Apesar dos relógios e calendários, dos dias, meses, anos, minutos e segundos, a percepção do tempo é subjetiva, e depende das sensações, experiências e elementos que referenciam a passagem do tempo para cada um.
Aos 20 anos, um período de 10 anos corresponde a metade de sua vida. Aos 30, você 10 anos é um prazo médio para seus planos pessoais. Para um motor, 10 anos não é nada. Para um carro, é mais que uma geração.
Há dez anos, já tínhamos internet de alta velocidade, Google, Facebook e iPhones. Por outro há dez anos o Netflix era uma locadora de DVDs, o Spotify não existia e o mais próximo do Whatsapp que podíamos chegar eram os pacotes de torpedos das operadoras.
Em resumo, em dez anos as coisas podem mudar drasticamente, como também podem permanecer praticamente iguais. E essa relatividade da passagem do tempo e suas consequências imprevisíveis são os principais motivadores do sucesso do “desafio” que dominou as redes sociais nesta semana, o #10YearChallenge, ou o “desafio dos 10 anos” em uma tradução livre.
Aproveitando o momento, achamos que poderia ser uma boa ideia fazer uma série de #10YearChallenge com alguns carros. Aqui estão eles.
Mitsubishi Eclipse
Em 2009 o Mitsubishi Eclipse já não era mais o cupê atraente que foi durante os anos 1990, mas ainda era um cupê esportivo interessante. Ele estava em sua terceira geração, que havia sido lançada em 2006, e mesmo sem a opção de tração integral como as duas primeiras gerações, em 2009 ele tinha um V6 de 3,8 litros e 268 cv combinado a um câmbio manual de seis marchas, que o levava aos 100 km/h em 6 segundos e à máxima de 250 km/h.
Avançamos dez anos no tempo, e o Mitsubishi Eclipse exposto nos shoppings e concessionárias tem mais portas, é mais alto e tem um sobrenome: Eclipse Cross. Depois de quatro anos sem um Eclipse em sua linha produtos, a Mitsubishi trouxe de volta o nome em um crossover médio-compacto com um visual moderno e imponente, mas não empolgante como o primeiro Eclipse parecia no início dos anos 1990.
O Eclipse Cross tem um pouco do porte do ASX, porém ligeiramente maior, ficando entre o ASX e o Outlander. Suas linhas são atraentes e a traseira tem o tipo de conjunto óptico que a Honda não teve a ousadia de dar à versão de produção do Civic Type R. O conjunto mecânico do Eclipse Cross também é mais modesto que o de 10 anos atrás: trata-se de um 1.5 turbo de injeção direta com 154 cv com um câmbio CVT que simula oito marchas.
Jeep Compass
Uma das grandes mudanças no mercado em 10 anos foi o crescimento insano dos SUV em todos os segmentos. Em 2009, o mais vendido deles era o Ford EcoSport, que ainda reinava absoluto e sem concorrentes no segmento que ele mesmo criou. Dez anos depois, o líder é o Jeep Compass, um carro que nem estava no Brasil em 2009 (ele só chegou em 2012), e mesmo assim não tinha tantas qualidades como sua atual geração.
Para começar, ele teria boas chances de entrar em uma lista de 50 ou 100 carros mais feios já feitos. Aquele visual de mini-Grand-Cherokee, que pegou os brasileiros em cheio, só apareceu com o facelift de 2011. Antes disso ele combinava a dianteira do Cherokee Sport a um design que poderia muito bem ter saído dos estúdios da Kia antes da chegada de Peter Schreyer. Seu motor 2.0 tinha 156 cv, mas o câmbio CVT “puro” não o ajudava a economizar combustível, nem a ganhar velocidade.
Mas aí veio a compra da Chrysler pela Fiat e, dez anos depois, a segunda geração do Compass é o líder de mercado e um dos melhores nome de seu segmento — em especial na versão turbodiesel intermediária, que avaliamos no final de 2018. O carro ficou mais harmônico, mais próximo do Grand Cherokee, e mesmo com o motor 2.0 flex, as médias de consumo são satisfatórias para um carro de seu porte.O nível de equipamentos é interessante e, em geral, é um bom “faz-tudo” para as famílias da era dos SUV.
