Quando surgiram, na década de 1940, os hot rods tinham a funcionalidade como principal objetivo. Criados para vencer pegas de semáforo e quebrar recordes de velocidade nas planícies de sal de Bonneville, os hot rods eram cupês e conversíveis com painéis da carroceria removidos para reduzir peso e motor preparado – geralmente com mais deslocamento, comando de válvulas mais agressivo, maior taxa de compressão, carburadores mais robustos (e quase sempre em maior quantidade) e supercharger. Não demorou muito, porém, para que o estilo dos carros se tornasse fundamental para que um projeto fosse considerado bem sucedido.
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Um dos maiores expoentes da cena hot rodder no mundo foi, sem dúvida, Ed “Big Daddy” Roth. Uma das lendas da Kustom Kulture, Ed Roth foi o criador do mascote Rat Fink, um rato de esgoto com olhos esbugalhados e pele verde como um zumbi, e também o pai de alguns dos hot rods mais icônicos das décadas de 1950 e 1960.
Entre eles, está o Beatnik Bandit, de 1961 – representante de uma época na qual muitos hot rods já não eram projetos ditados pela função, e sim pelo estilo e pela extravagância. Feito sobre um chassi Oldsmobile da década de 1950, o Beatnik Bandit tinha um V8 de cinco litros com supercharger, suspensão independente por braços triangulares na dianteira e eixo rígido na traseira, e um joystick no lugar do volante.
Mas sua característica mais marcante era a carroceria de fibra de vidro que, em vez de uma capota convencional, tinha uma bolha de acrílico – influência da onda futurista da época, que por sua vez era embalada pela corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética. São os chamados bubble tops.
O Beatnik Bandit também ficou famoso por ser um 16 primeiros Hot Wheels quando a linha de miniaturas 1:64 foi lançada, em 1968. Hoje ele é considerado um dos hot rods mais influentes do mundo.
Embora o visual espalhafatoso dos hot rods tenha se tornado datado, a Kustom Kulture jamais deixou de ter admiradores e adeptos. E um deles, inspirado pelo Beatnik Bandit e por outros hot rods com bolhas de acrílico, criou um bubble top que não ficaria deslocado caso voltasse cinco ou seis décadas no tempo: o Plymouth Atomic Punk – que nesta semana foi incluído em um pacote DLC para Forza Motorsport 7, o rival de Gran Turismo 6 para XBox One. O carro faz parte do pacote Barrett-Jackson Car Pack, que inclui sete carros históricos que já foram leiloados pela Barrett-Jackson.
O carro ficou bem conhecido no meio há cerca de 11 anos, em 2008, quando foi tema de matérias em sites e revistas especializados na Kustom Kulture. Embora existam vários hot rods modernos inspirados no passado, o que tornava o Atomic Punk impressionante era sua fidelidade ao estilo de Ed Roth – ele realmente parece ter sido feito nos anos 50 ou 60, e foi todo construído de forma artesanal por um norte-americano chamado Aaron Grote. Ele começou a flertar com a customização em 1999, e deu início ao projeto Atomic Punk entre 2006 e 2007.
O carro usa como base um chassi Plymouth Savoy datado de 1959, que também forneceu as “barbatanas” traseiras. A carroceria, embora lembre muito as criações de fibra de Ed Roth, foi feita toda de aço por Aaron em sua roda inglesa.
Além das peças do Plymouth Savoy, ele utilizou o teto de um Oldsmobile 1954 para formar a parte inferior da carroceria, e o capô de uma picape Ford 1959 para a porção inferior da traseira. Os faróis vieram do Plymouth Savoy, enquanto as lanternas são de um Ford 1951. O restante da carroceria foi feito sob medida, com o metal moldado na roda inglesa.
E houve algumas partes onde a criatividade e o improviso foram empregados, como a grade dianteira – o acabamento consiste em 157 puxadores de gaveta, cada um deles colocado à mão, em um processo que, sozinho, levou oito horas.
O interior minimalista conta apenas com bancos integrados à carroceria, revestidos com vinil branco, assim como os revestimentos de porta; carpete vermelho; um volante de três raios metálicos e dois mostradores alojados nas carcaças dos faróis de um Pontiac 1936. Há um console central bem avantajado, que separa os assentos e esconde o atuador elétrico para a bolha.
Esta, aliás, não foi construída por Aaron, e sim comprada – na época da estreia do carro, ele contou à revista Rod & Custom que adquiriu a peça de um fornecedor de equipamentos militares antigos e que provavelmente ela veio de algum projeto espacial experimental soviético. O quanto desta história é verdade? Talvez nunca saibamos.
Como muitos hot rods, icônicos ou não, o Atomic Punk é movido por um motor V8 que fica totalmente exposto entre a grade e a carroceria. Trata-se de um Hemi 392 comprado de um amigo, que montou o motor para um project car anterior, mas descobriu no último instante que o V8 não caberia no cofre e decidiu vendê-lo.
O motor foi todo cromado, e recebeu um coletor de escape 8×2 e oito carburadores Holley 94, pistões Arias com taxa de compressão de 10:1 e coletores de admissão feitos sob medida. A potência é de cerca de 450 cv, moderados por uma transmissão automática de três marchas Turbo-Hydramatic 400.
Pintado de vermelho Candy Apple Red, da House of Kolor, o Atomic Punk teve seu visual completado por rodas Atro Supreme de cinco raios, com 15×6 polegadas na dianteira e 15×8 polegadas na calçadas com pneus Radir Cheater com banda branca – slicks riscados, fabricados com técnicas modernas, porém imitando o visual dos pneus diagonais de antigamente.
O trabalho de criação e execução do Atomic Punk levou pouco mais de um ano, e só depois que o carro ficou pronto foi que Aaron escolheu o nome do carro. “Atomic Punk” é o nome de uma música do Van Halen, lançada no álbum auto-intitulado de 1978 – e pareceu apropriado, pois o vocalista do Van Halen na época era David Lee Roth, que tem mesmo sobrenome de Ed Roth.
O Atomic Punk foi vendido em 2010 a um colecionador chamado Rob Benigar, que sofreu um acidente com o carro pouco depois – causando um incêndio no carro, que ficou parcialmente destruído. O dono seguinte foi Richard Rawlings, da Gas Monkey Garage, que restaurou e consignou o hot rod para que fosse leiloado pela Barrett-Jackson em 2011. Segundo o que Aaron contou ao Hemmings, ao que tudo indica o carro ainda está nas mãos de seu último comprador – Ernie Moody, dono do site de pôquer virtual VideoPoker.com.
Ele também contou que faz alguns meses que a Turn10 Studios, desenvolvedora de Forza Motorsport, lhe pediu permissão para colocar o Atomic Punk em Forza 7. Entretanto, ele não se envolveu no processo de digitalização do carro – a única coisa que ele fez foi enviar o link de um vídeo onde faz um test drive no hot rod. Que, aliás, teve seu ronco perfeitamente recriado no game.