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Car Culture

Auri Shine: a “super cera” dos anos 1990 que protegia a pintura do seu carro até mesmo do fogo!

Em 2017 se você quiser dar um trato no visual do seu carro com produtos de primeira linha e de uso profissional, basta procurar em alguma das milhares de lojas especializadas em produtos de detailing (ou detalhamento, se preferir) automotivo. Há opções realmente boas para todas as necessidades e bolsos.

Essa situação, contudo, era bem diferente no Brasil da primeira metade dos anos 1990. As importações estavam apenas começando no país e tudo o que você tinha à disposição em qualquer loja de produtos automotivos eram ceras e polidores, silicone líquido (que detona os plásticos do carro em longo prazo) e limpa vidros.

Na época, contudo, foi muito comum a importação de produtos populares (em termos de preços) dos EUA, que eram vendidos pelo sistema de televendas. Funcionava exatamente como o e-commerce do século 21, porém com um programa de TV e atendimento telefônico em vez de um site com atendimento eletrônico. Entre os programas mais famosos estavam a TV Mappin (apresentada por um jovem Emílio Surita) e os infomerciais do Teleshop do Grupo Imagem, que são o tema deste post.

A maioria dos programas eram versões dubladas do programa americano “Amazing Discoveries”, apresentado por Mike Levey, um engenheiro eletricista que se tornou redator publicitário e acabou vendendo produtos na TV. Nesses programas, Levey e algum convidado especialista no produto à venda apresentavam as “descobertas” à platéia, que era convidada a experimentar os produtos diante das câmeras.

Você deve conhecê-los pelo slogan: “Ligue agora (011) 1406 e compre já o seu!”. Eles vendiam de tudo: de canetas super resistentes, a meias-calças que não desfiavam nunca e facas capazes de cortar absolutamente qualquer coisa (exceto as meias que não desfiavam nunca). Sim: estou falando das meias Vivarina, das facas Ginsu e das canetas Penally Fountain.

Mas também havia produtos destinados a entusiastas automotivos. Quero dizer, não era algo direcionado especificamente aos entusiastas como há hoje (vide AutoZ e seu apoio ao Project Cars), mas era algo que interessava às pessoas que gostavam de dirigir e a cuidar de seus carros.

O mais famoso deles foi super cera protetora Auri, um “polímero de superfície que restitui ao seu carro velho a aparência de um carro novo”, segundo seu fabricante. A cera era quase milagrosa em uma época em que “polímero” soava como algo dos filmes de ficção científica: se ela era capaz de proteger a pintura de riscos superficiais, tinta spray e até de pequenos incêndios, protegê-la do sol e da chuva seria moleza.

Mas espere! Não era apenas isso: Auri também era capaz de renovar pinturas opacas e vernizes queimados pela exposição contínua ao sol e chuva, além de remover qualquer tipo de sujeita impregnada na pintura do carro, como resíduos de insetos e respingos de piche.

Para comprovar a eficiência do Auri, os convidados Ian Long e John Parkin mostravam as capacidades da cera colocando fogo em partes da carroceria dos carros, esfregando pedras de alcatrão, pichando a carroceria com spray ou usando capôs com verniz queimado e desgastado pela exposição ao tempo. Parkin, por exemplo, despeja fluido de isqueiro e ateia fogo ao capô de um Rolls-Royce para depois remover as marchas da queimadura usando apenas um pano e Auri, e faz o mesmo no capô de um Mustang clássico.

Como todos os produtos do Grupo Imagem, a cera Auri não era vendida individualmente, mas em um kit que ainda incluía um repelente de água para os vidros chamado Auri Shield, um renovador de plásticos chamado Auri Shine e uma toalha super-absorvente para secar carpetes (ou a carroceria do carro após a lavagem) chamada Auri Super Towel. Era resumidamente um precursor do kit básico de limpeza e cuidado do carro que todos entusiastas têm hoje em dia — e são oferecidos em uma enorme variedade por diversas marcas. E ainda que pareça banal hoje, na época era algo realmente inovador.

O preço, claro, não era dos mais baratos: em 28/12/1994 (data do vídeo acima, segundo seu uploader) ele foi anunciado por R$ 69,95, equivalentes a cerca de R$ 335 em 2017. Em 1995 o produto ficou mais barato, chegando a R$ 59,95 (R$ 285 em 2017).

Havia ainda um segundo programa, produzido mais tarde, com uma nova cera colorida chamada Auri Colorcote que prometia eliminar riscos na pintura e restaurar a vivacidade de pinturas opacas. Para isso, John e Mike buscam um Mercedes em um ferro-velho, fazem uma senhora polir seu velho Pontiac Fiero e até submetem o capô de um Porsche 964 a um jateamento de areia (!). Infelizmente, parece que este segundo filmete não foi publicado na internet (ainda), pois não o encontramos em lugar algum.

Curiosamente, a Auri ainda tem um site ativo na internet, porém ele não é atualizado desde 2003 — possivelmente devido à morte de Mike Levey naquele mesmo ano aos 55 anos.