Fiat Strada
Em 2019 a picape da Fiat é o segundo carro mais antigo em produção no Brasil (atrás da perua Weekend), mas ainda é lider de vendas em seu segmento. Dez anos atrás, ela tinha uma concorrência muito mais acirrada, formada pela Volkswagen Saveiro G4, pela Ford Courier e pela Chevrolet Montana.
O modelo também estava na transição do segundo para o terceiro facelift pelo qual passou e, por essa razão, era oferecido na versão Fire, com o desenho antigo, e nas demais com o desenho novo, o qual conserva, em partes, até hoje.
O motor 1.4 de 2009 ainda é o mesmo de 2019, porém em uma variação mais atual chamada 1.4 Evo Fire. O 1.8, contudo, ainda era o GM Família II, usado pela Fiat de 2004 até 2010, quando foi substituído pelo atual Etorq.
Porsche 911
Para a Porsche, um período de dez anos pode ser suficiente para vermos três gerações do 911. Em 2009 a marca ainda vendia o 997, que fora lançado em 2005 e permaneceu no mercado até 2012. Um ano antes, o 991 começou a entrar em cena e permaneceu por sete anos, que é a idade média de uma geração no mercado automobilístico, saindo de cena no final de 2018 para a chegada da geração seguinte, a 992.
Por enquanto o 992 só foi lançado nas versões Carrera S e Carrera 4S, então nossa única base de comparação são os modelos equivalentes do 997. Em 2009, ele estava entrando na segunda metade de seu ciclo de vida, o que significa que os modelos Carrera S/4S usavam uma versão de 385 cv do flat-6 aspirado de 3,8 litros. Com ele e com o câmbio PDK, os 911 Carrera S e 4S podiam chegar aos 100 km/h em 4,5 segundos e à máxima de 295 km/h.
Dez anos depois, o 992 Carrera S abandonou o motor aspirado, substituindo-o por um novo flat-6 biturbo de três litros, que desenvolve 65 cv a mais que o 997. São 450 cv que, usando o câmbio PDK de oito marchas, levam os novos Carrera S e Carrera 4S aos 100 km/h em 3,7 e 3,6 segundos e à máxima de 308 e 306 km/h, respectivamente.
Shelby GT500
Há dez anos a primeira versão do Shelby GT500 moderno estava em seus últimos meses de produção. Ele ainda tinha o antigo motor V8 Modular da Ford, em uma versão com deslocamento aumentado de 4,6 para 5,4 litros e sobrealimentada por um compressor de polia. A potência mal passava dos 500 cv: eram 507 cv a 6.000 rpm e 66,2 kgfm a 4.500 rpm. O câmbio, ao menos, era manual de seis marchas; uma caixa Tremec TR-6060, e o levava de zero a 100 km/h em 5,7 segundos e à máxima de 275 km/h.
Avançamos dez anos e a Ford trouxe o novo Shelby GT500, com a mesma receita, porém com um nível de brutalidade visto somente nos Super Snakes. O motor ainda é um V8 com um supercharger no meio do V, porém agora ele produz “mais de 700 cv”, segundo a Ford. Ele infelizmente não é mais oferecido com câmbio manual, mas ao menos a Ford deu um jeito de instalar uma caixa automatizada de embreagem dupla e sete marchas, aproximando-o dos supercarros exóticos com esse nível de potência. O conjunto é capaz de levar o Shelby GT500 aos 100 km/h “na casa dos 3,5 segundos” e além dos 300 km/h.
Dodge Challenger
O Dodge Challenger 2019 é o mesmo carro que você encontrava nas ruas em 2009. Quero dizer, ele usa a mesma plataforma, tem basicamente o mesmo design, mas seus motores e sua imagem frente ao público mudaram drasticamente.
Baseado em uma plataforma que combinava elementos do Mercedes Classe S W221 e do Classe E W211, em 2009 o Challenger era o maior e o mais pesado da tríade de muscle cars modernos. Os motores oferecidos não ajudavam muito no desempenho, também. Havia apenas o V6 de 3,5 litros e 250 cv na versão de entrada, o Hemi de 5,7 litros e 375 cv nas versões intermediárias, incluindo a R/T, e um Hemi de 6,1 litros com 430 cv na versão SRT8.
