Que potência não é tudo, isto você já sabe. Todo entusiasta é capaz de compreender que são diversos os elementos que compõem um carro bom de guiar: transmissão, comportamento dinâmico, ergonomia e, claro, o visual — isto só para citar alguns.
A fim de desenvolver o assunto, perguntamos aos leitores quais eram os melhores exemplos e, depois, postamos a primeira parte da lista com as respostas. Agora, vamos a mais algumas sugestões fodásticas dadas por vocês!
Peugeot 106 GTi
Se há algo que os franceses sabem fazer muito bem, são carros pequenos e divertidos que não são exatamente potentes. O Peugeot 106, por exemplo: no Brasil, ele era movido por um quatro-cilindros de 50 cv, usando como principal argumento de venda sua economia. Sabendo que dirigir rápido um carro lento é bem mais legal que dirigir um carro rápido devagar, você não deveria se surpreender se alguém dissesse que, mesmo fraquinho, o 106 é um carro bem divertido de acelerar.
Não é para menos: ele é um carro leve, compacto e de entre-eixos longo e balanços curtos, com suspensão bem acertada e ótima ergonomia para seu tamanho. No entanto, a versão realmente legal não veio para o Brasil: o 106 GTi, com um motor 1.6 16v de 120 cv. Pois é, mesmo a versão mais potente de todas não é tão potente assim, mas ele pesava apenas 950 kg e tinha um excelente trabalho de suspensão.
Era bom o bastante para que Jeremy Clarkson o considerasse o segundo melhor do mundo em termos de dinâmica, atrás apenas do Porsche 911. Do Porsche 911, cara! Os fãs podem se derreter com a conclusão, mas sabemos que a própria Peugeot oferece rivais à altura, como o 205 GTi (vamos falar dele em breve).
Lotus Elise
Como dissemos na parte anterior, Colin Chapman era mestre na arte de fazer ignorar a potência de um carro e só prestar atenção no modo como ele se move pelas curvas — tudo isto da forma mais eficiente possível: simplificando e adicionando leveza. O Lotus Seven foi a primeira grande demonstração disto (tanto que ainda é fabricado, sob licença, como Caterham 7). A segunda, para nós, foi o Lotus Elise.
Em meados dos anos 1990 a Lotus achou que era hora de voltar às raízes. Isto porque na época, o carro-chefe da companhia era o Esprit, que era movido por um V8 de 2,2 litros com turbo e 300 cv — um bom carro, sim, mas algo bem diferente do que se esperava de um Lotus.
Apresentado em 1995, o Elise não apenas conseguiu fazer exatamente isto: ele o fez com um quatro-cilindros Rover de 1,8 litros e 120 cv, que era o motor da primeira geração. Observando mais a fundo, fica fácil compreender — o Elise original pesava apenas 725 kg, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em 5,8 segundos. A carroceria era de fibra de vidro com chassi do tipo “espinha dorsal”, medindo 3,7 metros de comprimento.
Por dentro, nada para te distrair além do painel de instrumentos e dos comandos para o piloto. E você precisava se concentrar, mesmo, pois o Elise podia ser divertido para qualquer um, mas não tolerava abuso de quem não soubesse o que estava fazendo. Com tração atrás e entre-eixos curto, não é preciso muita coisa para fazê-lo sair de traseira e perder o controle.
Por outro lado, se você soubesse o que estava fazendo…
Renault Sandero RS
Este talvez seja o nome mais recente a integrar esta lista, mas certamente merece o posto. Isto porque, em plena era do downsizing, quando estamos vendo turbocompressores sendo usados em favor da economia de combustível antes da esportividade, o Renault Sandero RS aposta em um 2.0 aspirado de 150 cv (emprestado da Renault Duster) em um hatchback acessível com preparação de verdade.
Claro, neste caso a alta potência é relativa — de forma geral, um motor de 150 cv dificilmente é considerado esportivo nos dias de hoje. Mas estamos falando de um hatch comum que foi verdadeiramente refeito para se tornar um foguetinho de bolso.
É um carro quase totalmente novo, com motor remapeado, câmbio de seis marchas reescalonado para performance, suspensão com mais carga em todos os componentes (amortecedores, molas, barras estabilizadoras, alinhamento), freios a disco nas quatro rodas redimensionados, pneus esportivos da Continental e sistema de direção exclusivo. E, claro, visual mais agressivo de muito bom gosto, seguindo a identidade visual dos modelos RenaultSport.
O motor, o F4R, tem 150 cv a 5.750 rpm (corte de giro a 6.200 rpm) e 20,9 mkgf de torque a 4.000 rpm, que também está presente, em diferentes calibragens, nos RS europeus como Clio III RS 172, 182, 197 e 200 e o recordista de Nürburgring Mégane III RS 275 Trophy. Original, o Sandero RS chega aos 100 km/h em oito segundos, com máxima de 202 km/h. É óbvio que seu potencial de preparação é gigantesco, mas a receita original já é muito boa. Leia nossa avaliação completa!
Alfa Romeo Gulia
Vamos ser bem claros aqui. Verdade seja dita, qualquer versão da Alfa Romeo Giulia se encaixa nos requisitos desta lista: a versão mais potente do clássico cupê esportivo italiano era a 2000 GTV, com um motor 2.0 com coamando duplo no cabeçote e 132 cv. Comum a qualquer Giulia era a bela carroceria de alumínio feita sobre a plataforma dos sedãs de mesmo nome e a desenvoltura nas curvas.
No entanto, se você quiser a melhor demonstração da forma como a Alfa Romeo Giulia tirava proveito de motores que eram bons, ainda que não muito potentes, a escolha natural é a versão GT 1300 Junior, fabricada entre 1965 e 1976. Com apenas 1,3 litro de deslocamento, o quatro-cilindros DOHC e carburador duplo entregava 90 cv. No entanto, com apenas 930 kg, o carro era capaz de chegar aos 100 km/h em 12,3 segundos, com máxima de 160 km/h.
