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As categorias monomarca mais legais do automobilismo – parte 1

Há alguns dias, filosofando sobre a diversidade de categorias como a Improved Production – campeonato australiano de turismo que permite praticamente qualquer carro na pista –, acabamos pensando no extremo oposto: as categorias monomarca, conhecidas pela equidade técnica nas disputas e que trazem classificações com o grid inteiro condensado numa faixa estreitíssima de tempo e provas cheias de disputas. E decidimos perguntar aos leitores: qual é a categoria monomarca mais legal que você conhece?

É claro que tivemos sugestões bem interessantes – nacionais e estrangeiras, atuais e extintas. Agora, fique com a primeira parte da lista!

 

BMW M1 Procar

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Sugerido por: Eduardo W.

É claro que a mais lembrada por vocês (e uma das primeiras em que pensamos quando bolamos esta mini-série) foi a M1 Procar – para muitos entusiastas, a categoria monomarca mais legal que já existiu. A M1 Procar surgiu meio que por acidente: em 1978, a BMW havia acabado de lançar o M1, esportivo com motor seis-em-linha central-traseiro feito para homologação do Grupo 4 da FIA. Mas o regulamento mudou naquele ano, e de repente o M1 não era mais compatível.

Era uma pena, porque além da bela carroceria desenhada por Giorgetto Giugiaro, o M1 tinha um seis-em-linha girador, potente e muito receptivo a preparação. Com mais de 400 carros construídos e tudo pronto para competir, a BMW decidiu criar sua própria categoria, a M1 Procar.

Disputada em 1979 e 1980, a M1 Procar serviu como categoria de abertura para a Fórmula 1, e era tão emocionante de assistir quanto as corridas dos monopostos. Com preparação aspirada, o motor de 3,5 litros ia de 280 cv para 450 cv. Já a adoção dos turbocompressores levou este número para perto de brutais 900 cv.

A Procar foi disputada em 1979 e 1980, e da mesma forma como o International Race of Champions (IROC) que falaremos na próxima parte, trouxe pilotos da elite do automobilismo de diversas categorias disputando os títulos. Em 1979, o campeão foi Niki Lauda e, em 1980, Nelson Piquet. Depois da temporada de 1980, a BMW decidiu se inscrever na Fórmula 1. Como não poderia se dedicar a ambas categorias ao mesmo tempo, a BMW optou por acabar com a Procar.

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O carro de Nelson Piquet, cuja pintura homenageava Nürburgring

Triste, mas nem tanto: mesmo depois de ter sua categoria extinta, os M1 continuaram competindo. Em 1981, por exemplo, Nelson Piquet e Hans-Joachim Stuck venceram os 1.000 Km de Nürburgring, parte do Mundial de Carros Esporte, ao volante do M1. É o carro do vídeo abaixo, gravado no Nürburgring Nordschleife com Klaus Graf ao volante.

 

Copa Clio

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Sugerido por: Japa33

O Brasil teve sua cota de categorias monomarca de turismo. Entre 2002 e 2009, foi disputada a Copa Clio, promovida pela Renault e inaugurada junto da Fórmula Renault, constituindo o chamado Renault Speed Show. Não demorou para que a Copa Clio se tornasse uma das mais populares do País, chegando a 30 carros no grid. Em 2006, porém, a Renault deixou de apoiar a Copa Clio, que resistiu de forma independente até 2009 por iniciativa dos pilotos e equipes.

Os carros eram todos idênticos, equipados com o motor K4M 1.6 16v preparado para entregar cerca de 140 cv. O câmbio era o Renault JB3, de cinco marchas, manual. A suspensão usava o projeto original, porém com molas e amortecedoes de competição e acerto específico de pista. As corridas eram disputadas nos principais autódromos brasileiros, com Interlagos, Curitiba e o saudoso Autódromo de Jacarepaguá.

Em 2009, com a crise financeira mundial, a Copa Clio passou a custar caro demais para continuar viva, e por isto foi extinta. Seu maior campeão foi José Córdova, que venceu as temporadas de 2005, 2007 e 2008. Mas, de certa forma, o espírito de competição do Clio – que apresenta uma ótima dinâmica, mesmo original de fábrica – nas pistas continuou com os diversos projetos para track days que vemos Brasil afora – incluindo alguns participantes do Project Cars!

