É seguro dizer que as peruas esportivas têm um lugar reservado nos sonhos de todo gearhead. O problema é que quase sempre elas são caras demais. Veja os modelos da linha RS da Audi, por exemplo: mesmo que você procure um modelo com 15 anos de uso — que é aquela fase em que os carros já deixaram de ter status, mas ainda não caíram nas garras dos especuladores de clássicos — ele não sairá por menos de R$ 50.000.
Felizmente, em algum momento dos anos 1990, a Volvo decidiu trazer para o Brasil seus tijolos turbinados. Foi exatamente um destes que encontramos à venda e em estado de conservação bem razoável para sua idade: um 850 SW T-5 R, a primeira da linhagem esportiva que hoje é representada pela V60 T6 R-Design (que avaliamos neste post imperdível!).
O Volvo 850 (ou 855, como a perua é conhecida entre os fãs da marca) foi lançado nas versões sedã e perua em 1992 para dar sequência à carreira da robusta série 200. Como era tradição, os modelos vinham equipados com motores turbo de quatro cilindros, cujo desempenho se igualava aos grandes modelos V6 da época — algo essencial para conquistar o público americano, que era o principal mercado da Volvo.
Desde os anos 1980, a Volvo tentava vender o apelo esportivo do alto desempenho de suas peruas, começando com a série 700, de tração traseira, que recebeu uma campanha publicitária tão bem sacada quanto bem humorada. Veja só:
Enquanto a Ferrari não fizer uma perua, essa é a opção
A idéia por trás da perua Volvo Turbo
Boas, não? Só que, embora isso fosse meia-verdade (ou talvez 1/4 de verdade, pensando bem) até então eles só prometiam esse desempenho matador, deixando a cargo do comprador provar se era verdade ou não.
Até que em 1994, a Volvo decidiu que não faria um novo 850 sedã para o BTCC. Em vez disso, eles usariam um 850 Station Wagon, e para isso eles chamaram ninguém menos que Tom Walkinshaw. A perua não ganhou o título, mas deixou claro para todo o mundo que as peruas Volvo tinham desempenho matador apesar do visual quadrado e careta em uma época de curvas e cantos arredondados e elementos circulares. As imagens do 850 SW voando nas pistas são tão fortes que até hoje as siglas T5 e T6 acompanhadas do sobrenome R são sinônimo de esportividade.
Mas nada disso adiantaria se eles não tivessem colocado uma versão desses carros nas ruas. E assim surgiu o carro que encontramos anunciado no OLX.
Este 850 SW T-5R anunciado é um dos 5.500 exemplares produzidos em série especial do modelo — que foi oferecido nas versões sedã e perua. Ele usava o mesmo motor 2.3 turbo das versões mais comportadas, porém a ECU Bosch foi reprogramada para liberar o funcionamento da turbina com 0,1 bar de pressão a mais, o que resultou em 243 cv e 34 mkgf. Esse potencial todo (estamos falando de 1995, lembre-se! A Ferrari F355 tinha 381 cv) era moderado pelo câmbio automático de quatro marchas.
Apesar de soar um pouco decepcionante, o desempenho era brutal para um caixote sobre rodas: 5,8 segundos para ir de zero a 100 km/h e velocidade máxima limitada eletronicamente a 250 km/h. E ele era bom de curva também: com os pneus Pirelli P-Zero originais, ele conseguia 0,88 g de aceleração lateral, segundo dados da fábrica.
E caso você esteja pensando algo como “ah, mas a Audi RS2 era desenvolvida pela Porsche”, saiba que nesta época alguns motores e transmissões da Volvo receberam um ajuste fino da fabricante de esportivos de Stuttgart, e este 2.3 turbo foi um deles.
Por dentro, o T-5 R se diferencia pelos bancos em couro preto com detalhes em Alcantara nas bordas e pelo volante seguindo o mesmo esquema, com Alcantara revestindo a parte inferior. Na época, alguns proprietários do modelo 850 T5 (sem o R atrás) usarem os emblemas da versão R ou ainda confundirem os modelos, por isso o acabamento interno e o logotipo R com a bandeira quadriculada na traseira é a única forma de diferenciá-los visualmente.
Aproveitando que já contamos a história do carro, aqui vão algumas curiosidades sobre ele: as rodas são de 17 polegadas, mas a Volvo oferecia um conjunto de 16 polegadas como opcional sem custo para quem quisesse uma rodagem mais macia. E ele também já usava cintos de três pontos para os cinco ocupantes, airbags laterais como opcional e luzes diurnas (mas não de LED). Apesar de ser lançado em 1995, ele já usava o protocolo de diagnóstico OBDII, que se tornaria o padrão mundial somente em 1996.
O 850 T-5 R foi produzido somente em três cores, amarelo, preto e verde esmeralda metálico (o mais raro deles). Este exemplar à venda em Colombo (PR), é uma das 3.025 unidades feitas nesta cor. Não há um registro exato de quantos 850 T-5 R foram vendidos no Brasil. Nos EUA, que tem um mercado cerca de 10 vezes maior que o nosso, foram 904.
A julgar pelas fotos, o modelo à venda mantém praticamente todas as especificações originais — incluindo as rodas pretas, que eram pintadas de fábrica 15 anos antes de virar uma febre mundial. O painel mantém os detalhes em madeira, e o padrão dos bancos de couro combinando com Alcantara é exatamente aquele entregue pela fábrica. Segundo o vendedor, ele está pouco rodado, também: apenas 63.000 km. O único elemento original modificado foi o rádio, que deu lugar a um DVD moderno.
O valor cobrado é relativamente baixo para um modelo com essas especificações e essa raridade: R$ 20.000, pouco mais que o que se pede por um 850 SW turbo em bom estado de conservação — e bem menos que aquela outra perua moldada pela Porsche. Se vale a pena, é vocês quem decidem.
[ via OLX / Sugestão de post: Ivan Voigt]
“Achados Meio Perdidos” é o quadro do FlatOut! na qual selecionamos e comentamos anúncios de carros interessantes ao público gearhead, como veículos antigos, preparados, exclusivos e excêntricos. Não se trata de uma reportagem aprofundada e não nos responsabilizamos pelas informações publicadas nos anúncios – todos os detalhes devem ser apurados com o anunciante.