Uma das histórias mais famosas que envolvem carros e celebridades é o caso do Porsche 550 Spyder amaldiçoado de James Dean, astro de “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955). Foi o filme que transformou o ator em um ícone cultural de seu tempo, e em um modelo de rebeldia e transgressão para as gerações que vieram.
Acontece que Dean, como você deve saber, não viveu para ver seu legado: ele morreu aos 24 anos, no dia 30 de setembro de 1955, ao volante de seu pequeno roadster alemão apelidado como “Little Bastard”. Amanhã será o aniversário de 60 anos da morte de James Dean.
Sendo assim, é uma coincidência intrigante que, há poucos dias, foi divulgada aquela que pode ser uma pista essencial para que seja desvendado um mistério que já dura anos: onde está o carro — ou o que restou dele?
O sumiço do carro certamente tem a ver com a “maldição” que há nele. Mesmo se você fizer o tipo cético, é difícil não se impressionar com a sequência de acontecimentos na história do carro, que começou com sua compra pelo ator em 1955.
Na época, fazia apenas quatro anos que James Dean havia abandonado a universidade para tornar-se ator, em 1951. Começando com um comercial da Pepsi, Dean logo conseguiu papéis em diversas séries de TV do canal CBS. Sua aparência e seu talento para representar personagens desajustados lhe renderam logo um papel principal em Hollywood: ele foi o protagonista de “Vidas Amargas” (East of Eden, 1955), em um trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Pouco depois, ele foi escalado para interpretar o “rebelde sem causa” Jim Stark em “Juventude Transviada”.
Este foi o papel que revelou James Dean ao mundo e promoveu uma bela melhora em sua vida financeira — de repente, o rapaz que vigiava carros nos estacionamentos dos estúdios de Hollywood quando não estava atuando ou trabalhando como dublê era uma das grandes promessas da indústria cinematográfica.
A frase “live fast, die young” (“viver rápido, morrer jovem”) pode ser um dos maiores clichês que existem mas, como contamos neste post sobre pilotos atores, no caso de James Dean ela é verdadeira. Em 1954, ele comprou um MG TD, clássico roadster britânico feito para acelerar em estradas sinuosas com vento nos cabelos. Em pouco tempo, ele começou a se interessar pelo automobilismo. Quando se deu conta, já estava participando de corridas com o carro.
Com o sucesso no cinema, no início de 1955 Dean trocou seu MG por um Porsche 356 Speedster — o modelo mais esportivo, com para-brisa mais baixo e removível. Além de curtir o carro na estrada, obviamente ele também usava o carro em corridas. Mas James Dean não ficou muito tempo com o 356: durante as gravações de “Juventude Transviada”, logo ele deu lugar a um 550 Spyder. Começava ali a história do “Pequeno Bastardo”.
James Dean comprou o 550 Spyder, roadster esportivo baseado no 356, porém mais baixo e mais potente, em 21 de setembro de 1955. Imediatamente, ele o levou para o estúdio de George Barris, famoso customizador e construtor de veículos para o cinema e a TV. Barris, que ficou famoso por criar o batmóvel dos anos 60, foi o encarregado de deixar o Porsche com a cara de James Dean.
Ele forrou os bancos com tecido xadrez, pintou duas faixas vermelhas sobre os para-lamas traseiros e desenhou o nº 130 no capô, nas portas e na tampa do motor. O apelido “Little Bastard” foi dado por Bill Hickman, amigo de James Dean que também era dublê de piloto e ajudava o ator com suas técnicas de pilotagem — além de dirigir, às vezes, a perua Ford que levava o 550 Spyder para os circuitos de corrida da Califórnia. Assim sendo, James Dan pediu para que seu quase xará Dean Jeffries (famoso customizador especializado em pin-ups e pinstripes que trabalhava na mesma rua que George Barris) pintasse o apelido na lataria do carro.
Live fast, die young. Na prática, James Dean não ficou mais de dez dias com o carro. E foi neste meio tempo que ele, supostamente, foi atingido pela maldição: em 23 de setembro de 1955, dois dias depois de comprar o Porsche 550, o Dean levou o carro para que o amigo Alec Guinnes desse uma olhada.
