eram pretas (tinham inclusive as mesmas rodas do Gol, TSW Fly). Até que um dia, de férias, encontro em minha cidade um 328i 1996 manual. Preta, claro.

Fiquei as férias todas pensando no carro e quando finalmente fui vê-la, não teve jeito, comprei no ato. Dali em diante minha paixão pela marca foi crescendo, especialmente pela geração E36, cujos modelos fui adquirindo (e vendendo os VW – só ficou mesmo o golzinho, ao qual sou bastante apegado) e, apesar do 850i ser minha referência no universo BMW, o preço deles ainda era algo que não podia assumir.

Até o dia em que a vi, minha grandona. Entrei no Mercado Livre para fazer aquela pesquisa básica por BMW (todo fanático por alguma marca acaba fazendo isso numa rotina, no meu caso, quase diariamente) e encontro o anúncio de um 850i, preto, todo desmontado. O antigo dono, achando 300 cv pouco, resolveu comprar um V8 Chevy LS7 e colocar dois turbos. Tirou o M70 original e deixou num canto. Porém o resultado não foi dos melhores, então ele resolveu encostar o carro e vender para alguém que se interessasse em reconstruí-lo.

Olhei aquilo e pensei: é minha chance! Foram alguns bons meses de negociação e não chegávamos a um acordo. Cheguei a desistir. Até que, num último esforço, resolvi tentar mais uma vez. Mandei um e-mail simples e direto: “Sr. X, o que posso pagar é R$ x, aceita?” Foram três dias sem resposta até uma ligação dele dizendo: “pode vir que ela é sua”.

Então era isso. Havia comprado um carro que não estava funcionando, cujo motor estava solto num canto, que estava a mil km de distância e que só tinha visto por três fotos minúsculas pela internet. Prêmio joinha pra mim. Pesquisei e pedi indicações a quem podia, e consegui achar um especialista da marca bem próximo de onde ele estava. Acertamos que o profissional iria até o carro e me daria o aval para a compra, considerando todo o histórico. Daí vieram as primeiras impressões:

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Após uma conversa pelo telefone, ele me afirma que o carro, apesar de ser um projeto que precisasse de investimento e atenção, naquele momento, ainda valia a pena. E lá vem a minha grandona pra casa…

Lembro que ela chegou num domingo à noite. Eu saí de casa com minha esposa e fui até o pátio de manobra da empresa de guincho, tentando achá-la, pois não me aguentava até segunda pela manhã. Rodamos e rodamos, mas não conseguimos encontrá-la. Mal dormi aquela noite.

No dia seguinte, pulei da cama muito cedo e fui logo até o pátio, para vê-la ao vivo. Juro que me segurei quando a vi: apesar do escape estar solto e de haver dezenas de fios passando por toda a cabine, ela estava linda!

Minha esposa estava revoltada ao meu lado (bem, havia “esquecido” de avisar que o carro não funcionava) e eu, olhando aquilo como criança vendo brinquedo na vitrine. Levamos o 850i até uma concessionária da marca para a primeira análise mais profunda, levantando tudo o que faltava e que seria necessário para a restauração.

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Foram três anos entendendo toda complexidade da operação, mudando o projeto zilhões de vezes (oito, para ser exato – cenas para os próximos capítulos) e definindo o que efetivamente seria feito para que ela voltasse à vida e ao brilho que roubou meus olhares na minha infância.

Apesar destes quase quatro anos, ainda sinto que vale todo o esforço. Só de entrar na oficina e vê-la no canto, suja, coberta por uma capa de vinil azul pela metade e com o bico com os faróis escamoteáveis à mostra, já abro largo sorriso. Ainda mais por lembrar que, em breve, vou tê-la em minhas mãos, acelerando comigo, conduzindo aquele “vulto”que me cativou desde pequeno. Esta é uma das maiores satisfações.

Ah, e qual a razão do apelido “Lil’Frankie”? Apesar de em casa ela ser conhecida por “grandona” (afinal, ela é gigante comparada com os outros carros), depois de todas as mudanças no projeto inicial, hoje ela é minha pequena Frankenstein. Nas próximas atualizações vocês entenderão o por quê. Na imagem de destaque tem uma pequena dica.

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Por Marco Centa, Project Cars #9

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