Apesar do nome e dos dados de torque e potência, o Bentley Continental GT não foi feito para virar tempos de volta ou fazer curvas com agilidade, e sim para entregar conforto e requinte. Seus motores potentes servem para viajar com desenvoltura apesar do peso de quase 2,5 toneladas — afinal, ele é um gran tourer. É assim desde 2003.
Acontece que agora a Bentley resolveu lançar o Continental GT3-R, com peso aliviado, adesivos na carroceria e elementos aerodinâmicos como splitter frontal e asa traseira — ambos feitos de fibra de carbono. O que a Bentley pretende com isto? E, mais importante: como este gigante se comporta na pista?
Talvez você até tenha pensado no cara perfeito para responder a esta pergunta. Julian.., digo, Chris Harris, que fez exatamente o que qualquer um faria: levou o Continental GT-3 para um autódromo e tentou extrair o máximo dele. Afinal, por que não?
A ideia da Bentley com o Continental GT3-R era aproveitar o relativo sucesso de sua equipe de fábrica na Blancpain Endurance Series, campeonato de longa duração sancionado pela FIA do qual fazem parte as 24 Horas de Spa e os 1.000 Km de Nürburgring. O Bentley Continental GT3, com seu V8 de quatro litros e 500 cv, compete na categoria desde 2013 e vem conseguindo resultados bem mais que razoáveis, então era natural que a marca procurasse uma forma de vender mais carros apoiada em sua campanha nas pistas.
Eles encontraram: o Bentley Continental GT3-R é inspirado no carro de competição, trajando uma carroceria branca com adesivos verdes e os dizeres GT3-R, peças de fibra de carbono e um interior que mistura o acabamento primoroso de um Bentley com a ausência do banco traseiro para aliviar peso — o GT3-R pesa 2.195 kg, 100 kg a menos que a versão regular do Continental GT. Deu certo: foram fabricadas 300 unidades — número que, segundo a Bentley, garante que o GT3-R seja um carro raro para sempre — e todas elas já foram vendidas. O preço? £ 237.500, ou cerca de R$ 1 milhão em conversão direta.
E como anda este carro de um milhão de reaes (leia com a voz do Silvio Santos)? A resposta é surpreendente.
Harris compara o GT3-R a um sanduíche de banana com bacon: “Um Bentley, adesivos, spoilers e curvas fechadas são uma combinação que jamais deveria dar certo mas, por alguma razão, dá“, ele diz. A Bentley meio que agiu contra as leis da física com o GT3-R.
Primeiro: o motor W12 biturbo de seis litros e 575 cv deu lugar ao mais leve V8 biturbo de quatro litros (praticamente o mesmo que se encontra no cofre do Audi RS6 Avant, por exemplo) de 580 cv a 6.000 rpm e 71,4 mkgf a baixíssimas 1.700 rpm — curiosamente, o torque é exatamente o mesmo no W12 e no V8. O detalhe é que, acionando o modo overboost, a potência sobe para 600 cv e o torque, para 76,4 mkgf, por 15 segundos.
Os freios são gigantescos, com discos de 420 mm de diâmetro (16 polegadas!) na dianteira e 356 mm na traseira, com pinças de oito pistões. Há um sistema de vetorização de torque que distribui a força entre as duas rodas traseiras de forma variável. A transmissão é automática de oito marchas, fabricada pela ZF e equipada com sistema de trocas manuais por borboletas atrás do volante. O interior é cheio de couro e Alcantara com detalhes em verde e componentes em fibra de carbono — continua bem equipado, incluindo um sistema multimídia, afinal ainda é um Bentley.
As maiores mudanças, porém, estão na suspensão e na relação final de diferencial. O carro é 1 cm mais baixo, o que não é muita coisa, mas as molas agora são muito mais rígidas — 45% na dianteira e 33% na traseira —, enquanto a relação do diferencial traseiro ficou mais curta: de 2,85:1 para 3,5:1. Graças a estas duas modificações, o Continental GT3-R se comporta com surpreendente agilidade em curvas de alta, com pouca rolagem na carroceria e muita compostura; além de ser muito ágil em retomadas.
A velocidade máxima agora é menor — de 309 km/h para 273 km/h, por causa do diferencial mais curto — mas isto não é exatamente um problema, especialmente porque o Continental GT3-R continua sendo um excelente grand tourer. Na verdade esta é a primeira coisa que Harris nota: com quatro ajustes de suspensão, o carro ainda é confortável, macio e silencioso quando você quer que ele seja.
É como se o fato de ele levar jeito para acelerar na pista fosse um bônus, e temos certeza que seus 300 donos estão plenamente satisfeitos com isto.