Você consegue ver a rua daí? Dê uma espiada pela janela e você certamente irá topar com um carro preto ou prata. Branco, quem sabe. É tão inevitável quanto encontrar um Fusca nas fotos dos anos 1970. Os tons de cinza começaram a dominar as ruas na metade da década passada e se tornaram as “cores” deste nosso tempo.
Como a moda e o design, a paleta de cores dos carros também têm suas tendências. Nos anos 1950 e começo dos anos 1960 a moda eram os tons neutros e pasteis, depois, nos anos 1970 vieram as cores vivas, fortes e marcantes.
Mais tarde, nos anos 1980 foi a vez das cores metálicas e perolizadas, que já eram usadas em modelos de extremo luxo, mas começaram a se popularizar até se tornar o padrão dos carros modernos. Mais recentemente também surgiram pinturas furta-cor (as chamadas “camaleão”) que refletem diferentes tons de acordo com a incidência da luz e até pinturas termo-sensíveis, que mudam de cor de acordo com a temperatura da superfície do carro.
Mas entre modismos e padrões, às vezes os fabricantes dão um pulo fora da curva e ousam na paleta de cores, criando carros que se destacam no mar de tons da moda. É destas cores ousadas, radicais e especiais que iremos falar neste post.
Reflex/Chameleon – TVR
Você conhece esse tipo de pintura como camaleão, e certamente a viu em algum carro super-tunado dos anos 2000. Ainda hoje elas são relativamente comuns, mas somente uma fabricante foi ousada o bastante para oferecê-la em seu catálogo regular de cores: a TVR.
As pinturas Reflex e Chameleon entraram no catálogo da marca britânica em 1997 em cinco tons: Chameleon Blue (azul), Chameleon Orange (laranja), Reflex Purple (roxo), Reflex Charcoal (verde), e Cascade Blue (azul/roxo). Inicialmente excêntricas para a época, elas acabaram se tornando mais comuns nos anos 2000, ganhando novos tons e até foram usadas pela marca em fotos de divulgação dos seus modelos. É bem provável que você lembre do Sagaris em uma destas cores, já que ele foi amplamente divulgado com esse tipo de pintura.
High Impact Colors – Mopar
Em 1969 a Mopar introduziu um novo catálogo com cores vivas, ousadas e chamativas para a linha 1970 da Chrysler, Dodge e Plymouth. As cores representavam o espírito da época, anos de psicodelia nas artes, prosperidade econômica e o auge dos muscle cars — foram os últimos antes da primeira crise do petróleo — e tinham nomes igualmente excêntricos, que nos fazem pensar o que havia no cafezinho dos executivos da Chrysler: Plum Crazy (algo como loucura ameixa), Green Go, Top Banana, Go Mango, Curious Yellow e Vitamin C.
Foram apenas quatro anos-modelo — as cores entraram na linha 1970 e deixaram de ser oferecidas após a linha 1973 —, mas foi tempo suficiente para que elas marcassem permanentemente a cultura muscle car e até inspirassem o revival do atual Dodge Challenger, que é oferecido em tonalidades muito semelhantes.
Desert Gold – Mercedes
Em 2010, a Mercedes levou ao Salão de Dubai uma edição especial do SLS AMG. O superesportivo inspirado no clássico 300SL “Gullwing” havia acabado de ser lançado e, como se já não fosse impressionante o suficiente com seu motor V8 naturalmente aspirado de 6,2 litros e 570 cv (bons tempos…), ainda recebeu uma pintura especial feita com ouro de verdade. Por isso o nome: Desert Gold.
A cor especial traz a curiosa combinação de um tom metálico com acabamento matte, e o contraste fica ainda mais evidente por causa dos detalhes em preto brilhante. A ideia era apenas causar uma bela impressão nas areias de Dubai, mas se houvesse interesse suficiente, o Desert Gold poderia se tornar parte do catálogo do AMG Performance Studio — divisão para clientes que desejam algo mais exclusivo (e caro). Não foi o que aconteceu mas, no ano seguinte, um cliente brasileiro encomendou outro SLS AMG pintado na mesma cor.
Rosa Pantera – Chevrolet
Foto: Tulio Cerqueira
Em 1974, a Chevrolet lançou uma edição especial do Opala, pintada na extravagante tonalidade Rosa Pantera. Quer dizer, o nome era mais extravagante do que a cor — um rosa suave com uma queda para o laranja, que muitos de nós aprendemos a chamar de “salmão”. Diz-se que a ideia era atrair o público feminino, e que alguns fãs do modelo compraram para agradar às esposas. O problema era que, na hora de vender, o preconceito contra o nome da cor falava mais alto..
Foto: Luiz Carlos Locatelli
O que nem todo mundo sabe ou lembra é que a cor já estava disponível no catálogo da Chevrolet desde 1969 — existem alguns exemplares da picape C10/C14 que saíram de fábrica na cor Rosa Pantera, que deixou de ser oferecida justamente em 1974.
Grabber Blue – Ford
O Grabber Blue foi um tom de azul especial introduzido em 1969 para o Mustang Shelby GT500 e, ao contrário do Rosa Pantera, foi um verdadeiro sucesso — tanto que, ainda naquele ano, a cor foi disponibilizada para o resto da linha de cupês do oval azul a partir daquele ano. E isto inclui, é claro, o Maverick — que, no Brasil, tinha uma tonalidade bastante semelhante batizada de Azul Regata.
Foto: Fabio Aro/Carros de Rua
Existiram algumas variações ao longo dos anos, como o Light Grabber Blue (um pouco mais claro) até que, em 1994, a cor desapareceu do catálogo de vez. Em 2010 a quinta geração do Mustang foi reestilizada, e o Grabber Blue voltou a fazer parte do catálogo — idêntico ao tom original de 1969.
Nada mais justo, visto que a quinta geração do Mustang foi a responsável pela onda de muscle cars retrô da década passada.
Gul Yellow – Volvo
Só os suecos da Volvo para transformar um tijolo sobre rodas em um esportivo cobiçadíssimo: a 850 T5-R. A perua turbinada lançada em 1994 tinha um cinco-cilindros turbo de 2,3 litros e 228 cv era tão legal que a gente até esquece que o 850 T5-R também estava tão disponível como sedã.
De qualquer forma, ambas as versões estavam disponível na cor Gul Yellow, um amarelo suave, porém nada discreto. Não é exatamente o tipo de cor que se espera de um carro grande e sisudo, mas aí você lembra que esta é a versão mais nervosa e, de repente, faz sentido querer chamar a atenção. Não é à toa que esta é a cor favorita dos fãs do modelo.
É óbvio que estas não são as únicas cores extravagantes que as marcas já ofereceram em seus carros — temos certeza de que você lembra de outros exemplos. Pode mandar brasa nos comentários!