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Motos

Top Mountain Motorcycle Museum: este santuário das duas rodas foi destruído pelo fogo

Há pouco mais de cinco anos, em dezembro de 2015, desenvolvi uma obsessão quase doentia por David Robert Jones – o lendário David Bowie. Sempre gostei de música antiga, rock setentista, sons experimentais, álbuns clássicos, mas nunca havia prestado muita atenção no trabalho do Starman. Então, resolvi começar a explorar sua discografia pelo emblemático The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, de 1972. Foi o quinto álbum de Bowie – e o primeiro a trazer seu alter ego Ziggy Stardust, um correspondente de seres extraterrestres no planeta Terra que usa a música para espalhar suas mensagens.

“Five Years”, “Moonage Daydream”, “Starman” e, claro, “Ziggy Stardust”, foram algumas das canções que embalaram minha vida naquele período. Ouvi todas elas exaustivamente, maratonei os outros álbuns clássicos de Bowie e até fiz uma tatuagem com seu rosto no braço. Bowie virou meu herói e eu queria ser como ele. Tudo no espaço de poucas semanas.

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Então, ele morreu. Era 10 de janeiro de 2016, dois dias depois de seu aniversário de 69 anos – e do lançamento de seu último álbum, Blackstar. O homem sabia que iria morrer e já havia deixado o registro pronto para o lançamento. Ele havia planejado tudo. Visionário, genial, irônico e meio mórbido, na verdade.

Fiquei devastado. Eu literalmente havia acabado de me tornar um fã incondicional de David Bowie – ele se tornou uma de minhas paixões longe do mundo dos carros. Tocar “Ziggy Stardust” com minha antiga banda era delicioso.

David Bowie, aliás, nunca teve uma ligação muito forte com carros ou veículos em geral. Ele provavelmente não era um entusiasta – seu negócio era a música, ou mesmo a arte de forma geral. Mas resolvi falar dele para pontuar como é triste descobrir algo maravilhoso e, logo em seguida, ver este algo desaparecer de repente.

E foi mais ou menos isto que aconteceu com o Top Mountain Motorcycle Museum, um verdadeiro santuário dedicado às motocicletas que você provavelmente não conhecia – e que, neste início de ano, já não existe mais. O local, aninhado entre as montanhas dos Alpes austríacos, foi destruído por um incêndio na madrugada de segunda-feira (18).

Então, se você não sabia da existência deste museu onde mais de 230 motocicletas clássicas de todos os estilos e origens ficavam em exposição, algumas delas valiosíssimas, e também alguns carros antigos e de competição, bem… agora você sabe. Mas ele não existe mais.

O museu foi criado pelos irmãos gêmeos Alban e Attila Scheiber e inaugurado há pouquíssimo tempo – em 2016. O complexo de exibição com mais de 3.000 m² ficava estrategicamente localizado no passo de Timmelsjoch, na fronteira da Áustria com a Itália (onde é conhecido como Passo del Rombo). Localizado 2.175 metros acima do nível do mar, o museu era conhecido como o mais alto do mundo. Mas este, nem de longe, pode ser considerado seu maior atrativo. Este fica por conta do incrível acervo reunido pelos irmãos Scheiber, que era possivelmente a maior coleção de motos da Europa.

As dezenas e dezenas de motos expostas no museu pertenciam a mais de 100 fabricantes diferentes espalhadas pelo mundo – americanas, asiáticas e europeias, como Indian, Harley-Davidson, Vincent, Brough Superior e, claro, Honda, Yamaha e as outras gigantes orientais.

As mais antigas datavam dos primeiros anos do século 20 – sendo que a mais antiga de todas, talvez por questão de orgulho, era uma moto austríaca: uma Laurin & Klement CC Dourdan de 1905, que mais parecia uma bicicleta com motor V-twin, e segundo a descrição no site do museu (que ainda sequer noticiou o incêndio), provavelmente foi uma das últimas motos feitas pela fabricante antes da falência.

Se a austríaca Laurin & Klement estava no museu por respeito à pátria dos Scheiber, diversas motos italianas também ocupavam o local por questão de proximidade e importância histórica. Diversas Ducati, uma boa variedade de Aprilia, Moto Guzzi e MV Agusta – talvez as mais fáceis de encontrar por aquelas bandas – dominavam o local. Por outro lado, havia espaço para as alemãs da Zündapp, as francesas da Peugeot, as britânicas da Norton e da Triumph e as americanas Harley e Indian.

Em nome da variedade, a organização do museu sempre promovia a ideia de “motocicleta do mês”, como forma de dar destaque a todas as máquinas igualmente. Em janeiro de 2021, a vez era da Zündapp Z200 1928 – de uma época na qual, com apenas 4,5 cv em seu motor monocilíndrico de 198 cm³, podia ser conduzida por qualquer jovem com mais de 16 anos. Não andava muito, mas representava a liberdade de quem só andava a pé até então.

 

Visitar o catálogo digital do museu é triste neste momento – saber que as motos que aparecem nas fotos viraram uma pilha carbonizada de metal e borracha.

Além da quantidade absurda de motocicletas, o local também possuía uma belíssima arquitetura. O pavilhão de exposições unia um desenho clean e moderno com uma estrutura em madeira e a reprodução de um oval do tipo board racing no qual as motocicletas ficavam posicionadas – era quase um diorama em tamanho real, exceto que as peças de motos nas paredes e a iluminação davam ao local um ar de lounge muito agradável.

 

Para satisfazer àqueles que preferem mesmo as quatro rodas, porém, o local também abrigava carros – um seleto grupo composto por um Aston Martin DB5, um Porsche 356 e um 959, uma Ferrari California Spider, um Ford Mustang de corrida da década de 1960 e um Lotus 23B. Eles também pereceram no incêndio, infelizmente.

Foto: Ronan Glon/Autoblog

O local também abrigava um restaurante temático, com motocicletas nas paredes e componentes das motos entre as mesas. E, como ficava nas adjacências do clube de esqui de Timmelsjoch, o museu era ligado ao mesmo por um sistema de teleféricos para quem quisesse esticar o passeio.

É uma pena que a própria construção do local não tenha favorecido suas chances de sobreviver ao incêndio. As chamas começaram por volta das 4h da manhã do dia 18 e a causa ainda não foi descoberta. Os bombeiros foram acionados imediatamente mas, como o museu ficava em um local mais afastado, o fogo não teve dificuldades em se propagar pela estrutura de madeira, levando consigo os veículos.

 

Os estragos ainda estão sendo avaliados, mas é bem provável que os veículos não tenham sobrevivido. O futuro do museu é extremamente incerto – o prejuízo ainda não foi avaliado e os proprietários provavelmente ainda não digeriram direito o ocorrido.

Na verdade, não imagino quando eles conseguirão fazê-lo. E agora, nós também podemos lamentar por ter perdido a chance de conhecer este lugar que não existe mais.