Se você é ativo na internet e nas redes sociais, deve ter percebido uma gigantesca onda oitentista se alastrando nos últimos tempos. Todo mundo falando de Miami Vice, música eletrônica feita como antigamente, blazers com ombreiras e supercarros quadradões e nada discretos: como vamos reclamar disso?
Nessa vibe anos 80, supercarros como o Lamborghini Countach (sim, ele nasceu nos anos 1970 mas cresceu na década seguinte) e a Ferrari Testarossa estão em alta – seja nas publicações do Facebook, seja nos leilões caríssimos que acontecem todos os anos durante os principais festivais de carros antigos do planeta.
A propósito, é sobre uma Testarossa que vamos falar hoje. Então é bom você colocar seu terno branco, sua camisa rosa, suas correntes de ouro e dar o play nisso aqui antes de continuar lendo. Para criar o clima, sabe?
Só a título de curiosidade: este vídeo de Kavinsky, um dos expoentes da música eletrônica retrô atual, já tem oito anos – ou seja, não é de hoje que os anos 80 estão na moda
A verdade é que qualquer Ferrari Testarossa é a cara dos anos 1980, e não apenas por que ela apareceu toda vestida de branco em Miami Vice. A gente já explicou isto em detalhes em um post que vale a pena de ser relido todo, mas dá para entender só de olhar para ela. Ainda mais se for conversível. O que pode ser mais oitentista do que uma Ferrari Testarossa conversível? Isto mesmo: nada!
Fica mais incrível ainda se quando você se dá conta de que esta é a única Ferrari Testarossa Spider de verdade que existe no mundo. Claro, se você gosta de carros e tem acesso à internet, certamente viu fotos e vídeos de várias delas por aí. Mas estas forma convertidas depois – o único exemplar encomendado, aprovado pela Ferrari e construído pela Pininfarina é este carro prata com detalhes e interior em azul. Depois que o carro foi revelado publicamente, em 1986, outros donos imploraram para que a companhia de Maranello fizesse a conversão, mas tiveram seus pedidos negados sem cerimônia. Quem seria o cara poderoso o bastante para ter a única Ferrari Testarossa Spider oficial que existe?
Nada menos que Giovanni “Gianni” Agnelli, presidente da Fiat na época e, automaticamente, um dos homens mais poderosos dentro da Ferrari na época. Isto porque, em 1969, o Grupo Fiat adquiriu 50% da companhia. Em 1986, Agnelli era simplesmente o homem mais rico e poderoso da Itália, além de sempre ter sido conhecido não apenas por seu período à frente da Fiat, mas por seu envolvimento político e por seu guarda-roupa estiloso, influenciado por James Bond e John Kennedy – em 2011, Agnelli foi citado como um dos cinco homens mais bem-vestidos de todos os tempos pela revista Esquire.
Em 1986, Agnelli comemorou vinte anos na presidência da Fiat S.p.A. e, para marcar a ocasião, ganhou de presente esta Testarossa. De acordo com os registros oficiais da Ferrari, o carri começou a ser construído em fevereiro de 1986 e ficou pronto em junho do mesmo ano – pouco mais de quatro meses necessários para que a Testarossa ficasse exatamente como Agnelli queria.
Para começar, em vez de vermelho, o carro era prata. O motivo: as duas primeiras letras de seu sobrenome, “Ag”, também são o símbolo da prata na tabela periódica dos elementos. A placa é personalizada, “TO 00000G”, e o interior é forrado com couro azul, cor que também aparece nas laterais inferiores e na parte superior das portas.
Além da óbvia remoção do teto, o carro teve outras modificações realizadas sob medida para Agnelli: um comando abaixo dos controles dos vidros faz com que o pedal da embreagem se retraía. A embreagem é atuada por um sistema automático da Valeo, visto que Agnelli tinha a perna esquerda enfraquecida por causa de um acidente de carro em sua juventude. A capota também recebeu um sistema de atuação elétrica, a fim de facilitar a vida do ilustre proprietário. Na época, a Ferrari negava os pedidos de conversão da Testarossa dizendo que não era possível devido ao momento de reestruturação da companhia mas, com tantas modificações, imaginamos agora o verdadeiro motivo.
De qualquer forma, isto faz desta Testarossa um carro verdadeiramente único, que será leiloado pela agência Artcurial em fevereiro, durante o Retromobile, em Paris. O carro está sendo vendido pelos filhos do atual dono, e eles contam que, um dia, seu pai simplesmente disse a Agnelli que queria comprar o carro e que o executivo ficou feliz em vendê-la, assim, de repente. Ele era esse tipo de cara.
Agora, com apenas 23 mil km rodados e uma revisão feita em novembro de 2015 (que custou €20 mil, ou R$ 88 mil em conversão direta), não deverá ser tão fácil assim levá-la para casa: será preciso dar um lance estimado entre €680 mil e €900 mil, ou cerca R$ 3-4 milhões em conversão direta. Nada mais do que justo, considerando que este carro é único no mundo e tem uma história e tanto.