Em um dos primeiros posts do FlatOut Brasil discutimos sobre os limites de velocidade, vimos que o aumento do limite de velocidade pode contribuir para a redução dos acidentes e nem sempre a redução de velocidade traz mais segurança. A afirmação pode parecer um contrassenso, afinal, quando se anda devagar fica mais fácil parar o carro, certo?
Mas não foi isso o que aconteceu no Reino Unido. Recentemente, o governo britânico adotou os limites de 20 mph (equivalente ao limite de 30 km/h) propostos pela União Europeia em zonas de alto adensamento urbano e residenciais para melhorar a segurança no trânsito, mas o resultado foi exatamente o inverso.
O número de acidentes graves nessas áreas aumentou 26%, e o de acidentes leves aumentou 17% em relação a 2013. Curiosamente, nesse mesmo período houve redução geral de acidentes em áreas onde os limites permaneceram 30 e 40 mph (50 e 60 km/h, respectivamente). O levantamento foi feito pelo Institute of Advanced Motorists (IAM) uma entidade não-governamental dedicada a questões de segurança no trânsito com mais de 100.000 membros no Reino Unido e na Irlanda.
No começo deste ano, a Automobile Association (AA – uma espécie de clube de motoristas britânicos) já havia alertado que estes limites de 20 mph não vão funcionar sem apoio popular. Há várias regiões onde o limite foi imposto apesar da desaprovação dos moradores. Para a AA, esses limites deveriam ser impostos após consultas aos moradores das regiões onde serão impostos.
Segundo o chefe-executivo da IAM, Simon Best, esse aumento dos acidentes se deveu porque “colocar uma placa de 20 mph em uma via que ainda parece adequada para 30 mph não muda o comportamento do motorista“. O problema, de acordo com Best, é que o governo instala a placa em vias que “até ontem permitiam velocidades de 30 mph ou até mais”, em vez de dar enfoque a uma melhoria na qualidade da condução dos motoristas.
Isso significa que a velocidade operacional das vias não mudou de fato, e isso acontece por que quando os limites impostos são artificialmente baixos, como no caso das 20 mph zones, os motoristas continuam dirigindo dentro do antigo limite, uma velocidade que eles entendem como seguras. Nesse caso, o que passa a acontecer é uma situação na qual os motoristas que respeitam o novo limite tornam-se obstáculos para os motoristas que continuam dirigindo como sempre dirigiram por esses trechos.
Enquanto isso, no outro lado do Atlântico, em um país-súdito da Rainha Elizabeth, um canadense chamado Chris Thompson usou estes mesmos argumentos para convencer as autoridades de seu estado, a British Columbia, a aumentar alguns limites de velocidade e concentrar suas campanhas na qualidade da condução.
Em 2013, Thompson publicou no YouTube um vídeo chamado “Speed kills… your pocketbook“, algo como “Velocidade mata… a sua carteira”. Neste vídeo ele explicava com base em estudos científicos que os limites de velocidade artificialmente baixos de seu estado, British Columbia, não resultavam em mais segurança e acabavam apenas servindo para arrecadação.
O vídeo tornou-se viral nós mesmos o recomendamos no post mencionado no primeiro parágrafo. Depois de quase um ano, as autoridades decidiram rever os limites de velocidade e agora estão aumentando os limites de algumas rodovias mencionadas no vídeo de Thompson. O aumento não é expressivo — nenhum deles permite mais do que 120 km/h e nenhum aumento é maior que 20 km/h, mas já é um grande avanço para fazer com que os motoristas dirijam em velocidades mais naturais.
Além disso, segundo Thompson, com limites de velocidade mais adequados à realidade, os policiais podem se concentrar em patrulhar rodovias onde há mais acidentes, em vez de vigiar motoristas infringindo limites artificialmente baixos.