O Brasil tornou-se o país com a maior frota de veículos civis blindados do planeta. Em nossas ruas circulam nada menos que 120.000 carros com proteção reforçada contra a violência generalizada, um número que vem aumentando em índices maiores que o de carros comuns.
Enquanto a indústria automotiva amarga consequentes quedas nas vendas, as empresas de blindagem de veículos vivem uma situação oposta. Somente em 2013 a alta foi de 21%, enquanto as vendas de carros em geral caíram 1,6%. Segundo a Associação Brasileira de Blindados (Abrablin) de veículos, o principal motivo desse pequeno boom do segmento é o que todos suspeitam: a impunidade e o aumento da criminalidade, e a sensação de insegurança.
Em 2012 154 pessoas foram assassinadas por dia. Multiplique isso pelos 365 dias de um ano e você terá nada menos que 56.000 assassinatos em todo o país. Isso são números comparáveis a regiões que vivem conflitos bélicos e guerras civis. Em Gaza, desde que o clima esquentou entre o Hamas e Israel, foram registradas pouco mais de 2.000 mortes. Na Síria, onde há uma guerra civil, foram 170 mil mortes desde o início do conflito, há três anos, ou 56.000 por ano. No ranking mundial de assassinatos, ficamos em sétimo lugar.
Como a maior parte dos carros atualmente têm dispositivos anti-furto como o imobilizador e bloqueio eletrônico, é praticamente impossível levar um carro moderno estacionado na rua sem usar um caminhão ou sua própria chave. Por isso, quando alguém quer roubar um carro, é preciso sacar uma arma e apontá-la para a vítima em um estacionamento ou parada de semáforo.
Nesses casos, as chances da ameaça ser concretizada são grandes. Como resultado, em São Paulo metade dos roubos de carro termina com o assassinato da vítima. Não é por acaso que a maior frota de blindados seja paulista (ainda que o estado seja o mais populoso do País). A relação fica clara: quando o orçamento permite, a opção é por um carro blindado.
E nem é preciso mais desembolsar muito dinheiro para ter um carro blindado. Nos últimos anos as empresas de blindagem desenvolveram proteções para carros compactos como o Fiat Siena, o Volkswagen Voyage e o Hyundai HB20. Um modelo desses com uma blindagem básica, de nível I (resistente a disparos de revólveres .22 e .38, pode ser comprado por pouco mais de R$ 60.000.
Por outro lado, especialistas em segurança afirmam que há muita neurose a respeito de assaltos e sequestros relâmpagos e que a pessoa às vezes faz o investimento da blindagem sem sequer ser um alvo em potencial, apenas como forma de se sentir segura no trânsito. A blindagem, nesse caso, é apenas mais um obstáculo para o bandido — que por sua vez está sempre estudando a vítima e nenhum carro blindado garante proteção quando o proprietário abre a porta para descer. Segundo os especialistas a única solução é a mais óbvia: aparelhar melhor a polícia para coibir os assaltos e roubos.
Mas como acontece em outros setores deficientes do Brasil, como a saúde pública, enquanto as soluções não chegam, quem pode garante o seu. Mesmo assim, as estatísticas só aumentam.