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Project Cars Project Cars #172

Trazendo um Ford Corcel de volta à vida: a história do Project Cars #172

Salve salve, povo gearhead! Meu nome é Renan Santos, sou engenheiro mecânico por formação e projetista de ar-condicionado por profissão, sou de São Paulo e tenho 25 anos. Sempre fui apaixonado por tudo que envolva engrenagens, motores ou qualquer outra coisa ligada à engenharia, mas tenho um apreço especial pelos carros — sentimento que me levou a decidir a carreira que iria seguir em minha vida desde os 11 anos de idade!

Sempre fui fã de carros antigos, principalmente hot rods e carros grandes como o Ford Landau.  Assim que tirei minha habilitação decidi que teria um carro antigo, pensava em algo como Opala, Maverick e até um Landau. Conversando com meu pai em 2009 (época de estudante logo a grana estava curta) ele decidiu me ajudar a comprar um carro. Uma bela noite ao chegar do trabalho e durante o jantar ele simplesmente me diz: “Comprei aquele Corcel parado na outra rua” e como um passe de mágica o bom humor da minha mãe sumiu e o silêncio imperou por quase uma hora, após o silencio veio à briga entre os dois devido à “nova” aquisição e durou mais de uma semana. Fiquei feliz por ter meu primeiro carro, porem não me lembrava de qual carro se tratava, mas sabia que era algo marrom parado na rua próxima.

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Você não possui um project car, o project car que possui você

Como não lembrava do carro era, corri para o computador e fui pesquisar um pouco sobre o mais novo integrante da família. Descobri que se tratava de um pequeno carro da Ford, cuja produção se deu inicio no final da década de 60. Inicialmente, o projeto era uma parceria entre a Willys Overland e a Renault, juntas estavam desenvolvendo o projeto M de carro médio, que em outros países sobre a marca francesa deu origem ao Renault R12. A versão tupiniquim desse projeto surgiu devido à compra da Willys pela Ford em 1967. Lançado inicialmente como um sedã de quatro portas com motor 1.3 de 68 cv, depois viria a versão duas portas, a esportiva GT XP com o motor 1.4 de 85 cv, motor o qual foi adotado em toda a linha tempos depois com carburador simples e 75 cv, a adoção do nome GT ao invés do GT XP, mas mantendo a potência, e a versão station wagon Belina. Ele trouxe algumas novidades como sistema de arrefecimento selado e coluna de direção bipartida, tração dianteira e a estrutura era monobloco, como nos DKW-Vemag, porém de construção mais moderna.

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Renault R12: convenhamos que a versão tupiniquim é bem mais agradável

Admito que quando vi tais informações meio que torci o nariz. Não foi um caso de amor a primeira vista, mas o carrinho tinha potencial e estilo clássico. Passado todo o inicio da confusão, em um sábado meu pai decidiu pegar o carro e deixar no estacionamento do armazém onde ele trabalha por questões de segurança. Ele saiu para pegar o carro que estava algumas casas de distância da minha e dentro de casa eu escutava ele tentando fazer o carro pegar e tentando subir uma pequena ladeira com ele.

Saí para esperá-lo chegar com o carro e irmos até onde ele ficará guardado. Lá veio ele, com aquele carro marrom que parecia ter sido pintado com tinta spray (e na verdade tinha sido mesmo), uma barulheira devido o escapamento furado e uma fumaça azulada do motor queimando óleo. Fiquei ali parado na frente de casa e pensando no que eu fui me meter, mas contente por ter meu carro antigo como sempre quis e, melhor ainda, como presente do meu pai.

Um fato de que nunca vou me esquecer, será do vizinho passar e falar com tom irônico e de deboche “Que belo carro seu pai foi te comprar!”. Dei aquela risada meio sem graça e deixei pra lá. Entrei no carro do lado do passageiro com meu pai me dizendo que ele ia levar o carro porque eu não saberia dirigir ele, meio cabisbaixo por não poder dirigir meu carro, apenas concordei e sentei no banco do carona.

O interior estava sujo de poeira, coloquei o cinto de segurança e nem percebi que ele tinha sujado minha camiseta. Abri a janela tirando a chave de fenda que segurava o vidro e como não tinha visto nenhuma chave no contato perguntei como se ligava aquele carro. Meu pai me explicou da mesma forma que o antigo dono o havia ensinado: “Você aciona esse interruptor e aperta esse botão aqui”. Começamos a rir e ele brincou” Por mil reais você queria o quê?”

 

E lá fomos nós da região da Penha, na capital São Paulo até a cidade de Guarulhos/SP. Fui percebendo como o carro era e como mesmo com o motor queimando óleo ele ainda tinha um torque considerável pra andar pelas subidas do caminho. Também aprendi que devagar se vai longe.

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Primeira foto, ainda tímida e de baixa resolução

Enquanto deixava o carro e aguentava todas as risadas e piadas possíveis devido a situação, só conseguia pensar em uma coisa, o que eu iria fazer com esse carro? Acabei por fazer a seguinte divisão:

  1. Restauração: deixar o carro integro e em condições de se rodar no dia-a-dia e poder até pegar estrada às vezes.
  2. Performance: modificar o motor ou trocar para um mais potente
  3. Personalização: instalar som personalizado e outras perfumarias, mas sempre deixando o visual como o de fabrica.

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Início da fase 1, em 2009

Com o passar do tempo, fui me apegando mais ao carro devido a todo o processo de funilaria, pintura, estofamento e elétrica e toda a dor de cabeça gerada durante o processo. Processo que envolveu três funileiros diferentes, três eletricistas, um estofamento que deverá ser refeito em breve e muita dor de cabeça. Cheguei ao ponto de trocá-lo por um Gol “bolinha” verde, mas acabei pegando o Corcel de volta devido a falta de pagamento e mantive os dois carros.

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A “troca”, que no final veio para somar

Também fui amadurecendo a ideia fugindo do cronograma com a compra de algumas peças. Após o término da restauração e início da convivência com o carro fui notando algumas “características” do Corcel. O fato de acender os faróis sozinhos, pegar de primeira apenas quando queria e travar o cinto da minha noiva e só liberar apos uma conversa renderam um nome: Christine. Sim o nome é um clichê devido ao filme, mas caiu perfeitamente com a personalidade forte do carro. Embora muitos dos defeitos tenham sido resolvidos ela ainda continua com uma personalidade forte.

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“A” Corcel com temperamento forte e que vive de TPM

O texto foi meio longo, mas nos próximos posts irei detalhar mais todo o processo de restauração, luta para conseguir as peças e dores de cabeça com quem já mexeu no carro e tudo mais que ocorreu para chegar ao ponto que estou agora, com um projeto quase no fim. Enquanto isso, vou deixar um teaser de como está o carro atualmente, entre as fases dois e três. Até o próximo post, pessoal!

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Por Renan Santos, Project Cars #172

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