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Car Culture Zero a 300

9 provas de que a “family face” é mais antiga que parece

Uma das críticas mais recorrentes que temos visto nos comentários nos últimos anos é sobre a semelhança dos carros atuais. As mensagens são diversas, mas todas, resumidamente, dizem que os carros hoje estão todos iguais e que dá saudade da época em que eles eram diferentes e coloridos. Bem… é verdade. A estratégia da “family face” parece ter passado dos limites. Qualquer pessoa que já confundiu um Jetta com um Passat, um Audi A5 Sportback com um A7 Sportback ou um BMW 540i com um 740i irá concordar.

A ideia por trás do conceito de “family face” é simples: construir uma identidade de marca, facilitando a assimilação do produto pelo público. É por isso que você identifica modelos BMW ou computadores da Apple sem precisar ver o logotipo.

Mas… não pense que no passado as coisas eram diferentes. A “family face” existe desde que o automóvel foi criado. De cara, a primeira que vem à cabeça é a dianteira curvada em forma de sino dos primeiros modelos da Renault, feitos entre as décadas de 1900 e 1930.

Renault Y, TownCar, Taxi de la Marne e AX

E para provar que esta não é uma exceção, reunimos aqui alguns exemplos dos anos 1960 aos anos 1990:

 

Honda Civic EC/ED, Honda Accord CA, Honda City GA1 e Honda Today JA2

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Os quatro principais modelos da Honda no final dos anos 1980 seguiam todos a mesma linguagem de estilo que resultou em um visual muito próximo entre eles. Do subcompacto Today ao médio Accord, todos adotaram a dianteira com grade estreita entre os faróis, conjunto óptico retangular e predomínio de linhas retas.

Civic e Accord

O estilo estreou em 1983 no Honda Civic AG, a terceira geração do modelo. Depois, em 1985, subiu para o Accord CA, foi usado no City GA1 de 1986 e em 1990 chegou ao Today JA2, que foi produzido até 1993.

City e Today

Em 1988, quando o Civic chegou à sua quarta geração, o estilo foi atualizado, mas manteve seus elementos mais marcantes até 1991, quando deu lugar à quinta geração do modelo.

 

Mercedes-Benz

Classe E e Classe S — parecidos, mas não idênticos

A Mercedes talvez seja o caso mais notório de family face. Nos anos 1950 havia os modelos “Ponton”, cujo nome derivava justamente do estilo dos carros, que pela primeira vez tinham para-lamas integrados e envolventes. Os modelos Ponton são, na verdade, 11 versões de três classes diferentes. O visual era extremamente parecido, porém as dimensões eram distintas e cada um tinha elementos estéticos próprios. Transpondo para o sistema atual da Mercedes, eles seriam três carros das Classes E, S e SL.

Os menores eram os sedãs W120 e W121, todos equipados com motores de quatro cilindros com 1,8 litro (120) e 1,9 litro (121). Eram os precursores da Classe E.

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Logo acima ficavam os roadsters 190SL W121 e 220SL W127. O primeiro equipado com o mesmo motor 1.9 do W121 e o segundo com um seis-em-linha de 2,2 litros.

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Depois vinham os W105, W180 e W128 — todos precursores da Classe S e com motores seis-em-linha. O 105 era oferecido apenas como sedã, e os outros dois como roadster, cupê e sedã.

O estilo Ponton foi abandonado em 1959, quando entraram em cena os modelos “Heckflosse” ou “fintail” — o que chamamos por aqui de “rabo de peixe”. Eles também eram carros diferentes com visual extremamente semelhante, e são precursores das classes E e S.

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Havia o W110, que era o modelo de quatro cilindros, oferecido apenas como sedã; e o W111/W112, que era oferecido como sedã, cupê e conversível, com motores de seis cilindros e um V8.

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A geração seguinte dos Mercedes não ganhou um nome próprio, mas o estilo continuou unificado para suas duas classes. Havia o W108, que era o modelo de luxo, desta vez oferecido apenas como sedã, e os W114/W115, que era o modelo de entrada, oferecido como sedã e cupê, equivalente à Classe E.

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Pela primeira vez esta classe passou a ser equipada com o motor seis-em-linha (daí os dois códigos; W114 para o L6 e W115 para o L4). Essa unificação não durou muito tempo: em 1972 a Mercedes lançou o W116 para substituir o W108, inaugurando uma nova era em termos de estilo.

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Ao longo dos anos 1980 a Mercedes manteve seus carros todos alinhados visualmente. Primeiro com o W123, o W126 e o novo modelo de entrada W201 (Classe C), depois com o novo W124 (Classe E) inspirado no irmão menor, e em 1991 com o W140 (Classe S).

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Em 1993 veio o Classe C (o primeiro com essa designação) que segurou a “family face” até 1996, quando a Classe E ganhou um conjunto óptico circular e se distanciou dos irmãos. Depois disso, a Mercedes só voltaria a adotar a “family face” na atual geração.

 

BMW Neue Klasse e Série 02

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A BMW, também adepta do pragmatismo que tornou os alemães famosos, foi outra marca que usou e abusou da “family face” para consolidar sua imagem. Começou nos anos 1960, com os sedãs da Neue Klasse lançados em 1962, e seus derivados menores, a chamada Série 02, da qual faz parte o clássico 2002ti Turbo.

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BMW New Six, Série 3, Série 5 e Série 7

Nos anos 1970 foi a vez dos sedãs “New Six”, a série de luxo da BMW, com motores seis-cilindros. Ela inaugurou a identidade visual que conhecemos hoje, com faróis duplos, que depois foi adotada na primeira geração do Série 5 (E12) e na primeira geração da Série 3 (E21).

