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Os carros de turismo favoritos dos leitores (e do FlatOut, claro!) – parte 1

Nossa primeira pergunta do ano trouxe um tema tão bacana que a gente até estranhou não ter feito antes: qual é o seu carro de turismo favorito? Nossa sugestão foi o lendário Maverick Berta Hollywood, que fez história nas pistas na década de 1970 e, agora, vai protagonizar um longa-metragem — trajando uma nova pintura preta totalmente maléfica.

Acontece que existem dezenas de outros carros de turismo incríveis. Tínhamos certeza de que vocês conheciam vários, mas cabe aqui uma pequena observação: foram sugeridos vários bólidos sensacionais de que gostamos muito, como o Ford GT40, o McLaren F1 e o Mercedes-Benz CLK GTR. No entanto, eles não se encaixam na definição da FIA para carros de turismo.

Esta definição foi publicada em 1969 no chamado Appendix J, que ditava as regras para as corridas de turismo da FIA, e explica exatamente o que é um carro de turismo. Você pode ler o Appendix J todo aqui, mas o essencial é o seguinte: carros de turismo são divididos em duas subcategorias: series-production touring carstouring cars.

McLaren F1 GTR: um carro épico, com monobloco de fábrica, mas não é um carro de turismo

A principal diferença entre eles é a quantidade de unidades produzidas necessárias para a homologação: os series-productio touring cars precisam de pelo menos 5.000 unidades, enquanto os touring cars precisam de apenas 1.000 unidades. Em ambos os casos, é preciso que os carros tenham quatro lugares, exceto se o motor tiver deslocamento menor ou igual a 700 cm³ — nesse caso, eles podem ter dois lugars. Os touring cars também têm mais liberdade na hora de sofrer modificações.

O caso é que os chamados GT Cars, como os já citados GT40 e McLaren F1, não se encaixam neste regulamento. Seja por número de lugares ou quantidade produzida, por mais que tenham monobloco ou chassi de fábrica.

O que queremos dizer é que não ignoramos estes verdadeiros monstros das pistas — gostamos deles, mas eles simplesmente não cabem nesta lista. Quem sabe em uma próxima, não?

Dito isto, vamos à primeira parte das sugestões dos leitores!

 

BMW M3 DTM

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A gente já falou bastante do BMW M3 E30 nos últimos dias, mas ele só existe por causa da versão de competição para o Deutsche Tourenwagen Meisterschaft, o campeonato alemão de turismo. O motor da versão de competição era a versão mais potente do clássico quatro-cilindros S14, derivado do seis-em-linha do BMW M1. Com deslocamento de 2,3 litos, o motor entregava nada menos que 300 cv  a mais de 8.000 rpm — um verdadeiro salto em relação aos 195 cv da versão de rua apresentada no fim de 1985.

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Além disso, o carro de pista tinha boa parte de seu revestimento removida para levar seu peso ao mínimo do regulamento da época, 940 kg — o que resulta em uma relação peso/potência de 3,1 kg/cv.

A BMW gosta de dizer que o M3 é o carro de turismo que mais venceu provas na história, ainda que seja meio difícil contabilizar todas as corridas de turismo que foram realizadas de 1987, ano de estreia do M3 E30, até hoje. No entanto, foi a primeira geração que começou tudo, com destaque para seus dois títulos na DTM, em seu ano de estreia e em 1989.

 

Nissan Skyline GT-R R32 Calsonic

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A galera do Gran Turismo compareceu em peso nas sugestões, e com razão: muitos conheceram os carros de turismo com o real driving simulator da Polyphony Digital. E, sem dúvida, um dos carros mais marcantes do game é o Nissan Skyline GT-R “R32” da Calsonic.

Nos anos 1990, o Nissan Skyline era um verdadeiro rolo compressor nas categorias de turismo do Japão, como o All-Japan Grand Touring Car Championship, ou JGTC. A categoria existe até hoje, como Super GT, os anos em que o Skyline participou da competição foram os mais lendários. A pintura azul e branca é facilmente reconhecível por qualquer moleque que tenha gasto parte da sua vida na frente do Playstation, talvez até sem saber que aquele era um carro de corrida de verdade.

