Você já ouviu esta história antes: uma preparadora alemã compra monoblocos novos da Porsche, monta os carros por conta própria com motores bem mais potentes que os originais, quebra alguns recordes de velocidade e se torna um ícone instantâneo no universo automobilístico. Eu poderia estar falando da Ruf, mas esta história aconteceu (de novo) 26 anos depois do primeiro 911 de Alois Ruf Jr.
A empresa em questão é a 9ff, fundada em 2001 por Jan Fatthauer como preparadora e construtora especializada nos modelos Porsche A semelhança com a Ruf não é mera coincidência. Depois de formar-se engenheiro pela Universidade de Hamburgo, Fatthauer trabalhou na Brabus e na Ruf, de onde saiu para criar sua própria empresa para fazer exatamente o que faz até hoje: supercarros baseados no Porsche 911.
A 9ff começou timidamente com kits de preparação para o 911, mas despontou para o sucesso em 2004, quando seu 911 9F-T6 se tornou o Porsche mais rápido no circuito de Nardò, atingindo 372 km/h.
O modelo era baseado no 996 Turbo, e tinha seu flat-6 de 3,6 litros modificado com turbos maiores para produzir 743 cv. Com isso, o carro podia chegar aos 100 km/h em 2,8 segundos se equipado com o câmbio manual de seis marchas ou 3,2 segundos com o câmbio Tiptronic. O modelo só não foi considerado o mais rápido do mundo, na época, pois não era produzido em série. Mas foi o início de uma série de super-911 feitos pela 9ff, sempre desafiando os maiores supercarros de sua época.
Depois do 996 equipado com o kit 9F-T6, a 9ff voltou a tentar o recorde de velocidade no ano seguinte, desta vez com um modelo próprio feito sobre um monobloco não marcado do 911 996.
Batizado V400, o carro usava uma versão com deslocamento sutilmente ampliado do flat-6 do Porsche GT2, com 3,7 litros e dois turbos para levar a potência aos 843 cv. O carro ainda usava um bodykit com uma única tomada de ar no para-choque dianteiro e uma asa traseira baixíssima, cujos suportes eram presos ao subchassi atravessando os para-choques traseiros.
O carro foi novamente levado a Nardò e atingiu insanos 388 km/h. A velocidade seria suficiente para coroá-lo como o carro mais rápido do mundo… se não fosse a Bugatti. Naquele mesmo ano a Koenigsegg levou seu CCR aos 387,85 km/h em Nardò, mas em 2005 a Bugatti colocou o Veyron para acelerar no circuito de Ehra-Lessien e quebrou a barreira dos 400 km/h, chegando aos 408,47 km/h. Não deu mais uma vez, mas ao menos um dos 911 mais incríveis de todos os tempos estava feito.
Com a velocidade máxima como principal propaganda de seus carros, a 9ff continuou fazendo modelos capazes de rivalizar com os os principais supercarros — ao menos em termos de velocidade pura. Depois do V400 a 9ff lançou o pacote TRC-85 para o 997 Turbo conversível. O motor 3,8 turbo recebia novos turbos maiores, componentes internos forjados, novos coletores e reprogramação da ECU para elevar a potência de 530 cv para 883 cv.
Com o motor retrabalhado a velocidade passava a 380 km/h declarados, o que faria dele o conversível mais rápido do planeta. A velocidade, contudo, nunca foi testada.
Foi somente em 2007, depois de quase uma década de estrada, que a 9ff lançou aquele que se tornou seu modelo mais famoso: o GT9, criado para desafiar o recorde de velocidade do Bugatti Veyron. O GT9 era amplamente modificado em relação ao 911 original. Não apenas o motor, mas também o chassi e a carroceria.
Baseado no 997 GT3, a principal diferença do GT9 é que ele teve toda a sua porção posterior modificada para acomodar o motor à frente do eixo. Além disso, o teto foi rebaixado em 120 mm e alongado em 300 mm na parte traseira, otimizando sua aerodinâmica para as altas velocidades pretendidas. Da carroceria original somente o capô e o motor restaram. O motor também não passou incólume: o 4.0 recebeu dois turbos para produzir 987 cv. Como a carroceria foi feita de fibra de carbono e kevlar, o carro pesa somente 1.326 kg.
O teste de velocidade máxima foi realizado em 2008, e ele conseguiu superar o recorde de velocidade do Bugatti Veyron por menos de 1 km/h. Mas novamente ele não conseguiu se tornar o carro mais rápido do mundo porque o SSC Ultimate Aero chegara aos 412,28 km/h exatamente um ano antes do GT9. O jeito foi extrair mais potência para tentar superar o novo recordista.
A 9ff então modificou novamente os turbos e pressão máxima de trabalho para chegar aos 1.140 cv, o que lhe possibilitaria atingir a velocidade máxima hipotética de 414 km/h. Esta versão mais potente ficou pronta em 2009 e foi batizada GT9-R, mas jamais completou um teste de velocidade máxima. Para complicar a história, no ano seguinte a Bugatti criou a versão Super Sport do Veyron, com 1.200 cv, e recuperou o recorde de velocidade máxima ao atingir 415 km/h no circuito de Ehra-Lessien.
A essa altura você já sabe o que a 9ff fez…
Em 2012 o GT9-R recebeu um novo motor de 4,2 litros com turbos pressurizando o ar a 2 bar para chegar aos 1.400 cv — o que, segundo as simulações da marca, seria suficiente para levá-lo aos 437 km/h. Rebatizado como GT9-R Vmax, o carro foi testado pela imprensa alemã e registrou tempos de 3,1 segundos na aceleração de zero a 100 km/h, 6,8 segundos na aceleração de zero a 200 km/h e apenas 13 segundos para chegar aos 300 km/h. Mas o teste parou por aí e a velocidade máxima nunca foi testada.
Atualmente a 9ff ainda oferece o GT9 e ainda promete a velocidade máxima de 437 km/h, mas ainda que ele realmente atinja esta velocidade — algo perfeitamente plausível —, ela já não é mais suficiente para torná-lo o carro mais rápido do mundo. Como você deve lembrar, em novembro do ano passado a Koenigsegg conseguiu uma média de 447,19 km/h em uma estrada deserta dos EUA, tornando seu Agera RS o novo carro mais rápido do mundo.