Definitivamente não são números impressionantes, mas o conjunto da Giulia GT 1300 era tão bem resolvido que o carro te fazia esquecer que era “fraco”. O vídeo abaixo mostra muito bem o potencial do italiano:
Um italiano conduzindo um Alfa Romeo na Itália? Mamma mia!
Toyota MR2
O MR2 foi um dos esportivos de maior sucesso da Toyota, tanto no Japão quanto nos EUA. A primeira geração foi lançada em 1984, e ficou conhecida como “esportivo de origami” por causa das linhas retas da carroceria, que pareciam dobraduras de papel (ou talvez nos anos 80 as pessoas gostassem de exagerar nas comparações).
Naquela época, o carro era movido por um motor 1.6 com comando duplo no cabeçote e 130 cv — exatamente o mesmo encontrado no cofre do AE86, e agradava pelo preço atraente, pelo visual descolado e pelo fato de o carro aproveitar muito bem a cavalaria que tinha.
No entanto, foi a segunda geração que ficou conhecida por trazer desempenho comparável ao de carros muito mais potentes. Com linhas que lembravam as Ferrari da época, o Toyota MR2 de segunda geração foi lançado em 1989 e foi fabricado por dez anos.
Sua versão mais potente usava um motor 2.0 turbo de 200 cv, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em seis segundos e cumprir o quarto-de-milha em 14 segundos. Para se ter uma ideia, a contemporânea Ferrari 348 tinha um V8 de 3,4 litros e 304 cv, suficientes para chegar aos 100 km/h em 5,6 segundos e cumprir os 402 metros em 13,8 segundos. O apelido “Ferrari de pobre” era, de certo modo, justificado.
Ford Ka XR
Foto: Ed Cunha PH/Flickr
O Ford Ka XR é um dos carros que mais dividem a opinião do nosso público. Enquanto parte dos leitores adora o Ka nervosinho que a Ford vendeu no Brasil nos anos 1990 e 2000, outra parcela acredita que não há como tornar um caro divertido. Bem, vamos aos fatos: o Ford Ka tem entre-eixos curto, bitolas praticamente inexistentes, é um carro leve (menos de 900 kg) e, sendo assim, é capaz de entreter qualquer um que se sente ao volante — mesmo em suas versões mais básicas.
O Ka XR tinha saias laterais maiores, rodas de 14 polegadas e emblemas “XR” na carroceria, mas definitivamente não era um “esportivo de adesivo”: seu motor era um 1.6 com cabeçote de 8 válvulas e… 95 cv. De qualquer forma, não estamos falando de sua aceleração (ainda que, capaz de chegar aos 100 km/h em 10,8 segundos com máxima de 186 km/h, ele não fosse nada mal neste quesito), e sim do acerto de suspensão – que já era bom nas versões comuns, com sistema independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, mas ficava ainda melhor com barra estabilizadora e molas e amortecedores mais firmes.
Detalhe: na época de seu lançamento, o XR era o Ka mais potente do mundo. A versão esportiva do modelo na Europa, chamada de SportKa, só foi lançada em 2003.
Mazda MX-5 Miata
Fazer uma lista de carros que não dependem da potência para divertir e não citar o Mazda Miata seria um pecado mortal. O roadster foi apresentado em 1989 e, desde o primeiro momento, conquistou por seu visual simpático, pelo preço baixo e pela experiência de pilotagem totalmente old school, inspirada nos clássicos conversíveis esportivos britânicos dos anos 1950 e 1960.
A primeira geração do Miata usava um quatro-cilindros de 1.6 16v, desenvolvido especificamente para o projeto, com injeção eletrônica, comando duplo no cabeçote, virabrequim e volante aliviados. Desenvolvia 116 cv a 6.800 rpm e 13,8 mkgf de torque a 5.500 rpm e, embora não fosse uma usina de força, era capaz de levar o esportivo aos 100 km/h em 8,1 segundos, com máxima de 203 km/h — graças aos econômicos 940 kg dna balança.
A suspensão por braços sobrepostos nas quatro rodas garante que nem uma fração desta força seja desperdiçada, e dá certo: o Miata é muito bom de curva e oferece uma experiência muito pura ao volante, sendo capaz de agradar motoristas de fim-de-semana e pilotos experientes da mesma forma.
E a tradição continua, 26 anos depois: a quarta e atual geração do Miata, lançada neste ano, pesa só 60 kg a mais que a primeira e tem praticamente o mesmo tamanho. E não é muito mais potente, não: seus motores são um 1.5 de 129 cv e um 2.0 de 155 cv. É assim que se faz, Mazda!
Alfa Romeo 4C
O Alfa Romeo é, de longe, o carro mais potente desta lista — o motor de 1,75 litro todo de alumínio, com turbo e injeção direta, entrega 240 cv a 6.000 rpm e 35,7 mkgf de torque já a 2.100 rpm. A transmissão é a TCT de dupla embreagem e seis marchas.
O ronco é encorpado como o de um V6 das antigas, e o conjunto é capaz de levar o 4C até os 100 km/h em 4,5 segundos, com máxima de 258 km/h. Além disso, com suspensão independente nas quatro rodas (braços triangulares sobrepostos na dianteira e McPherson na traseira), sua dinâmica é a de um legítimo supercarro em miniatura.
No entanto, mais do que isto, o Alfa Romeo 4C foi o carro que abriu as portas para a volta da tração traseira à Alfa Romeo. Isto sem falar em seu visual para lá de agradável e no apelo old school do interior. Poucos carros nos parecem tão inspiradores quanto o 4C.