Para começar, ele foi nada menos que o carro que levou a Nissan a desenvolver, em 1989, seu famoso seis-em-linha biturbo de 2,6 litros com comando duplo no cabeçote, o RB26DETT, que equipou todo Skyline GT-R de rua desde então. No carro de corrida patrocinado pela Calsonic, a potência chegava perto de 600 cv.

Além disso, seu desempenho foi matador. O carro simplesmente dominou todas as corridas que participou, quebrando recorde atrás de recorde com Kazuyoshi Hoshino ao volante. Em 1990, o carro venceu o Grande Prêmio de Macau com 30 segundos de vantagem e, no ano seguinte, ficou no lugar mais alto do pódio das 24 Horas de Spa-Francorchamps. Tantas vitórias levaram a Nissan a desenvolver a emblemática versão de rua, que ficou conhecida como Godzilla. Sim, o GT-R R32 é o Godzilla original!

 

Plymouth Superbird

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Ao lado do Dodge Charger Daytona, o Plymouth Superbird era um dos Aero Warriors da Chrysler. Ambos foram desenvolvidos para competir na Nascar. Ambos compartilham a mesma plataforma, e sua principal característica eram os aparatos aerodinâmico: um bico flexível, em forma de cunha, e uma gigantesca asa traseira. Por causa disso, de vez em quando ambos são chamados de Winged Warriors.

Escolhemos o Plymouth Superbird azul do lendário Richard Petty por sua representatividade: o carro foi criado justamente para atrair Petty de volta à equipe da Chrysler, visto que ele havia ido para a Ford em 1968. A estratégia deu certo e Petty levou seu chapéu de cowboy, seus óculos escuros e seu bigode de volta à Plymouth.

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O motor era o famoso Hemi 426 com dois carburadores de corpo quádruplo e, auxiliado pera aerodinâmica da carroceria, era capaz de chegar aos 100 km/h em 5,5 segundos. A verdade é que sua altíssima velocidade acabou preocupando os organizadores da Nascar, que baniram o Superbird (e o Charger Daytona) da temporada de 1971.

Talvez já não fosse sem tempo…

 

Fiat Marea Turbo

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Calma, vamos te dar um tempo para absorver esta informação. Quer dizer, caso você já não conheça a Fiat Marea Weekend Turbo que competiu na 29ª edição das Mil Milhas Brasileiras, realizada em 2001 no Autódromo de Interlagos. O carro participou da Classe I, categoria mais potente da competição, dedicada a carros com motores turbinados com deslocamento igual ou superior a dois litros.

O cinco-cilindros turbo, que originalmente entrega 192 cv, foi preparado para render 240 cv e 33 mkgf de torque, e o conjunto dianteiro de para-choque, capô e para-lamas foi substituído por uma peça única de fibra de vidro. Ao fim das 12 horas, o carro pilotado por Eduardo Cunha, Douglas Mendonça e Ricardo Dilser foi o quarto entre os 13 da Classe I, e o único carro com motor turbo ao completar a prova. Quem disse que todo Marea Turbo é uma bomba?

O detalhe é que tudo foi feito de maneira independente, o que assegura a este Marea um lugar nesta lista com louvor.

 

Alfa Romeo 155 DTM

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O Alfa Romeo 155 DTM começou a competir em 1993. A receita não era muito diferente da usada por outros bólidos da categoria: construído pela Alfa Corse, equipe de fábrica da Alfa Romeo na década de 90, ele era feito sobre um monobloco de 155 de rua, porém modificado ao extremo para correr no campeonato de turismo alemão: reforços estruturais, gaiola de proteção, para-lamas alargados para acomodar as rodas de 18 polegadas calçadas com pneus slick e, claro, o motor V6 de 2,5 litros e até 495 cv a estratosféricas 11.800 rpm.

Com o Alfa Romeo 155 DTM, os pilotos italianos Nicola Larini e Alessandro Nanini venceram juntos as 38 corridas, que deram ao carro seu título de recordista na competição, que permanece até hoje — além do título de 1993.

