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Um motor de Porsche 911 era tudo o que faltava para o Karmann Ghia

O Volkswagen Karmann Ghia, lançado em 1955 na Alemanha e fabricado também no Brasil a partir de 1962, sempre foi um carro estonteante. Mas há outra coisa que ele sempre foi: lento. O motor VW, um boxer de quatro cilindros refrigerado a ar praticamente idêntico ao do Fusca, tinha desempenho muito aquém do esperado para um carro de desenho tão fluido e esportivo (para a época).

Se na época do lançamento o Karmann Ghia já era mais procurado por seu estilo do que pela (pouca) força de seu motor, hoje em dia a situação é ainda mais extrema, visto que o padrão de desempenho atual é bem maior do que o de cinco, seis décadas atrás — se alguém que um Karmann Ghia original, certamente a pessoa está procurando um carro de coleção ou uma máquina para curtir devagar, aproveitando o charme que os anos lhe deram.

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A solução é modificar. O Karmann Ghia de primeira geração é um carro relativamente raro no Brasil, com apenas 23.393 cupês fabricados (e 177 conversíveis), e por isso a ideia de modificar um dos poucos exemplares em bom estado que sobraram causa estranheza até nos que têm a mente mais aberta.

Por sorte,  em sua terra natal a ideia é um pouco menos, digamos, perigosa:  foram fabricadas pouco mais de 445 mil unidades do Karmann-Ghia cupê — um número bem maior, que torna bem mais fácil a missão de encontrar e modificar um exemplar com o intuito de transformá-lo em um esportivo legítimo.

É claro que de nada adianta dar corpo a uma ideia se ela não for boa. Mas não se preocupe — a preparadora alemã Bader Racing tinha a melhor ideia que alguém poderia ter: colocar um boxer de seis cilindros Porsche naquele cofre.

Parece que, na hora de projetar o Karmann Ghia, os engenheiros previram que alguém decidiria colocar um motor maior ali. Dê só uma olhada no cofre deste KG com motor de Subaru Impreza e note como sobra espaço:

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É claro que a instalação de um flat-6 não foi isenta de adaptações, mas as imagens deixam claro que o motor do 911 ficou até à vontade em sua nova casa. E a escolha do carro doador também provou-se acertada: trata-se de um motor de 3,6 litros e 289 cv vindo direto de um 911 993 — a última geração de motor refrigerado a ar.

A Bater Racing poderia dar-se por satisfeita com o motor totalmente original — já seria um salto e tanto, pois o Karmann Ghia original tinha, no máximo, 60 cv —, mas decidiu-se por melhorar ainda mais o desempenho do Karmann-Ghia e preparou de leve o motor usando peças da versão de competição, o Porsche 993 Cup.

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Com filtro de ar, coletor de admissão e módulo de controle do motor do Cup, mais um aumento na taxa de compressão e comandos de válvulas mais bravos, a potência aumentou para 328 cv, com torque de 39,k mkgf. A transmissão manual de seis marchas também veio do 993, que também cedeu o diferencial autoblocante, e recebeu uma embreagem de competição da Sachs.

Segundo a Bader Racing, o Karmann Ghia com motor de Porsche 911 993 é capaz de acelerar até os 100 km/h em 4,4 segundos com velocidade máxima de 305 km/h. Mas não foi só o desempenho em retas que mereceu atenção: a suspensão foi toda retrabalhada e agora tem amortecedores ajustáveis e braços sobrepostos — tudo para que o carro se dê melhor com as curvas.

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Os freios (com ABS) são do Porsche 991 Turbo e se escondem atrás de rodas de 17×8 polegadas, calçadas com pneus  215/40 na dianteira e 245/35 na traseira.

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O interior recebeu uma leve atualização, com bancos concha, instrumentação Porsche, um sistema de som moderno e a gaiola de proteção exposta, que acentua ainda mais a aparência racer.

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Mas você quer ver como ele anda com pelo menos cinco vezes mais potência do que quando era originaç? Não se preocupe, pois o Karmann-Ghia 993 RS já apareceu em alguns vídeos, como este abaixo:

Olhando para o visual mais robusto do Karmann Ghia Porsche, você já imagina — e provavelmente espera — que a mecânica também tenha sido modificada. E, como vimos, não se decepciona — pelo contrário, talvez se surpreenda com o desempenho deste monstrinho que, fosse um pouco mais discreto, seria um tremendo sleeper.

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Mas alguém já fez isto antes…

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Dissemos que a Bader Racing foi quem teve a ideia de colocar um motor Porsche no Karmann Ghia. Mas o que você talvez não saiba (ou não) é que, no Brasil, alguém já fez algo similar. E não estamos falando de qualquer pessoa, mas de Paulo Goulart, dono da concessionária e oficina Dacon, que tinha também uma divisão de automobilismo.

Como conta Rodrigo Mattar, a equipe Dacon participava de campeonatos de turismo em território nacional e, na década de 60, José Carlos Pace e Anísio Campos pilotaram dois Karmann Ghia com motores Porsche de quatro cilindros, um de 2.000 cm³  um de 1.600 cm³ — preparados e tão fortes que viviam comprometendo a estrutura dos carros. Mas, independentemente disto, eram carros vencedores — e o de nº 2 ficou famoso por vencer as 12 Horas de Interlagos de 1967 empurrado por um Renault 4CV — o popular “Rabo Quente”.

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A equipe não durou muito, pois o que sobrava de vontade a Paulo Goular de manter a Dacon no automobilismo, faltava em recursos, e a VW não se interessava em investimento no automobilismo. Quem acabou comprando  parte da Dacon foram Emerson e Wilson Fittipaldi — incluindo um dos Karmann Ghia de corrida. Ainda naquele ano, eles inscreveram o carro nas 1967 nas 6 Horas de Interlagos — e venceram.

Isto deve provar de uma vez por todas que o Karmann Ghia não é só uma bela carroceria sobre a estrutura de um Fusca — com as modificações certas ele tem potencial para derrubar queixos e ganhar corridas. O que mais se pode querer de um carro?