Você deve se lembrar dos incríveis Porsches preparados pela Singer Vehicle Design, dos espetaculares Jaguar E-Type Eagle e dos impressionantes Mercedes-Benz Mechatronik. Todos eles têm em comum a mesma filosofia: restauração impecável, estilo absolutamente dentro da pegada de época (ou seja, nada modernizado a la Chip Foose) e mecânica com preparação de ponta, com suspensão e freios reprojetados e um powertrain matador. Quando o assunto são muscle cars, geralmente estas modificações são feitas ou projetadas pelos próprios donos, tanto por um aspecto cultural quanto por um fato direto: a indústria de componentes aftermarket dos EUA é a maior do mundo.
A coisa é tão absurda por lá que você encontra literalmente tudo novo para um Mustang de primeira geração (aquele de 1964 e 1/2 até 1966), por exemplo. Lanternas, forrações de banco, grades, componentes de suspensão e freios, vidros e, como vocês viram neste post, todos os componentes de carroceria: portas, para-lamas, capôs e, pasmem, até o monobloco!
Era uma questão de tempo, portanto, para que alguém juntasse tudo e criasse um Ford Mustang novo. Uma reprodução 100% perfeita, feita com componentes de restauração e, por que não, solucionando alguns dos vícios do projeto original, como o sistema de direção vago, freios ruins e a instabilidade do eixo rígido na traseira. É exatamente isso que a Revology faz, com o bônus de ser um produto licenciado pela Ford. O resultado final é mais ou menos um Pro Touring de alma, mas com corpo de placa preta – ou o casamento entre os gearheads mais sanguinários com a turma do frisinho mais engomada.
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De acordo com o fundador Tom Scarpello, revology é “a arte de usar tecnologia para deixar os veículos clássicos ainda melhores”. Um carro antigo para ser curtido, mas sem as dores de cabeça e inconvenientes inerentes de todo clássico.
Como falamos lá em cima, a carroceria – do monobloco à tampa do porta-malas – é inteiramente nova, fornecida pela Dynacorn. Para quem não lembra, trata-se de uma empresa que produz, sob licença dos fabricantes, monoblocos de diversos modelos – entre eles, o Mustang – usando tecnologia atual, aço de alta qualidade, pontos de solda extras e tratamento anti-corrosão. Baseado nisso, a Revology oferece as carrocerias do Mustang conversível e do fastback, mas em casos especiais os caras também aceitam fazer o serviço em uma carroceria antiga (neste caso não seriam réplicas, obviamente). Você é quem manda.
Só que a carroceria nova é só o ponto de partida: a Revology busca sanar todos os vícios do projeto original do Mustang, mas sem descaracterizar a sua essência. Por isso, por exemplo, os sistemas de suspensão permanecem McPherson na dianteira e eixo rígido atrás, mas a carga, a geometria e os reforços destes componentes são todos diferentes. Nas fotos abaixo, por exemplo, você consegue ver que o sistema de eixo rígido abandonou os feixes de mola e adotou coil overs e um complexo Watts Link da australiana RRS, que estabiliza a suspensão traseira transversalmente, resolvendo o problema da instabilidade do carro em curvas velozes com piso ruim.
Na dianteira conseguimos ver buchas de poliuretano, sistema de direção de pinhão e cremalheira (o original usa caixa de esferas recirculantes, pesado e com respostas vagas), com relação bem ágil de 16:1 e freios bem maiores, com discos nas quatro rodas (11,7″ e pinças de quatro pistões na dianteira, 11″ com pinças de dois pistões na traseira). As bandejas foram relocadas seguindo a receita dos Mustang Shelby de época, aprimorando sua curva de cambagem. As rodas são clássicas Magnum 500 ou Torq Thrust, com 15″ (tamanho historicamente correto) ou 17″ (estilo Pro Touring).
O motor é sempre o V8 de cinco litros da família Windsor, com comando no bloco, montado com componentes novos e alimentado por um sistema de injeção eletrônica moderno com corpo de borboleta de 65 mm. A potência é de 265 cv e o torque, de 41,4 mkgf. Como o objetivo aqui não é acelerar na pista, mas sim ter o prazer de dirigir um Mustang clássico com as conveniências de um carro moderno, os números são suficientes – o que não te impede de, por uma quantia extra, conseguir muitos cavalos a mais com uma receita de preparação feita sob medida.
A transmissão é uma Tremec T5 manual de cinco marchas, mas é possível optar por um câmbio automático de quatro marchas. Para debulhar nas arrancadas, o diferencial traseiro tem sistema autoblocante e emprega relação final curta, de 3,70:1, o que é compensado pela presença da quinta marcha overdrive.
O visual da carroceria é praticamente idêntico ao de um Mustang original – a única diferença mais sensível são os faróis de LED com lentes lisas e, opcionalmente, as rodas maiores. O que você não vê, porém, são os reforços extras e as barras de reforço nas portas para garantir a segurança dos ocupantes em caso deacidente.
Por dentro as modificações ficam mais evidentes, mas a essência continua historicamente interessante. A maior diferença está no painel de instrumentos, que tem mostradores modernos com uma pequena tela para o computador de bordo em um dos relógios (que também serve para medir os tempos de 0 a 100 km/h e o quarto-de-milha). O sistema de som tem conexão USB e Bluetooth.
Além disso, o interior do Revology Mustang oferece vidros elétricos (que são atuados pela manivela original: você puxa para fechar e empurra para abrir), volante ajustável em altura e distância, ar-condicionado, cintos de três pontos, banco do motorista com regulagem elétrica e, opcionalmente, sistema de som de alta fidelidade com tela multimídia e subwoofer. Um ponto interessante é a garantia: um ano para a carroceria e três anos para motor, câmbio e diferencial.
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E quanto custa tudo isto? A partir de US$ 119.900, o que dá cerca de R$ 390 mil em conversão direta. Para se ter uma ideia, nos EUA é possível encontrar um Mustang dos anos 60 bem conservado por algo entre US$ 20 mil e US$ 30 mil, enquanto um exemplar em condição de exposição costuma custar uns US$ 80 mil.
Contudo, não temos dúvidas de que existe mercado para um Mustang maravilhoso como este: todo o espírito e os acabamentos do modelo original sem os inconvenientes e vícios de um clássico, como falhas elétricas, corrosão, engasopadas e problemas misteriosos que se resolvem automaticamente de acordo com o alinhamento dos planetas – tudo bem que, para os entusiastas, isso faz parte da essência do veículo.
Como cereja do bolo, o Revology exibe a alcunha de ser uma réplica original, com licença oficial da Ford – e por isso, ganhou o direito de usar todos os emblemas “Ford”, “Mustang” e afins em sua carroceria. Nada mal, não? O carro será mostrado ao público pela primeira vez hoje (14) no Concour’s d’Elegance de Amelia Island. Deve ser ainda mais impressionante ao vivo. Caso você seja um dos abonados com bala na agulha, clique aqui e encomende o seu com os caras!