Os Mercedes-Benz das décadas de 70 e 80, como o W123, tem muito apelo entre os entusiastas por seu visual elegante, sua construção sólida e mecânica robusta. São verdadeiros tanques, e não é à toa que na África do Sul, por exemplo, muitos deles são usados ininterruptamente há mais de três décadas como táxis — e provavelmente ainda têm um bom caminho pela frente.
Sendo assim, é muito legal ver um destes carros conservado, sendo usado no dia a dia, ou até modificado para competições — como o improvável 300TD de drift feito pelos finlandeses da Black Smoke Racing que mostramos aqui há alguns dias.
Do outro extremo do espectro, porém, está esta criação de um finlandês chamada Finnjet. Apesar de vir da terra dos melhores pilotos de rali do mundo, não é o tipo de coisa que Ari Vatanen faria de tudo para dirigir — embora a gente imagine que, se topasse com isto, a exclamação “Dear God!” seria inevitável.
Sim, sabemos que foi seu navegador, Terry Harryman, quem disse a frase durante o Manx Rally de 1983, mas você não vai estragar o momento, vai?
Enfim, o que estamos dizendo é que este negócio é bizarro. Provavelmente é um dos carros customizados mais bizarros do mundo — até porque, para começar, são dois carros — duas peruas Mercedes-Benz 300TD, que foram soldadas e receberam componentes de outros 40 carros (!) para ficar… assim.
Seu criador, Antti Rahko, é um filandês de 74 anos radicado nos EUA desde 1984. E ele levou 12 anos para concluir o serviço — até que, em 2010, decidiu colocar o carro à venda no eBay por US$ 950 mil. Sim quase um milhão de dólares, ou R$ 2,5 milhões.
Para quem acha que tamanho é documento, talvez o preço se justificasse: o Finnjet mede 8,8 metros e pesa nada menos que 3.400 kg. O lado de fora é uma coleção de componentes adquiridos em ferros-velhos — entre eles, 36 espelhos e 86 faróis, o que certamente nos deixa bem curiosos a respeito da documentação. Como foi que Antti conseguiu legalizar o Finnjet para andar nas ruas?
De qualquer forma, quem quiser dar um passeio vai poder escolher entre dez lugares e curtir várias mordomias lá dentro — um fogão, um forno de microondas, um freezer, uma televisão, dois sistemas de ar-condicionado e até uma sauna totalmente funcional. Obviamente que a bateria original do carro não daria conta de manter tudo funcionando, e por isso Antti instalou outras duas, além de três alternadores.
Agora, apesar do visual espalhafatoso e do interior muitíssimo bem equipado (dá até para dar uma festa lá dentro), a mecânica do Finnjet é bastante interessante. Seu nome vem do fato de ser finlandês e de ter duas carcaças de turbinas na traseira, que servem como saídas de escapamento. O motor é, provavelmente, um cinco-em-linha a diesel de três litros (de 80 ou 125 cv, dependendo do ano de fabricação) que é forte o bastante para mover o carro (Antti costumava até fazer viagens com ele!) e ainda conseguir rodar respeitáveis 10 km com um litro do óleo combustível.
O mais curioso, porém, é o sistema de tração e direção. A transmissão leva a potência para um eixo central com rodas duplas (como naquelas picapes) e o volante esterça os eixos dianteiro e traseiro — sendo que o dianteiro é o original de um dos carros e o traseiro veio de uma picape Chevrolet Advance Design. Ambos os eixos têm conexão física com o sistema de direção, e o fato de serem oito rodas e três eixos garante que nenhum componente da suspensão seja sobrecarregado.
Não entendemos o motivo que levou Antti a criar o Finnjet, mas este talvez seja o tipo de coisa que não tem explicação. O que importa é que este cara dedicou doze anos da sua vida à criação desde carro e só decidiu vendê-lo em 2010 por estar velho demais para dar ao Finnjet a atenção que gostaria. Não sabemos se o carro foi vendido ou não — o fato é que ele desapareceu do mapa depois que dois anúncios foram colocados no eBay.
Talvez o mundo ainda não estivesse pronto para o Finnjet.