Foto: Luca Bassani
No último dia 6 de agosto, Nelson Piquet deu um pulo em Interlagos para acompanhar seus filhos Nelsinho e Pedro na 6ª etapa da temporada 2016 da Porsche GT3 Cup Challenge. Não sabemos se por sorte ou por organização, o realizador da prova, Dener Pires, da Dener Motorsport, estava com seu clássico Porsche 908/02 da Equipe Hollywood nos boxes do circuito. Piquet, Porsche, Interlagos. Você já sabe o que aconteceu, não é mesmo?
Foto: Luca Bassani
Se você não lembra qual é a deste carro, vamos refrescar sua memória: o Porsche 908 foi criado em 1968 para cumprir o recém-modificado regulamento do Grupo 6, para protótipos com motor de até três litros. Seu motor, um flat-8, tinha três litros (claro), arrefecimento a ar e duas válvulas por cilindro. Estava longe de ser o state of the art da época e não era dos mais potentes, com cerca de 350 cv a 8.400 rpm, mas era confiável e robusto o bastante para as corridas de longa duração. Com o 908, a Porsche competiu nas 24 Horas de Le Mans e Daytona, além de outras provas de endurance como os 1.000 Km de Nürburgring.
Em 1969, mudanças no regulamento do Grupo 6 levaram a Porsche a remover o teto e boa parte da porção traseira do carro, criando assim o 908/02, também conhecido como Spyder. Este foi usado em competições até 1981 — àquela altura, já com um flat-six turbo de 2,1 litros e mais de 500 cv.
Porsche 908/02 com o qual Steve McQueen chegou em segundo nas 12 Horas de Sebring de 1970
Foi só depois de perder o teto que o 908/02 começou a fazer sucesso nas pistas. Depois abandonar as 24 Horas de Daytona por problemas mecânicos, o protótipo da Porsche conseguiu emplacar uma sequência de bons resultados, começando por uma vitória tripla em Brands Hatch, seguida por vitórias nos 1.000 Km de Monza, na Targa Florio e uma impressionante chegada nos 1.000 Km de Nürburgring, com cinco 908 nas cinco primeiras posições. E tem mais: nas 24 Horas de Le Mans de 1969, um 908 foi o segundo colocado atrás do Ford GT40 de Jack Ickx, com Hans Hermann ao volante. No caso, o carro era um cupê, mas você entendeu nosso ponto.
O carro conduzido por Piquet era o Porsche 908/02 Spyder da equipe Hollywood. O carro competiu em 1972 e, entre suas aparições mais famosas estão os 1.000 Km da Áustria. Como conta o excelente Blog do Pandini, Luiz Pereira Bueno e Tite Catapani dividiram o volante do bólido.
O 908/02 da Hollywood de Tite Catapani à frente da Ferrari 312P de Ronnie Peterson, na Áustria
Na época, a Porsche não disputava mais o Mundial de Carros Esporte (WSC, o avô do atual WEC), mas isto não impediu que equipes privadas, como a Hollywood, utilizassem o protótipo em corridas. O 908/02 classificou-se na sétima posição mas, com pouco mais de uma hora de corrida, foi atingido pela Ferrari 312P de Helmut Marko e José Carlos Pace.
Este 908 havia sido comprado por Bueno, Anisio Campos, José Carlos Pace e Walter Uchoa no fim de 1970, diretamente da Porsche. Os quatro haviam acabado de formar a chamada Equipe Z e buscavam um carro competitivo para temporada de 1971 do automobilismo brasileiro, que contava com diversas corridas importantes abertas a todo tipo de protótipo.
No início, o carro corria com uma pintura verde e branca bastante chamativa, a fim de atrair patrocinadores (acima). Foi só em 1972, por um contrato com a fabricante de cigarros Hollywood, que a Equipe Z mudou de nome e passou a usar as cores vermelho, branco e azul com as quais fez fama a partir de 1975, com o famoso Maverick Berta Hollywood.
Àquela altura, o 908/02 já havia sido vendido diante da impossibilidade financeira de mantê-lo correndo. Um colecionador o manteve guardado até 1997, quando Dener Pires comprou o carro e decidiu restaurá-lo. O trabalho durou um ano e envolveu a compra de diversas peças mecânicas de fora do País. Depois de pronto, em 1998, o carro passou a integrar a coleção da Dener Motorsport e a participar de eventos de carros históricos pelo mundo todo.
O Porsche 908 da Hollywood em Laguna Seca, depois de restaurado
Não fica claro se as voltas que Nelson Piquet deu no 908/02 tiveram algo a ver com seu aniversário, mas dá para ver que o tricampeão estava se divertindo.
Foto: Luca Bassani
Ele não levou o carro até o limite, mas andou rápido — uma tocada gentleman driver, sem atropelos, só curtindo a máquina. Até porque, caso acontecesse algo, estamos falando de um carro de corrida de valor histórico inestimável. E o prejuízo financeiro não ficaria muito atrás.
Foto: Luca Bassani
Agora que você conhece toda a história e a importância desta máquina, aumente o volume e curta o ronco do flat-8!