A gente simplesmente adora quando as fabricantes de automóveis fazem algo bacana só porque é possível. Não há outra explicação, por exemplo, para o Nissan Juke-R, de 2012, que transformou o desajeitado crossover em um foguete ao colocar nele todo o trem de força do Nissan GT-R. Na época, o carro foi equipado com o V6 3.8 biturbo usado no GT-R “comum”, capaz de produzir 552 cv e transformar o Juke em algo que mataríamos para dirigir.
Mais recentemente, em junho passado, a Nissan decidiu fazer uma nova versão do super-crossover, batizada como Juke-R 2.0, e deu a ela o motor do GT-R Nismo. Sim, aquele de 600 cv. Insano, não é? E, por isso mesmo, tão sensacional.
Juke-R e Juke-R 2.0
O Juke-R 2.0 foi apresentado em junho último e, como a versão anterior, deverá ser produzido em uma série limitada. Fala-se em 17 unidades, visto que o modelo anterior teve seis exemplares produzidos até agora e a ideia da Nissan é fabricar 23 deles. Por que 23? Porque é o número “oficial” da Nissan — em japonês, os numerais 2 e 3 são pronunciados como “ni” e “san”. Faz sentido.
O Juke-R 2.0 usa a mesma receita da versão anterior: basicamente, colocar a carroceria do Juke sobre a plataforma encurtada do GT-R. A diferença é que, na primeira vez, a equipe responsável pelo carro precisou fazer tudo às escondidas, indo até a frota da divisão europeia da Nissan e procurando um GT-R e um Juke de que ninguém sentiria falta. Agora, tudo foi feito a olhos vistos — afinal, a travessura foi muito bem recebida pelo público, e impedir que o time fizesse seu trabalho seria besteira.
Visualmente, o Juke-R 2.0 tem um cara mais agressiva, com os novos faróis e lanternas do Juke reestilizado, para-lamas, capô e tampa do porta-malas de fibra de carbono e um novo body kit, inspirado pelo Nissan GT-R. Como na primeira leva, há uma gaiola de proteção certificada pela FIA, bancos e cintos de competição e interior completo — sem ar-condicionado, pois com o novo motor o sistema simplesmente não coube no Juke-R.
Como o original, o Juke-R recebeu o motor V6, o eixo cardã e a transmissão de dupla embreagem e seis marchas do GT-R, assim como seu sistema de suspensão. Para todos os efeitos (incluindo todos os sistemas eletrônicos do carro), o Juke-R 2.0 ainda é um GT-R. Mas como ele se sai diante do verdadeiro Godzilla?
Motor bastante recuado
Foi isto que os caras da Autocar foram descobrir. Para isto, eles colocaram um GT-R Nismo e um Juke-R lado a lado para disputar uma arrancada. Qual deles se saiu melhor? Assista ao vídeo abaixo e veja com seus próprios olhos.
Ao volante do Juke-R estava Matt Prior, editor da Autocar. No comando do Juke-R, estava Jan Mardenborough, vencedor da última edição do GT Academy — o campeonato de Gran Turismo 6 promovido pela Nissan cujo vencedor consegue um lugar entre os pilotos da Nissan Motorsport. O formato escolhido foi o da largada lançada (para não forçar demais a transmissão), e o vencedor seria declarado depois de uma melhor de três.
As três puxadas são bastante equilibradas, e os dois carros cumprem os 402 metros quase ao mesmo tempo. A largada lançada, sinalizada apenas pelo grito de “go!” de um dos fiscais, também não é das mais precisas — o tempo de reação dos dois pilotos não é idêntico, o que acaba influenciando o resultado quando se trata de dois carros tão próximos mecanicamente.
Motor e câmbio são exatamente iguais: o V6 de 3,8 litros desenvolve 600 cv a 6.800 rpm e 66,5 mkgf de torque entre 3.200 e 5.800 rpm, e a transmissão de dupla embreagem e sete marchas leva a força para as quatro rodas através do sistema de tração integral ATTESA, com distribuição eletrônica de torque que pode enviar até 50% da força para o eixo dianteiro e até 100% para o eixo traseiro.
As diferenças estão nas medidas: o GT-R Nismo não é leve, com 1.762 kg, mas o Juke-R 2.0 é ainda mais pesado, 1.806 kg. O GT-R, contudo, é um carro maior: são 4,68 m de comprimento, 1,89 m de largura e 1,37 m de altura; enquanto o Juke-R 2.0 mede 4,13 m de comprimento, 1,76 de largura e 1,56 m de altura. Há, ainda, a diferença no entre-eixos — o do GT-R Nismo mede 2,77 metros, enquanto o do Juke-R 2.0 mede 2,53 metros.
Em cima, o interior do Juke-R 2.0. Abaixo, o cockpit do GT-R Nismo
O entre-eixos e o centro de gravidade alto dão ao Juke certa vantagem na arrancada, por causa da transferência de peso para o eixo traseiro. Isto fica claro nos primeiros metros, quando o crossover sai invariavelmente na frente. Contudo, o GT-R vence duas das três puxadas — a primeira e a última.
Isto se dá, provavelmente, por causa das relações peso-potência e peso-torque: enquanto o GT-R Nismo tem 2,93 kg/cv e 26,4 kg/mkgf, enquanto o Juke-R 2.0 tem 3,01 kg/cv e 27,1 kg/mkgf. Além disso, o coeficiente aerodinâmico (Cx) do Godzilla é bem menor: 0,26 contra 0,35 do Juke-R. Menos arrasto, melhor aceleração.
É claro que a diferença não é tão grande — os dois carros acabam cruzando a linha de chegada quase juntos, o que é impressionante quando levamos em conta que o GT-R foi feito para ser um esportivo e o Juke, definitivamente não. E, no fim das contas, o tira-teima só serve para nos deixar com ainda mais vontade de acelerar o Juke-R 2.0. E 0 GT-R Nismo.