 

Speed 1600

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Sugerido por: Eduh-Old’sCool

A Speed 1600, conhecida também como Copa Fusca, era a prova de que o Besouro consegue ser um carro de corrida muito bacana. Surgida das cinzas da Divisão 3, em 1986, a Speed 1600 trazia motores de 1,6 litro preparados com um retrabalho nos cabeçotes para aumentar a taxa de compressão, que chegava a 13:1; troca das polias lisas por polias dentadas, vindas do Chevette; coletores de admissão de maior fluxo e dois carburadores Solex 32. A potência média era de 110 cv.

Completavam a receita ajustes de suspensão, com amortecedores mais baixos e firmes, e rodas de Brasilia de 15×5” na dianteira e 15×7” na traseira. Os carros eram todos equipados com gaiolas de proteção e tinham os interiores depenados, como manda o figurino. O peso mínimo é de 760 kg, incluindo o piloto. Em São Paulo, os Fuscas eram capazes de percorrer o traçado antigo de Interlagos em 2:43.

Atualmente, a Copa Fusca ainda é realizada no Rio Grande do Sul, organizada pela Federação Gaúcha de Automobilismo, mas também já foi realizada no Estado de São Paulo. Atualmente, os carros usam o motor AP1600.

 

D-Van Grand Prix

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Foto: Loosen Up!/Takahiro/Divulgação

Sugerido por: Mazembe 2X0

Não se trata de uma categoria profissional nem sancionada por algum grande corpo organizador. Mas nem adianta tentar entrar na D-Van Grand Prix com uma van que não seja Dodge. A competição é uma das mais divertidas do Japão, e a gente acha que apenas a imagem acima já é suficiente para entender o motivo.

A D-Van Grand Prix surgiu há cerca de dez anos, quando um cara chamado Abe Takuro, que trabalhava como instrutor em uma escola de pilotagem de motocicletas, decidiu dar umas voltas na pista ao volante de uma das vans Dodge usadas para transportar as motos.

Cobertura de uma das etapas do D-Van GP em Ebisu. Com as “Dajjibans” andando de lado, claro

Foi só uma brincadeira, mas Takuro postou fotos da brincadeira na internet e acabou atraindo outros entusiastas das vans a fazer o mesmo. Com o passar do tempo, a coisa toda acabou se tornando uma competição de verdade, realizada em diversos circuitos do Japão, como Fuji e Ebisu.

O regulamento permite um leque razoável de modificações mecânicas e de suspensão, além de alívio de peso e customização estética. A van de Takuro, por exemplo, tem um motor V8 Magnum de 5,2 litros (descendente do 318 V8 LA que equipa os nossos Dodge) com cabeçotes de alumínio da Edelbrock, novos comandos e bielas, radiador de óleo, ECU reprogramada para remover o limite de rotações e coletores do tipo 4-2-1 dimensionados. E ela é bem rápida:

 

Trofeo Alfasud

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Sugerido por: Tommy James

Em 1975, o piloto austríaco Johannes Ortner deu início a uma categoria de corrida com o Alfa Romeo Alfasud, compacto de tração dianteira lançado pela Alfa em 1971 e produzido até 1989. A competição fez tanto sucesso que, em 1976, a Alfa Romeo inaugurou sua própria versão, batizada Trofeo Alfasud, na Itália.

Disputada em circuitos como Mugello, Varano, Vallelunga, Misano e Monza, a Trofeo Alfasud estabelecia que os carros deveriam ser baseados no Alfa Romeo Alfasud Ti 1300, dotado de um quatro-cilindros de 1,3 litro e 79 cv originais.

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Com um kit da Autodelta, que incluía um par de carburadores Weber 44 IDF, novo sistema de escape, bitolas e para-lamas alargados, molas esportivas e amortecedores mais rígidos, um jogo de rodas Campagnolo – além, é claro, de uma gaiola de proteção integral, bancos de competição e extintor de incêndio –, os Alfinhas mais que honravam o passado de seu tio-avô GTA.

