A esta altura, a gente acredita que você já conheça a receita dos Porsche 911 modificados pela RAUH-Welt Begriff – RWB, para os íntimos: para-lamas obscenamente alargados, suspensão a ar, cores vibrantes (ou preto), componentes aerodinâmicos inspirados pelo 993 GT2 Evo e, se possível, um flat-six biturbo de pelo menos 600 cv. O cara verde aí em cima não segue esta receita mas, acredite, é um RWB.
Duvida? Então saca só: ele tem nome próprio, pertence a um representante da RWB que atua no Japão e no Oriente Médio e teve toda a funilaria e pintura feitos pelo próprio Akira Nakai, que moldou à mão os painéis da carroceria.
Mas estes para-lamas não estão meio… pequenos?
O dono do carro atende simplesmente como Royze (é este seu usuário no fórum da Pelican Parts, onde criou um tópico sobre o carro, e também no Instagram). O nome do carro é “Pistache”, por causa da cor – um verde pálido, da cor do sorvete, em homenagem à… camisa favorita de Royze. Sério, ele até postou uma foto!
A tinta e a camisa
Mas vamos ao carro. Trata-se de um Porsche 911 1984 inspirado nos clássicos 911 Carrera RS de competição produzidos entre 1973 e 1974. Estes estão entre os mais clássicos e cobiçados 911 que existem. Baseado no 911S, o Carrera RS tinha um flat-six de 2,7 litros com injeção mecânica Bosch Kugelfischer e 210 cv, suspensão mais firme, freios maiores, pneus maiores e para-lamas mais largos. Visualmente, diferenciava-se pelas faixas laterais e pela asa traseira ao estilo duck tail (rabo de pato).
Fizeram cerca de 1.580 exemplares do Carrera RS. Suas especificações ficavam de acordo com o regulamento do Grupo 4 da FIA e, por isto mesmo, boa parte deles competiu até o fim de suas vidas – o que, naturalmente, os tornou bastante raros hoje em dia. É compreensível a inspiração escolhida por Royze.
Sendo um 911 Carrera fabricado em 1984, o carro de Royze tem um flat-six de 3,2 litros e 231 cv – e o motor continua lá. No entanto, ele foi completamente refeito por uma preparadora japonesa chamada UZI, especializada no motor Boxer do Porsche 911.
Mesmo com 63 mil km rodados, uma quilometragem relativamente baixa, o motor estava bem cansado, com vazamentos em diversos lugares. Todos os componentes internos foram substituídos, os cabeçotes tiveram fluxo retrabalhado, os novos comandos são mais agressivos e o sistema de injeção recebeu corpos de borboleta individuais, além de um módulo Motec M4. O resultado é algo entre 300 cv e 350 cv – algo mais manso que os 600 cv dos carros que costumam sair da RWB mas, honestamente, já é preciso saber se virar ao volante para conduzir um Porsche 911 de 350 cv. Ainda mais um exemplar das antigas, quando não havia assistências eletrônicas para corrigir certas cagadas quaisquer deslizes.
Akira Nakai foi o responsável pela execução de todo o trabalho estético do lado de fora do 911. Na RWB, o carro foi todo desmontado e preparado para receber o verde escolhido por Royze – por dentro e por fora, diga-se. Os para-lamas foram ligeiramente alargados, sim, e vieram da RWB, ainda que sejam bem mais discretos do que de costume.
Os para-choques mais robustos e retilíneos dos anos 1980 foram trocados por peças de visual mais arredondado e clássico, semelhantes aos do Carrera RS, porém com discretas modificações – especialmente na traseira, onde foram instaladas as lanternas redondas do 911R embutidas nos para-choques.
O conjunto de rodas e pneus é um dos elementos do carro que podem ser considerados controversos. Trata-se de BBS E-50 de 17 polegadas. O visual é bem diferente das Fuchs originais e, de fato, as rodas BBS foram muito usadas pelos Porsche de competição, como o emblemático 935. No entanto, apesar da criatividade na escolha, alguns podem achar que estas rodas combinam mais com um BMW, ou mesmo um Volkswagen, do que com um Porsche. Dito isto, o stance mais atlético conferido pelo conjunto cai bem a um carro inspirado no Carrera RS, que não era exatamente assentado. Questão de gosto.
Por dentro as coisas são mais tradicionais: os bancos do tipo concha Recaro Rallye II receberam revestimento misto de couro nos apoios laterais e na face traseira e tecido xadrez nas almofadas. Os bancos traseiros e os revestimentos laterais internos repetem o tema.
O toque de estilo fica por conta dos tapetes de fibra de coco trançada. Esta parte foi idealizada pelo próprio Royze, que também ajudou a instalar as modificações internas – afinal, como representante da RWB, ele certamente deve conhecer uma ou duas coisas sobre customização.
No geral, trata-se de um 911 modificado bastante interessante, ainda que algumas das escolhas estéticas possam dividir opiniões. E mais ainda se tratando de um RAUH-Welt Begriff. Não duvidamos que seja um carro delicioso de acelerar, mas queremos saber: o que você achou?
Fotos: Royze