Nem todo mundo tem os mesmos gostos, e isto é uma das coisas que fazem a vida ter alguma graça. É aquela velha história: o que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Ou melhor, o que seria do Subaru Impreza Casablanca se todos gostassem do WRX STi?
OK, talvez esta recriação do dito popular não funcione muito bem, afinal todos gostam do WRX STi — como não gostar de um boxer turbinado de mais de 300 cv roncando alto e borbulhante em um esportivo de tração integral feito para vencer ralis? Agora, certamente alguém também deve curtir o visual retrô do Impreza Casablanca, representante legítimo de uma das mais curiosas tendências estéticas do Japão, ainda que ele seja meio esquisito.
Na verdade, a onda dos carros retrô japoneses aconteceu na virada da década de 1990 para os anos 2000. A gente já mencionou que os EUA trouxeram os carros com visual inspirado pelo passado para a grande indústria, com modelos como o VW New Beetle, o Chrysler PT Cruiser e o Ford Mustang, nesta mesma época, mas as coisas no Japão eram diferentes. As próprias costumavam pegar modelos que já existiam e dar a eles um visual completamente diferente na dianteira e na traseira, mesmo que o resto da carroceria não combinasse.
O Impreza Casablanca, por exemplo, foi produzido em 1999 e 2000 pela própria Subaru, e teve apenas 5.000 unidades fabricadas. A inspiração são os carros de luxo britânicos de uma forma geral, em especial os Bentley e Rolls-Royce, com faróis circulares, grade cromada e detalhes cromados no para-choque.
Curiosamente, o interior permanecia praticamente inalterado
Dá para ver o formato dos faróis e lanternas originais no contorno do body kit. Não é um exemplo de estética — as formas típicas da década de 1990 na carroceria não combinam muito com elementos estéticos típicos de trinta ou quarenta anos antes.
E ele nem foi o único Subaru a receber o tratamento retrô. O kei car Vivio também ganhou a dianteira de um carro de luxo britânico, exatamente na mesma época, e as dimensões compactas do carrinho (que, originalmente, usava um quatro-cilindros de 660 cm³) o tornavam ainda mais curioso com seu visual sisudo. Até seu nome é pomposo: Subaru Vivio Bistro Club II.
Outro modelo da marca das Plêiades (para quem não sabe, as Plêiades são as estrelas que formam a constelação que aparece no emblema da Subaru) que ganhou cara de carro mais antigo foi a minivan/picape Sambar, que tinha uma pequena grade cromada de visual clássico na versão EV.
Mais recentemente, o Toyota GT86 — que, como você sabe, foi desenvolvido em conjunto com a Subaru e usa um boxer de dois litros e 200 cv — recebeu uma versão retrô. Seu nome é Toyota GT86 Cb, de cool beauty, e a inspiração vem dos esportivos clássicos da década de 1960, como o Jaguar E-Type, vários modelos da Ferrari e até o Datsun 240Z, com faróis circulares e uma grade avantajada na dianteira. Para nós, ficou muito bom.
Quando o GT8 Cb foi lançado, no início de 2015, divulgou-se que a Toyota o lançou pensando no público feminino, mas a verdade é quem na época, a marca havia dito apenas que a edição especial foi feita para “pessoas com alto senso de estilo que curtem uma atmosfera cosmopolitana” ou algo assim. De qualquer forma, não importa a intenção: este aqui ficou realmente bacana.
Aliás, mencionar a Datsun ali em cima nos fez lembrar de outro compacto moderno com visual de carro antigo: o Nissan March Bolero, versão presente nas três últimas gerações do hatchback que, seguindo a tendência do Subaru Vivio, traz visual inspirado pelos clássicos britânicos, com uma nova grade dianteira e novos faróis.
O Nissan March também pode ser transformado em um Jaguar — é o Mitsuoka Viewt, sobre o qual já falamos aqui, que parece um Jaguar Mk2 em escala reduzida.
Ele e o Mitsuoka Galue, um Toyota Corolla da geração passada com dianteira e traseira semelhantes às dos Rolls-Royce das antigas, eram o que permitia à fabricante japonesa produzir o Orochi, que já foi o supercarro mais feio do mundo. Ele não era retrô, e se parecia muito mais com um peixe sorridente de quatro olhos e deixou de ser fabricado em novembro de 2014.
O que é mais estranho: o carro ou a campanha?
A Mitsuoka também fornece parte dos famosos táxis londrinos desde 1997, quando ao London Taxis International encomendou um substituto para o Austin FX4, o famoso Black Cab. Baseado no Nissan Cube, o Mitsuoka Yuga tem um motor a diesel de 2,7 litros (economia para rodar o dia todo pela capital inglesa) e tem visual inspirado nos icônicos táxis ingleses.
Se você curte a história da indústria automotiva brasileira, certamente já viu algumas conversões famosas feitas neste mesmo estilo, como o “Fusca Rolls-Royce” ou o Chevrolet Monza transformado em Mercedes-Benz. O pior é que, se você é do tipo que curte bizarrices automotivas, vai até achar bacana — talvez não do ponto de vista estético, mas pelo contexto da época. É ou não é?