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Car Culture

As incríveis motos com motor V6 e V8 Ferrari de Andreas Georgeades

Vez ou outra aparecem por aqui personagens dos quais não se conhece muito além de suas obras — que, como estamos no FlatOut, quase sempre envolvem criações e conquistas automotivas. Hoje é mais uma destas ocasiões, mas desta vez as criações não têm quatro rodas, mas duas — sim, são motos, e muito especiais: feitas de forma totalmente artesanal, elas usam motores V6 e V12 Ferrari. E seu criador, o experiente piloto e mecânico sul-africano Andreas Georgeades, que começou brilhante, porém quase desconhecida carreira correndo em um dos circuitos mais difíceis de todos os tempos: o Snaeffel Mountain Course, na Ilha de Man. Conseguimos sua atenção, não é?

A história de George com as motos começou em 1964, quando ele tinha apenas 21 anos. Depois de trabalhar por dois anos no restaurante do pai, ele recebeu como pagamento uma Matchless G80 nova em folha. Com a moto, que era equipada com um motor monocilíndrico quatro-tempos de 500 cm³ e 28 cv, o jovem e talentoso motociclista partiu para representar a África do Sul na famosa corrida em Manx — e conseguiu o terceiro lugar. De fato, o futuro de Andreas não estava no restaurante da família.

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Seu desempenho brilhante na Ilha de Man garantiu a ele o direito de participar da Corrida dos Campeões na Europa, ainda naquele ano. A partir daí, Andreas passou a participar regularmente de campeonatos regionais na Europa e também nos EUA e no Canadá até 1968, quando decidiu que sua prioridade não era mais correr com motocicletas, mas construí-las.

A ideia lhe ocorreu ainda no Canadá, pouco depois de seu primeiro contato com as motocicletas da Honda e, em especial, os motores pequenos, eficientes e giradores da fabricante japonesa. Assim, ele decidiu instalar um deles em uma tradicional Norton Manx — contudo, não sem antes realizar uma série de modificações: camisas reforçadas para os cilindros, um cabeçote com comando duplo e quatro válvulas por cilindro e, a mais importante delas, a conversão do sistema de arrefecimento de líquido para ar, usinando aletas de refrigeração no bloco de forma artesanal.

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A moto foi batizada como ASG Special — de Andreas Susan Georgeades, onde Susan é o nome de sua esposa. Com a nova moto, que também tinha um belo sistema de escape curvado e enormes freios a disco, George continuou competindo (e vencendo) nos EUA e na África do Sul. Com uma curta, porém bem sucedida carreira nas pistas e o evidente talento para modificações, em 1968 Andreas decidiu aposentar-se como piloto e tornar-se um construtor de motocicletas.

Sua história foi descoberta pelo blog Lanesplitter, dedicado ao universo das motocicletas, e é realmente fantástica. Entre 1978 e 1998, Andreas construiu três motocicletas equipadas com motores Ferrari, e todas as três seriam totalmente dignas de entrar na nossa lista de motos com motores de carros… se as tivéssemos descoberto antes. De qualquer forma, talvez tenha sido uma boa coisa, pois agora poderemos dar mais detalhes.

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A primeira motocicleta feita por Andreas receberam o motor V6 da Ferrari Dino — exatamente aquele projetado por Dino Ferrari em 1955; deu origem às primeiras Ferrari “de entrada” com motores V6 em 1968 e, no início da década de 70, foi emprestado para a Lancia, que o colocou no lendário Stratos que venceu o WRC três vezes seguidas entre 1974 e 1976.

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O motor teve a corrente do virabrequim substituída por uma correia dentada (modificação que se tornaria padrão na indústria décadas depois) e foi adaptado para receber uma transmissão Suzuki, e instalado em uma Honda CBX — que recebeu muito bem o novo motor e seus saudáveis 200 cv. Além disso, era uma moto muito bonita, talvez não no sentido tradicional da palavra, mas seu tanque baixo, a pintura vermelha e o V6 italiano mostravam como qualquer criação sobre rodas é bonita para quem admira o trabalho de engenharia investido nela.

Contudo, Andreas queria mais — e, pouco tempo depois, encontrou o motor perfeito para sua nova criação: o V8 de 2,9 litros de uma Ferrari 308 GTB 1978, e em vez de pagar por ele, ofereceu o troféu que ganhou em sua primeira corrida na Ilha de Man (desapego é isso!). O dono aceitou e, depois de levar o motor para casa, Andreas começou a trabalhar.

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Sem se importar em misturar componentes de marcas diferentes, Andreas instalou o motor V8 de cerca de 250 cv em um chassi de alumínio feito artesanalmente usando componentes de suspensão Kawasaki. A roda traseira e os freios vieram de uma Yamaha V-Max, enquanto o sistema de alimentação usava dois tipos de carburadores diferentes: os da V-Max para uma bancada e um conjunto de carburadores da Suzuki GS1100 alimentavam a outra. O sistema de arrefecimento líquido veio de Suzuki GT750 e foi instalado na traseira da moto.

Além de ser um verdadeiro show de do-it-yourself, a moto com motor Ferrari — batizada simplesmente “Andreas” — é esteticamente muito interessante, com postura imponente e acabamento todo em metal escovado.

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Sua próxima criação foi outra moto com motor V6 Dino, mas desta vez Andreas decidiu instalar um compressor mecânico para garantir potência extra. Detalhe: o compressor foi todo projetado por Andreas e usinado em alumínio billet na oficina que ele montou em sua casa. É a moto da foto abaixo, que atualmente está à venda no Craigslist por US$ 250 mil (cerca de R$ 752 mil em conversão direta). Pode ser muito dinheiro, pode ser que ele não venda a motocicleta nunca, mas quem somos nós para dizer o quanto ela realmente vale?

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Agora, enquanto contamos a história de Andreas aqui, talvez você tenha a impressão de que estamos falando de um passado meio distante, e que o criador das motos Ferrari nem ao menos está vivo. Isto não poderia estar mais longe da verdade: Andreas mora em San Diego, na Califórnia, e ainda não parou de construir motocicletas.

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Ele é meio recluso, preferindo gastar seu tempo na oficina do que postando coisas na Internet. Por sorte, suas criações são documentadas e compartilhadas na Internet por seu amigo George Dallaway, que abriu um tópico no fórum americano CBXclub, cuida de um canal no Youtube e até criou um grupo no Facebook — tudo para divugar o trabalho de Andreas. Através dele, conhecemos suas duas criações mais recentes: uma CBX com motor V12 de dois litros — em essência, dois seis-em-linha de um litro que originalmente equipavam a CBX entre 1978 e 1982 unidos pelo virabrequim, e um motor H16 que ainda não tem destino certo, mas já impressiona só pelo fato de existir.

Para criá-lo, Andreas juntou quatro motores flat-4 de 600 cm³ cada, originalmente utilizados na Yamaha YZF 600. A partir deles, Andreas criou dois blocos flat-8, e os uniu de forma a deixar um espaço para que a futura transmissão se encaixe no meio deles. O trabalho ainda está em progresso, mas pode ser acompanhado pelo grupo no Facebook e pelo canal no YouTube criados por George.

Alguém mais está se coçando de curiosidade a respeito do ronco deste motor monstruoso?