E não dá para não mencionar o ronco do V6, não é mesmo? O som produzido pelo coração italiano e canalizado até as saídas de escape voltadas para cima (explicamos o motivo para isto aqui) é simplesmente uma das músicas mecânicas mais bonitas que já ouvimos.

 

Chevrolet Opala

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Desde seu lançamento, em 1968, o Chevrolet Opala foi uma grande força do automobilismo naciona, começando em 1969 com Chico Landi e continuando, ao longo das décadas de 1970 e 1980, sendo muito visto em categorias de turismo, como a Divisão 3 e a Turismo 5000, além da Stock Car, que foi inaugurada em 1977 com apoio da própria General Motors.

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Uma das equipes mais famosas a competir com o Opala foi a De Lamare, fundada por Pedro Victor de Lamare. Seus carros azuis, sedãs e cupês, usavam motores de 4,1 litros e seis cilindros preparados para render perto dos 300 cv (mais tarde, a equipe adotou uma pintura amarela mais chamativa, porém não tão adorada).

Já a partir de 1977 o Opala passou a disputar a Stock Car. Os carros só podiam ser preparados com componentes nacionais e também beiravam os 300 cv, sendo pilotados por gente do calibre de Paulo Gomes e nosso amigo Ingo Hoffman.

 

Volvo 850 Touring Car

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“O tijolo mais rápido do mundo” é como é conhecida a icônica Volvo 850 Touring Car. O carro foi o responsável pela volta dos suecos automobilismo dez anos depois do sucesso do Volvo 240, o “turbobrick”. Para isto, a marca decidiu entrar no BTCC, o Campeonato Britânico de Turismo, com uma perua de corrida — que melhor maneira de causar impacto?

Foi no fim de abril de 1994 que duas peruas com pintura azul e branca entraram no autódromo de Thruxton, no sul da Inglaterra, para o início da temporada. O motor era um impressionante de cinco cinco cilindros aspirado (exigências do regulamento) de dois litros e 290 cv, acoplado a um câmbio sequencial de seis marchas.

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Foram 21 etapas de competição — e, no fim da temporada, a Volvo conseguiu apenas a 14ª colocação geral. O motor do carro era potente, sim, porém o formato de tijolo não ajudava. A aerodinâmica não era boa como diz a lenda, e a distribuição de peso deixava a traseira mais pesada, o que prejudicava bastante o desempenho do carro nas curvas.

Na temporada seguinte, a Volvo decidiu usar os sedãs — e, aí sim, obtendo bons resultados: Rickard Rydell e Tim Harvey se classificaram, juntos, 12 vezes para a pole position e venceram seis corridas. De qualquer forma, mesmo sem vencer, o carro que entrou para a história foi mesmo a perua.

 

Mercedes-Benz 190E Cosworth

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Se Mercedes-Benz e BMW são rivais eternas na preferência dos  fãs de esportivos alemães, a briga não poderia ser diferente no DTM. Para competir com o BMW M3 E30, a Mercedes-Benz chamou a Cosworth, que foi a responsável pelo coração da máquina: um quatro-cilindros de 2,5 litros com comando duplo no cabeçote e capacidade para entregar 300 cv e girar a até 9.500 rpm.

Com ele, a Mercedes-Benz conseguiu o título de 1992 da DTM, consolidando uma reputação impecável também nas ruas — os Mercedes-Benz 190E Cosworth estão entre os esportivos mais cobiçados da Mercedes-Benz. No entanto, há outro fato interessante sobre o 190E Cossie: sua origem está no Grupo B de rali.

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Isto mesmo: a ideia original era substuituir o 500 SL nos ralis, mais especificamente, no Grupo B do WRC. O motor criado pela Cosworth deslocava 2,3 litros, na época, e a Mercedes só não levou a ideia para a frente porque, em 1982, a Audi apresentou o Quattro. Ciente da lavada que se arriscaria a tomar, a marca desistiu do 190 E de rali, mas resolveu levar adiante um projeto para competir no DTM, e o resto é uma história que já contamos aqui.