30 de novembro de 2013. Faz quase exatamente dez anos, mas todo entusiasta certamente se lembra de como a notícia chegou como um tapa numa cara sonolenta: Paul Walker, o Brian O’Conner de “Velozes e Furiosos” morreu em um acidente de carro.
Foi chocante. Não apenas por que a franquia “Velozes e Furiosos” ensinou uma geração inteira a gostar de carros, mas também porque Walker era um destes entusiastas. Não foi algo fabricado pelo filme: em uma entrevista concedida ao site The Vault em 2001, durante a promoção do filme, Paul Walker explicou que sequer leu o roteiro para aceitar o papel de Brian O’Conner. Ele nem sabia como o filme seria, mas topou participar.
Começou em 2000, quando Walker estava gravando o suspense “Sociedade Secreta” (The Skulls, 2000) nos estúdios da Universal quando o diretor Rob Cohen perguntou a Walker o que ele gostaria de fazer em seguida. Walker respondeu que gostaria de interpretar um policial. Três meses depois, Rob Cohen o procurou dizendo que tinha uma ideia para um filme, envolvendo carros, rachas e gangues. Não havia roteiro, não havia argumento, nem mesmo uma sinopse, mas ao saber que o filme teria carros, ele topou na hora.
Isso, porque Walker sempre gostou de carros, antes mesmo de ser elencado para “Velozes e Furiosos”. Nesta mesma entrevista, ao ser questionado se a ação ao volante dos carros durante as gravações não o deixou viciado no negócio, Paul Walker responde: “Eu sempre fui assim! Sempre fui pé-de-chumbo, pergunte ao Departamento de Trânsito da Califórnia. Eu cresci dirigindo carros rápidos. Gosto da emoção, então era o meu ramo.”
Também por isso, quando Walker fala sobre a escola de pilotagem — na qual ele, aparentemente, pilotou monopostos da Indy —, ele diz que “chegou confiante, meio arrogante, achando que sabia tudo, mas na hora de sentar ao volante e começar as aulas ele percebeu que não sabia tanto assim”, o que foi uma lição sobre humildade também, como ele mesmo diz no filme.
O sucesso de “Velozes e Furiosos” talvez tenha a ver com isso também. Uma inspiração real e ao menos um protagonista que realmente gostava dos carros e, certamente, entregou tudo de si no personagem. “Eu fui pago para me divertir”, disse Walker na mesma entrevista acima. O mega-estrelato alcançado depois de “Velozes e Furiosos” abriu portas e permitiu que ele pudesse curtir ainda mais “carros rápidos” como os que ele dirigia antes da fama. Tanto é que ele construiu uma coleção invejável, uma seleção de carros que só poderia ser feita por alguém que entende do negócio, como você verá a seguir.
É uma realização e tanto, para um entusiasta. Imagine ser bem-sucedido profissionalmente tornando-se um ícone do seu hobby favorito. O homem e o personagem se fundiram em um só. Para a maioria dos fãs, não havia mais distinção entre Brian O’Conner e Paul Walker — especialmente depois que Brian deixa a polícia. Ele não era mais um policial infiltrado, mas um entusiasta que decidiu viver o sonho. Nas telas e fora dela.
Tragicamente, foi sua busca por emoção que encerrou sua história de maneira tão repentina e chocante. Logo após um evento automobilístico beneficente, ele curtiu a emoção da velocidade pela última vez, quando seu amigo Roger Rodas perdeu o controle do Porsche Carrera GT onde os dois estavam e colidiu violentamente contra postes e árvores, antes de o carro ser tomado por um incêndio.
Agora, passados dez anos do fatídico acidente, é seguro dizer que, guardadas as proporções, Paul Walker se tornou uma espécie de James Dean moderno. Um ícone dos cinemas, que personificava o sonho de uma geração, e que partiu tragicamente — em uma infeliz coincidência, também a bordo de um Porsche a caminho de um evento de carros. Passado o período da lamentação, aos entusiastas resta relembrar a vida e a obra de Paul Walker, que inspirou tantos garotos (a garotas, por que não?) a entrar em um carro, dar a partida e curtir a viagem tanto quanto o destino. Essa é a vida, não?
A coleção
Walker sempre foi discreto com sua coleção — sabe-se lá por qual razão, ele nunca a apresentou ao público. Em 2012, contudo, o apresentador/colecionador Matt Farah teve acesso à coleção de Walker, embora não tivesse revelado esta informação na época. Ele se referia aos carros apenas como “a coleção da AE Performance” — que, não por acaso, pertencia a Paul Walker e Roger Rodas, como descobriríamos mais tarde.
Como disse mais acima, a coleção é coisa de quem entende do assunto. Havia cinco BMW M3 E36, dentre eles um raríssimo M3 Lightweight. O BMW M3 E30 também fazia parte do acervo, assim como o BMW M1, um BMW 850 CSi e um simpático 2002 tii Touring Alpina.
Walker tinha uma certa predileção pelo Mustang Fox Body, a terceira geração do modelo. Hoje ela já foi redescoberta pelos entusiastas, mas na época, era um carro barato com grande potencial — especialmente os modelos da Saleen, que também integravam a coleção de Walker.
Os esportivos japoneses, claro, também estavam na garagem. Havia um Toyota Supra Mk4 e vários Nissan — dois Skyline GT-R R34 (um deles usado em “Velozes e Furiosos 4”, um Silvia S15 e o 370Z usado em “Velozes e Furiosos 5”.
Os carros americanos também marcaram presença na coleção. Havia um Saleen S7, uma réplica do Eleanor de “60 Segundos” (na época um filme novinho), um Shelby GT350R original dos anos 1960, um Boss 302 de corrida original dos anos 1970, um GT40 moderno e vários outros Mustangs mais recentes, como o Cobra R de 1993.
Um exemplar curioso na coleção é a Ferrari 355 Spider, como aquela do racha com o Supra no primeiro “Velozes e Furiosos”. Além dela, Walker também tinha uma 360 Challenge Stradale e uma Testarossa. Os Porsche também estavam por ali, na forma de um 996 Turbo, dois 930 Turbo, três GT3 RS e um Carrera 2.7 1973.
Por último, entre os modelos “mundanos”, Walker tinha também um Audi S4 e um Volvo P1800 — um dos carros que provam que ele sabia o que comprava.
Note que eu me referi à coleção no passado ao longo do texto inteiro. Isso, porque em 2015 ela foi leiloada a portas fechadas e vendida a diversos compradores diferentes, cujos nomes não foram revelados. Ao menos os carros ainda estão por aí, nas mãos de gente que gosta deles, acelerando como Walker tinha planejado fazer com eles.