É qui que as coisas começam a ficar esquisitas. Guinness, que 22 anos mais tarde ficaria famoso por interpretar Obi-Wan Kenobi no primeiro Star Wars, de 1977, teria dito que o carro tinha uma aparência “sinistra” e que, caso entrasse no carro, James Dean seria “encontrado morto dentro dele na semana seguinte”. É preciso ter cuidado quando se usa a Força.
OK, não estamos dizendo que foi o Obi-Wan Kenobi que lançou a maldição sobre James Dean. É provável que nem exista uma maldição. Mas é impossível não ficar impressionado com a coincidência.
James Dean já tinha uma corrida marcada em Salinas, na Califórnia, para os dias 1 e 2 de outubro de 1955. No dia 30 de setembro, a caminho do evento, o ator bateu de frente com um Ford Tudor 1950 preto. Ele já havia sido parado pela polícia naquele dia por estar dirigindo rápido demais, e relatos da época dizem que, no momento do acidente, o Porsche estava a cerca de 135 km/h. E tem mais: consta que a ideia original de Dean era levar o carro para Salinas em um trailer. Foi seu mecânico, Rolf Wütherich, quem sugeriu que Dean levasse o carro rodando para “amaciá-lo”. Rolf estava no carro e ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. James Dean morreu imediatamente, com diversos ferimentos fatais.
A trajetória do carro depois do acidente reforça a ideia de uma maldição. Enquanto o dinheiro do seguro foi para a família de Dean, George Barris comprou os restos do carro pouco depois do acidente. Quando a carcaça chegou em sua oficina, o carro escorregou do trailer e quebrou uma perna de um de seus mecânicos.
O motor e o câmbio do carro foram instalados em um Lotus IX, protótipo de competição que pertencia a um homem chamado Dr. William F. Eschrich, que capotou o Lotus durante uma corrida. Pouco depois ele vendeu o conjunto mecânico a outro homem, identificado apenas como Dr. McHenry, que o instalou em seu carro de corrida (de modelo desconhecido). Na primeira prova, Dr. McHenry saiu da pista e bateu em uma árvore, morrendo no local. Ambas as histórias foram contadas pelo próprio George Barris, mas há quem diga que ele inventou tudo apenas para aproveitar-se da fama do carro.
Os caminhos que o carro seguiu desde então são obscuros. Em 1959, já sob custódia de outra pessoa, o Porsche 550 de James Dean pegou fogo de maneira inexplicável na garagem onde estava guardado, na cidade de Fresno, Califórnia. Testemunhas disseram que o fogo teve início no Porsche e que não afetou nada além do carro — nem uma mancha sequer apareceu nos outros automóveis que estavam no recinto.
A exposição serviria para mostrar a importância dos equipamentos de segurança nos automóveis — preocupação crescente, que o próprio acidente de James Dean ajudou a evidenciar. E foi durante o transporte entre a Califórnia e a Flórida, em 1960, que o carro desapareceu e jamais foi visto novamente.
Uma explicação para o sumiço envolve a própria California Highway Patrol, ou CHP, — Polícia Rodoviária da Califórnia. Dizem que, no meio de uma viagem, o caminhão que transportava o Porsche perdeu o controle. Quando o motorista desceu para ver se estava tudo em ordem, o carro se desprendeu da plataforma e caiu em cima dele, matando-o esmagado. Cansada dos incidentes, a CHP teria se encarregado de desaparecer com o carro de James Dean.
Ao longo das décadas, não faltaram histórias que dariam “pistas” a respeito do paradeiro do carro, mas até agora nenhuma delas se mostrou correta. No entanto, uma notícia publicada pelo site ABC7 Chicago pode dar esperança a quem procura seus restos — possivelmente, para destruí-los de uma vez.
O site diz que o museu automotivo da cidade de Volo, em Illinois, recebeu de uma “fonte confiável” uma dica sobre o paradeiro do carro. O homem, que não se identifica, afirma ter vito seu pai e outros homens esconderem os restos do Porsche atrás de uma parede falsa em um prédio na cidade de Whatcom County, estado de Washington, a cerca de uma hora de Vancouver, no Canadá.
O diretor do museu, Brian Grams, diz que o homem ainda forneceu detalhes que “suportam sua afirmação”, além de ter passado em um teste com um polígrafo — o famoso “detector de mentiras” que aparece nos filmes policiais.
Se isto for verdade, será o fim de um dos maiores mistérios do mundo do cinema. E, dependendo dos mais supersticiosos, o fim de uma maldição que já dura exatos 60 anos.