Os três modelos tinham a dianteira pronunciada e a traseira em queda suave e ainda inspiraram as gerações seguintes da Série 5 (E28) e da Série 7 (E23).

O BMW E30, segunda geração do Série 3, era uma evolução da geração anterior em termos de visual. Lançado em 1982, ele herdava de seu antecessor os faróis circulares, a grade bipartida e os três volumes bem definidos. No entanto, para adequar-se à nova década, o estilo do carro foi atualizado com formas ligeiramente mais avantajadas e para-choques envolventes. As lanternas traseiras também ficaram mais altas.

O sucesso do BMW E30 fez com que a BMW adotasse sua identidade visual também nos modelos maiores lançados depois. Primeiro, em 1986, veio o Série 7 E32, e no ano seguinte foi lançado o Série 5 E34. Em ambos pode-se notar características introduzidas no E30, como o vinco percorrendo as laterais, os já citados faróis e grade, e o interior “envolvente”, com o controle central voltado para o motorista.

 

Toyota Corolla e Toyota Camry

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Lançada em 1983, a quinta geração do Toyota Corolla, a E80, parecia ter sido desenhada com uma régua. Foi a primeira geração do Corolla a ter tração dianteira e motor transversal (com exceção do modelo AE86, que conservava o motor longitudinal e a tração traseira), e também foi a mais bem sucedida geração do Corolla até então. Por mais mítico que seja o Hachiroku, foi justamente sua geração que estabeleceu a reputação que ele o Corolla tem hoje: a de um carro confiável, prático e confortável para uso diário.

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A dianteira inclinada, os três volumes bem definidos e a área envidraçada grande não tinham muita personalidade, mas agradavam aos olhos por sua harmonia. Era como uma versão em escala do Toyota Camry V10, cuja primeira geração fez sua estreia naquele mesmo 1983, e também utilizava motor transversal e tração dianteira – arranjo mecânico que começou naquela época a ser adotado em massa pela indústria automotiva mundial, por seus benefícios à economia de combustível e ao aproveitamento de espaço nos carros de uso diário.

A semelhança entre Corolla e Camry, um dos mais evidentes casos de family face nos anos 80, seguiu nas gerações seguintes, E90 e V10 – ambos eram evoluções de seus respectivos antecessores e adotaram linhas mais suaves, com um visual mais “integrado”. E até hoje a Toyota faz questão de manter a semelhança entre os dois carros.

 

Ford Granada, Cortina, Corcel II, Del Rey e Escort Mk3

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O cara aí em cima parece um Del Rey quatro-portas que cresceu demais, mas na verdade é um Ford Granada, sedã de tração traseira que foi vendido na Europa entre 1977 e 1985. Talvez você lembre dele por causa daquele Granada com motor V8 Koenigsegg biturbo de 1.700 cv.

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O Ford Cortina de quinta geração, lançado em 1979, seguiu as mesmas linhas, literalmente: os faróis retangulares, a grade bem avantajada, as lanternas traseiras horizontais e a harmonia entre os três volumes da carroceria.

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Foi também em 1977 que a Ford do Brasil lançou o Corcel II, que utilizava a mesma plataforma e a mesma mecânica do primeiro Corcel, lançado em 1968, porém com uma nova carroceria, retilínea e inspirada nos Ford europeus, como o Granada.

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Em 1981 foi lançado o Del Rey, uma versão do Corcel II com uma nova traseira, com o terceiro volume mais baixo e longo – ficando mais precido com o Granada e o Cortina, diga-se.

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Já o Escort Mk3, lançado em 1980 na Europa e em 1983 no Brasil, oferecia uma interpretação diferente da identidade visual, com uma dianteira mais inclinada e traseira mais curta.

 

Ford Escort Mk4, Ford Sierra e Ford Scorpio

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A quarta geração do Escort, lançada em 1986, era uma reestilização da terceira, com novos faróis, mais arredondados; lentes lisas nas lanternas traseiras; grade embutida no para-choque dianteiro, menor e mais discreta; e linhas gerais mais suaves.

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No mesmo ano de o Ford Sierra, modelo que ficava imediatamente acima do Escort na linha da Ford, ganhou seu primeiro facelift, e o mesmo consistiu em adotar a identidade visual do novo Escort, exceto que com faróis mais largos e, consequentemente, grade mais estreita.

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O Ford Scorpio, modelo lançado em 1985 que era feito com base no Sierra, porém de tamanho mais avantajado e posicionado como um modelo “executivo”. Ele também seguia a identidade visual do Escort e do Sierra

 

Opel Kadett E, Ascona C, Senator A2, Monza e Corsa A

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A família da Opel nos anos 80 é, sem sombra de dúvida, a que traz mais semelhanças entre seus membros. O compacto Corsa A, que não tivemos no Brasil, foi lançado em 1980. Os faróis trapezoidais com e as setas ao lado deles eram uma marca registrada dessa geração.

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A mesma linguagem visual podia ser vista no Kadett D, lançado em 1979, e foi levada para o Kadett E, apresentado em 1984. O Kadett era posicionado logo acima do Corsa na linha da Opel.

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O Opel Ascona era a versão da Opel para a plataforma J da Chevrolet. Foi lançado em 1981 e deu origem ao nosso Chevrolet Monza no ano seguinte.

O Opel Rekord E, de 1977 e sua versão mais longa, o Opel Senator, de 1978, também.

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Havia ainda a versão cupê do Omega A, o Monza, que seguia o mesmo estilo visual na dianteira e emprestou sua silhueta ao Ascona/Monza hatch.