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Autódromo Internacional de Curitiba está perto ser vendido e transformado em condomínio

Foto: Orlei Silva

Observe com atenção esta foto aérea do Autódromo Internacional de Curitiba (ou AIC, como é chamado pelos íntimos) e compare sua área com a vizinhança à direita e ao fundo da imagem. Ela deixa bastante evidente o espaço necessário para se construir um autódromo com qualidade e infra-estrutura suficiente para ser credenciado pelas autoridades do automobilismo brasileiro e mundial.

O problema é que, com as cidades cada vez mais habitadas, cada centímetro quadrado de chão é disputado por mais gente, e como todos sabemos, quanto maior a demanda, maiores os preços. Isso ficou particularmente evidente nos últimos sete ou oito anos, com o boom da construção civil, impulsionado pelo crédito facilitado e programas sociais como o “Minha Casa Minha Vida”. Os preços dos imóveis dispararam, alguns a níveis tão insanos que viraram uma piada tragicômica.

Se kitchenettes, lofts e apartamentos de 25 m² passaram dos R$ 150.000 ou R$ 200.000 nas capitais e metrópoles brasileiras, imagine então quanto passou a valer uma área urbana tão grande que poderia ser medida em alqueires, como sítios e fazendas. O Autódromo de Interlagos, por exemplo, ocupa cerca de 930.000 m² em uma região onde o metro quadrado construído vale, em média, R$ 5.047. Estamos falando de bilhões de reais em casas e apartamentos.

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Compare a área de Interlagos com os oito blocos de apartamentos à direita e imagine quantos condomínios cabem ali

Felizmente, Interlagos é um autódromo público, construído, mantido e administrado por uma empresa pública vinculada à Prefeitura de São Paulo, a SP Turis. Ou seja: o autódromo é uma área pública como o Parque do Ibirapuera, o Vale do Anhangabaú ou o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. A menos que haja algum interesse muito maior em jogo, como aconteceu com o Autódromo de Jacarepaguá, as possibilidades de Interlagos ser destruído são poucas (ao menos por enquanto). Antes do fim do autódromo, o poder público ainda terá a opção de abrir uma concessão pública para que uma empresa privada venha a administrá-lo (uma privatização, na prática). Esse é o caso de vários autódromos de todo o Brasil, como o de Brasília/DF, Caruaru/PE, Londrina/PR, Goiânia/GO e Cascavel/PR.

A maioria desses autódromos que hoje estão dentro de cidades foi construída em áreas relativamente isoladas na época em que essas cidades eram menores, e a expansão urbana acabou os cercando e transformando aquela área em uma área de interesse comercial. É por isso que os autódromos mais novos como o famoso Velopark (RS), o belíssimo Velo Città (SP) e o ECPA (SP) são construídos em áreas rurais, afastadas dos centros urbanos.

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O Autódromo Internacional de Curitiba é um desses autódromos antigos, construídos em regiões outrora isoladas — tanto que ele não fica em Curitiba, e sim em Pinhais. Na época da construção, em 1967, Pinhais era um Distrito Administrativo de Curitiba, uma região relativamente afastada do centro da capital. Para se ter uma ideia, nos anos 1960 Curitiba tinha pouco mais de 350.000 habitantes em seus quase 500 km², ou 700 hab/km². Hoje Curitiba tem quase 1,9 milhão de habitantes e uma densidade demográfica de 4.320 hab/km². O distrito de Pinhais cresceu e virou um município independente, levando embora 61 km² da capital. Foi emancipado em 1992 e hoje tem uma densidade demográfica de quase 2.000 hab/km², além de vários condomínios suburbanos.

Esse crescimento não seria um problema se o autódromo não fosse privado. Por ser privado, isso significa que não há dinheiro público envolvido na manutenção e conservação do autódromo (ao menos em tese). Como qualquer negócio privado, ele depende dos eventos que são organizados ali. Atualmente o Autódromo Internacional de Curitiba pertence ao grupo Inepar e a Fortunato Guedes, sócio do fundador do autódromo, Flávio Chagas Lima.


Mova o zoom do Google Maps para comparar a área do autódromo com os bairros e ver seu espaço dentro da cidade

Como todo negócio privado, o objetivo do AIC é o lucro e, embora o autódromo tenha sido lucrativo nos últimos oito anos, os atuais proprietários ainda não recuperaram o investimento feito em 1995, quando ele foi modernizado e tomou as formas atuais. Segundo o jornal paranaense Gazeta do Povo, o presidente do AIC, Jauvenal de Oms, declarou ter investido R$ 13 milhões na época (cerca de R$ 52 milhões em valores atuais, segundo a correção pelo IPCA-E) e ainda não conseguiu obter o retorno.

As especulações de que o Autódromo Internacional de Curitiba não resistiria à expansão imobiliária não são de hoje, mas ganharam muita força com o boom da construção civil. Os proprietários/administradores, negaram a possibilidade do fechamento do AIC com uma nota de esclarecimento que ainda aparece na página inicial do site oficial até hoje e dizia que, em caso de negociações a administração seria a primeira a dar a notícia.

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Pois esse dia chegou. Hoje, 15 de outubro de 2015, uma matéria assinada pelo jornalista Fernando Rudnick no jornal Gazeta do Povo traz a notícia de que Jauvenal de Oms está negociando a venda do AIC. Segundo Jauvenal, há 12 propostas concretas de vários tipos e os proprietários do autódromo provavelmente irão aceitar uma delas. “Só depende de nós”, disse Jauvenal ao jornal. De acordo com a matéria, uma das propostas é da incorporadora curitibana Invespark, que pretende construir um condomínio residencial e outro comercial.

Ainda não há previsão para o fechamento do autódromo. Ao jornal, Jauvenal disse que o prazo é imprevisível, pois depende do comprador. Os eventos da Força Livre MotorSport e da Stock Car para 2016, contudo, estão agendados ao menos até junho.

Quem achava que a atual crise econômica salvaria o AIC irá se decepcionar: mesmo com o mercado em baixa, o terreno ainda vale muito dinheiro. “É um terreno que não se acha aqui. Está a dez minutos do centro de Curitiba”, disse o Jauvenal à Gazeta do Povo. Ele ainda completou a entrevista dizendo que seria uma pena fechar o autódromo, e que não voltaria a investir no automobilismo: “[…] a situação do país não motiva empreendedorismo, os investimentos estão capengas. O país está inviável para qualquer coisa”,