Imagine que você tem alguns milhões na sua conta dando sopa. Como essa grana foi parar lá? Não nos pergunte mas, se achar necessário, pode criar um cenário — você ganhou na loteria, inventou uma máquina que transforma óleo velho de cozinha em combustível ou qualquer coisa do tipo, qualquer coisa. O que importa é que você está numa boa e bem a fim de comprar um superesportivo clássico. O que você escolhe?
Para facilitar (ou dificultar) sua vida, vamos te dar duas opções — dois supercarros clássicos dos anos 1980 e 1990 que serão leiloados em breve — mais precisamente, na próxima quinta-feira (10), durante o evento Driven by Disruption, promovido pela agência RM Sotheby’s. Quais são eles? Um BMW M1 1981 e uma Ferrari Testarossa 1991. Ambos são de único dono, rodaram apenas algumas centenas de quilômetros e estão simplesmente impecáveis. Qual dos dois você levaria para casa? Pois vamos dar uma olhada em cada um deles agora!
BMW M1 1981
Talvez você já conheça a história do BMW M1, que é considerado o único supercarro fabricado pela marca — quer dizer, se levarmos em conta a definição tradicional de supercarro, com motor central-traseiro e carroceria em forma de cunha. Ele foi fabricado por pouco tempo, entre 1978 e 1981, e era inspirado no conceito BMW Turbo, apresentado em 1972 para comemorar as Olimpíadas de Verão, que naquele ano aconteciam em Munique, na Alemanha.
No entanto, se o conceito apostava em um motor 2.0 turbo de quatro cilindros, o M1 trazia um brilhante seis-em-linha de três litros — o famoso M88, que era todo de alumínio, tinha comando duplo no cabeçote e era alimentado por um sistema de injeção mecânica Kugelfischer. O resultado eram 277 cv a 6.500 rpm e 33,6 mkgf de torque a 5.000 rpm — suficientes para chegar até os 100 km/h em 5,4 segundos, com máxima de 260 km/h.
Eram números belíssimos há 37 anos, quando o M1 foi lançado. E também eram apropriados para um carro que surgiu como especial de homologação para corridas de turismo — na época, a BMW tinha os cupês da Série E9 como seus representantes nas pistas. Carros como o 3.0 CSL se tornaram lendas ao vencer quase todos os campeonatos de turismo da Europa nos anos 1970 mas, à medida que a década seguinte se aproximava, seu desempenho já não era mais o mesmo.
Por isso a BMW decidiu seguir o caminho oposto — em vez de pegar um belo carro de rua e transformá-lo em bólido de competição, eles criaram um carro pensando nas pistas e o amansaram para as ruas. E amansaram mesmo: em trajes de competição, como na categoria Procar, que servia como prova de abertura para as corridas de F1 na década de 1980, os carros tinham turbos e a potência passava dos 800 cv. Foi com um destes que Nelson Piquet tornou-se campeão em 1980.
O carro em questão é um dos últimos BMW M1 fabricados, em 1981. Dissemos que ele só teve um dono mas, na verdade, talvez nem dê para dizer que foi assim. Isto porque o carro ficou mais de 30 anos parado no depósito de uma concessionária antes de ser, finalmente, vendido em 2015. E agora ele será vendido de novo.
A história é a seguinte: depois de ser fabricado, o BMW M1 de chassi #4301426 foi enviado para uma loja na Itália. Enquanto isto, nos EUA, o concessionário Don Rosen, que tinha uma loja no estado da Pensilvânia, recebeu uma encomenda especial: a lenda do baseball Pete Rose queria um BMW M1, mas todos os exemplares disponíveis nos EUA já estavam vendidos ou reservados.
Através de seus contatos, Rosen descobriu que havia um M1 branco na Itália que ainda não havia sido vendido. No entanto, ao ligar para Pete Rose a fim de lhe dar a boa notícia, o vendedor descobriu que o rebatedor já havia encontrado um exemplar para si. Revoltado, Rosen comprou o carro para si mesmo e o guardou em um de seus galpões… para sempre.
Quer dizer, quase: em 2015, depois de 25 anos insistindo, um conhecido de longa data conseguiu convencer Rosen a vender o carro. Seu nome não é revelado, mas o cara decidiu recuperar o carro das marcas do tempo — o que não foi muito difícil. O que significa que, se você resolver ficar com o BMW M1, vai levar para casa um exemplar impecável do superesportivo projetado por Giorgetto Giugiaro com chassi acertado pela Dallara, na Itália. Coisa fina — e você provavelmente vai pagar algo entre US$ 800 mil e US$ 1 milhão (R$ 3-3,8 milhões em conversão direta). Detalhe: ele só tem 682 km marcados no hodômetro.
Ferrari Testarossa 1991
Quer algo maior, mais novo e com mais cilindros? Então talvez você prefira esta Ferrari Testarossa, fabricada dez anos depois do M1 e equipada com um V12 (na verdade, um flat-12, com 180° entre os cilindros). Com 48 válvulas, o motor deslocava 4,9 litros, era lubrificado por um sistema de cárter seco, tinha taxa de compressão de 9,2:1 e entregava 396 cv a 6.300 rpm e 49,9 mkgf de torque a 4.500 rpm.
Era o bastante para levar a Testarossa de 0 a 100 km/h em 5,3 segundos, aos 160 km/h em 11,4 segundos e aos 290 km/h de velocidade máxima. Mas estes são os dados de fábrica: na época do lançamento a revista Motor Trend conseguiu fazer o 0 a 100 km/h em 5,2 segundos e o 0 a 160 km/h em 11,3 segundos.
Sucessora da Ferrari 512BBi — e, esteticamente, uma versão maior e mais refinada dela —, a Testarossa era um supercarro com os dois pés no território dos grand tourers: o motor boxer de 12 cilindros tem uma elasticidade considerável e é perfeitamente utilizável em rotações médias a baixas — não é preciso fazê-lo uivar o tempo todo para conseguir rendimento. A cabine é espaçosa e há espaço para a bagagem — aperto e um porta-malas inútil eram as maiores queixas sobre a 512BBi.
Com linhas exageradas, cheias de retas, vincos e nostalgia, a Testarossa é a Ferrari símbolo dos anos 1980 — seja no arcade OutRun, de 1986, ou em Miami Vice, a clássica série americana que acompanha dois policiais à paisana que patrulham, ao volante de uma Testarossa branca, a vida noturna de Miami e foi exibida entre 1984 e 1989 nos EUA.
Aliás, foi justamente por causa de Miami Vice que a única dona desta Testarossa comprou o carro. Trata-se de uma rara Testarossa canadense, encomendada em Toronto e entregue na casa da dona, em Ontario. Dali, no entanto, o carro foi direto para o depósito de uma concessionária chamada Performance Cars, especializada em esportivos.
De acordo com a RM, a senhora que comprou a Testarossa até pretendia usá-la regularmente, mas não tinha tempo para tal. Os anos foram se passando e o carro continuou guardado — ou melhor, parado e cuidado como se deve: mesmo sem uso, a Testarossa teve a correia dentada subbstituída duas vezes (em 1999 e 2007), fluidos trocados e freios refeitos.
Tecnicamente, é só pegar e andar — aproveitando para aumentar a quilometragem: o carro só rodou 296 km desde que deixou a fábrica. E ela pode ser sua por um valor bem mais em conta (nem dá para acreditar que estamos falando isto de uma Ferrari): algo entre US$ 400 mil e US$ 500 mil, ou R$ 1,4-1,9 milhão, também em conversão direta.
Como dissemos, você só pode escolher um. Qual vai ser?