Passados dez anos, seus rivais mudaram o foco, tornando-se esportivos capazes de lidar muito bem com os circuitos mais desafiadores do planeta, mas a Dodge decidiu concentrar seus esforços no ganho expressivo de potência. E foi assim que o Challenger chegou aos quase 850 cv com o Demon, aos 808 cv com o Hellcat em 2019, transformando-se em uma homenagem viva à cultura old school dos muscle cars.
Nissan GT-R
Em 2009 o Nissan GT-R estava em seu segundo ano de mercado, e era a sensação do momento. Pelo preço de um Porsche 911 de entrada, ele entregava desempenho de supercarro com seu V6 biturbo de 480 cv enviado às quatro rodas pelo câmbio automatizado de embreagem dupla e seis marchas. O carro parecia vindo do futuro para mudar o jogo dos esportivos, e comia supercarros no café da manhã, almoço e jantar.
Passados dez anos, o GT-R já foi superado pela maioria de seus rivais diretos e está em uma posição quase melancólica para quem um dia já foi um dos esportivos mais desejados do planeta. Com as atualizações na dinâmica e no motor, que agora tem 570 cv na versão regular e 600 cv na versão Nismo, ele ainda tem um desempenho superior a boa parte dos esportivos modernos, mas seu preço já não é mais tão atraente como foi um dia, o que explica seu esquecimento pelos entusiastas.
Nissan 370Z
O Nissan 370Z foi lançado em 2009 como o sucessor do 350Z, equipado com um V6 de 3,7 litros e entre 328 e 355 cv, dependendo da versão e do país onde é vendido, combinado a um câmbio manual de seis marchas ou automático de sete marchas. E é assim até hoje.
Em 10 anos, ele recebeu apenas um leve retoque na dianteira, novas rodas, versões especiais sem nenhuma grande alteração e só. Ele é praticamente uma cápsula do tempo sobre rodas, um pedaço de 2009 que você pode comprar novinho em 2019.
Golf GTI
Há dez anos o Golf GTI já tinha quase dez anos. A Volkswagen ainda oferecia no Brasil a quarta geração do esportivo, já com o facelift que lhe deu uma sobrevida na virada da década e com a atualização do motor 1.8 turbo, que podia desenvolver até 193 cv com gasolina de alta octanagem. Ainda era um bom esportivo, mas muito aquém do que poderia ser caso a Volkswagen tivesse oferecido por aqui as gerações seguintes, das quais fomos privados.
Já o Golf GTI de 2019 também não é nenhuma novidade, provavelmente entrando em seu último ano de estrada. Quando lançado, em 2014, ele era o melhor carro que um entusiasta podia comprar para uso geral — dia-a-dia, lazer e eventualmente um track day ou outro. Em 2019, ele continua como uma das referências no segmento — especialmente com a atualização que deu a ele 10 cv a mais. Contudo, o declínio dos hatches médios no mercado brasileiro aponta um futuro sombrio para o GTI, que corre o sério risco de deixar de ser produzido ou mesmo oferecido no Brasil.
Mercedes-Benz Classe A
Em 2009 o Mercedes-Benz Classe A estava em sua segunda geração, mas ainda era um hatchback de dois andares, com visual de monovolume e assoalho duplo. Lançado em 2004, ele passou a ser oferecido com duas ou quatro portas, e chegou até mesmo a ter uma versão com motor 2.0 turbo de 193 cv e câmbio manual de seis marchas. Apesar dos números, ele não tinha como ser esportivo como você pode ter imaginado justamente por seu centro de gravidade elevado, consequência do assoalho duplo herdado da primeira geração.
Em 2019, o Classe A está em sua quarta geração, já como um hatchback convencional, usando exclusivamente motores turbo de 1,3 litro e 2 litros. Ele também tem uma versão esportiva de verdade, o A35 AMG com o motor 2.0 turbo e 306 cv, que em breve será acompanhado dos futuros A45 e A45 S, que deverão ter 375 cv e 421 cv, respectivamente.