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Como resultado, os carros pesavam no mínimo 800 kg e chegavam aos 115 cv, suficientes para acelerar até os 200 km/h. A Trofeo Alfasud foi disputada até 1981, e era uma excelente porta de entrada para o automobilismo de elite – Gerhard Berger, que competiu na Fórmula 1 de 1984 a 1997 em equipes como Ferrari e McLaren, foi revelado na Trofeo Alfasud, que venceu em 1976.

 

Stock Car

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Sugerido por: AstolphoGM6

É claro que a Stock Car, maior categoria do automobilismo brasileiro, teria de entrar nesta lista. Mas nos referimos à Stock das antigas, disputada primeiro com o Opala, e depois com o Omega. As bolhas já estão por aí há algum tempo e embora sejam todas iguais, são criadas para lembrar carros de diferentes fabricantes – hoje em dia, Chevrolet Cruze e Peugeot 408.

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A Stock Car foi idealizada em 1977, como uma alternativa à extinção da Divisão 1, e teve sua primeira prova disputada no Autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul. Nos anos que se seguiram, circuitos como Interlagos, Jacarepaguá, Curitiba, o Autódromo Ayrton Senna em Salvador/BA e o Autódromo Nelson Piquet em Brasilia/DF, se tornaram também parte do circuito da Stock Car.

De ronco rouco e metálico que marcou a alma de muitos entusiastas (assista o vídeo acima em alto e bom som, com direito aos comentários de Claudio Carsughi: a largada se dá aos 2:40), o seis-cilindros do Opala tinha preparação naturalmente aspirada, com comando 250S, carburador Weber 446 (a partir de 1987, Weber 44) e potência que chegou aos 320 cv no fim da década de 1980, quando também foi adotada uma carenagem aerodinâmica que deixava o Opala muito parecido com um Nascar da época. Houve também, por um breve período, uma categoria para o Opala de quatro cilindros.

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A carroceria do Chevrolet Omega começou a ser utilizada em 1994, conservando o motor de 4,1 litros. Até 1999 o monobloco era o mesmo do Omega de rua, com carroceria totalmente aliviada com componentes de fibra de vidro e devidamente modificado para competição. A partir do ano seguinte, a Stock se inspirou na Nascar e abriu mão dos monoblocos de produção para empregar veículos de estrutura totalmente tubular, com bolha do Chevrolet Vectra. Contudo, o motor de seis cilindros só foi aposentado em 2003, quando a Stock começou a utilizar o V8 Chevrolet small block 350. Em 2004, a bolha passou a ser do Astra e, no ano seguinte, a Mitsubishi também entrou para a Stock Car, que deixou de ser uma categoria monomarca – ainda que, só nas aparências, visto que o conjunto mecânico era o mesmo.

 

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Ingo Hoffman venceu nada menos que doze temporadas da Stock Car, sendo que a primeira foi em 1980 e a última, em 2002, sempre com carros da Chevrolet. Paulo Gomes, Fábio Sotto Mayor, Chico Serra, Giuliano Losacco e Cacá Bueno são outros nomes de destaque.

Quem sente falta do espírito monomarca da Stock Car comemorou, no início de 2015, a inauguração da Old Stock, categoria que traz de volta os Opala dos primórdios da Stock Car. Os carros têm visual totalmente fiel ao da época, porém com alguns itens de preparação modernos que melhoram seu desempenho e, principalmente, sua confiabilidade, além de nivelar a competição.

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Como detalhamos longamente neste post, o regulamento é razoavelmente restrito em termos de preparação para privilegiar o equilíbrio e a disputa nas pistas e não elevar demais os custos de manutenção e de competitividade. O motor deve ser sempre o Chevrolet 250, com bloco de Opala ou Silverado e cabeçote de Opala. A única modificação permitida nos componentes internos é o balanceamento, e as equipes podem trocar coletores de escape e rebaixar o cabeçote. A suspensão permite modificações apenas na carga dos componentes e a opção por buchas de PU ou originais GM.