A oitava edição do Brasil Game Show – a maior feira de games da América Latina – está rolando aberta ao público entre hoje (9) e segunda-feira (12), no Expo Center Norte, no bairro da Vila Guilherme (SP). Ontem foi o dia exclusivo para imprensa e expositores e nós estivemos lá. Sendo o FlatOut um site de car culture e eu, um verdadeiro outsider para o perfil e faixa etária média dos frequentadores, não nos restou outra opção senão fazer um recorte bastante específico. Não vai ser desta vez que você verá nossa opinião sobre o Cavaleiros do Zodíaco, Star Wars Battlefront e Call of Duty: Black Ops III !
A feira fica aberta entre as 13:00 e as 21:00 e o Expo Center Norte fica na Rua José Bernardo Pinto, 333. Embora os ingressos tenham se esgotado para compra pelo site – são esperados cerca de 300 mil visitantes ao longo dos quatro dias –, a organização do evento divulgou nesta manhã a opção de compra das entradas na bilheteria do local, por R$ 85 (meia-entrada).
Acelerando na telona
Project Cars a 12K com três placas de vídeo nVidia Titan X: com sua característica assinatura visual preto e verde – que lembra o energético Monster Energy –, de muito longe era possível ver o estande da nVidia. O grande destaque do estande era uma máquina equipada com um trio de placas de vídeo nVidia GeForce GTX Titan X, considerada uma das placas de processamento gráfico mais poderosas da atualidade, trocando tintas pela liderança com a Amd Radeon R9 Fury X. O PC em questão estava rodando o simulador Project Cars com todas as opções gráficas cravadas no talo, em um trio de telas surround 4K combinado a um sistema de som de primeira, resultando em uma resolução monstruosa e altamente imersiva de 12.288 x 2.160 pixels! O volante é o Logitech G920, instalado em um cockpit Playseat.
Com três unidades de uma das melhores placas de vídeo do mercado trabalhando em paralelo, é desnecessário dizer que a fluidez do processamento gráfico do simulador era absoluta e inabalável, mesmo com três telas de 4K exibindo uma quantidade extrema de informações, como acidentes no meio de tráfego pesado acompanhados de efeitos como fumaça, partículas e reflexos. O Project Cars é um simulador com alguns traços de game na física, não apresentando a mesma fidelidade do engine do Assetto Corsa ou do iRacing e ficando mais próximo do universo do Forza e do Gran Turismo. Mas ele é nada menos que espetacular graficamente e, por esta razão, foi uma opção mais do que acertada para mostrar as capacidades da Titan X.
A nVidia GeForce GTX Titan X usa arquitetura Maxwell GM200 com 3.072 núcleos CUDA, tem 12 GB de RAM em interface de 384 bits ao clock de 7.010 mhz, capacidade de overclock anunciada de 1.000 para até 1.400 mhz, sincronismo do tipo G-Sync e capacidade para rodar até quatro placas em paralelo em SLI. A marca recomenda uma fonte de ao menos 600W. O preço declarado de cada unidade, nos Estados Unidos, é de US$ 1.000 – o que a coloca como uma espécie de McLaren P1 das placas de vídeo.
Especificações da máquina utilizada: Core i7 5960x, 32 gigas de ram DDR4 Corsair Dominator platinum 3333 mhz, três placas de vídeo Titan X em SLI, SSD da Corsair, fonte Corsair AX1500. Resolução de cada tela: 4.096 x 2.160.
Need for Speed (2015): de crianças a senhores, este é o lançamento mais esperado do ano para os fãs do universo de car culture. De nome minimalista, o Need for Speed reúne quatro das maiores personalidades do meio – Akira Nakai, Magnus Walker, Ken Block e Morohoshi-San (clique nos links para ler nossas reportagens sobre eles) – e buscará resgatar o espírito fora-da-lei e cheio de personalizações presentes no mítico Need for Speed Underground. Como aperitivo, o estande da Warner/Eletronic Arts exibe um Mitsubishi Lancer caracterizado de Evo X e todo adesivado com o tema do game.
Muita água na boca. O Brasil Game Show ofereceria a primeira chance para o nosso contato com o NFS, mas infelizmente um problema com a liberação do código de acesso por parte da matriz resultou nisso: console trancado, nenhum controle disponível.
Tudo o que nos restou é observar o trailer que passava em loop no monitor. De acordo com a assessoria de imprensa da EA, neste fim de semana o Need for Speed já deverá estar liberado para um primeiro contato por parte de seus sortudos visitantes – e em breve haverá um evento no qual o FlatOut participará, e de lá trarei as impressões detalhadas para vocês! Por enquanto, vale conferir alguns dos últimos vídeos disponibilizados pela Electronic Arts.
Horizon Chase para Playstation 4: o estande da Sony trazia um grande volume de lançamentos, mas o que mais nos importava estava rodando em apenas um PS4 – a versão para console do game Horizon Chase, que será lançado no começo do próximo ano!
Para quem não se lembra, Horizon Chase é um game inspirado no estilo clássico de Out Run e Top Gear, e foi desenvolvido pela Aquiris Game Studio, de Porto Alegre (RS). Apesar dos gráficos 3D, a direção de arte prima pelo estilo clássico dos sprites, texturas lisas e cores vibrantes dos arcades da década de 1980, acompanhadas por uma bela trilha sonora ao estilo retrowave, composta por Barry Leitch.
Você escolhe entre dezesseis carros, que são réplicas de esportivos com nomes trocados por questão de copyright. Você vai reconhecer Ferrari F50, Bugatti Veyron, Honda NSX, Dodge Charger, novo Ford Mustang, BMW M3 E92, De Lorean, Bel Air, Chevrolet Camaro, dentre outros. O modo carreira é dividido em oito países, com um total de 73 pistas: Brasil, Chile, Estados Unidos, Índia, Grécia, África do Sul, Islândia e Emirados Árabes Unidos. As provas brasileiras são inspiradas em Brasília, Chapada Diamantina, Niterói e Salvador.
A jogabilidade é clássica: você larga em último, tem direito a algumas injeções de nitro e precisa coletar combustível (disponível em itens espalhados na pista) para conseguir finalizar a prova. A tocada dos carrinhos é idêntica ao antológico Top Gear, o que deixa a curva de aprendizado absolutamente plana e traz uma boa sensação de nostalgia. A versão de smartphone é unânime, mas fiquei com a sensação inicial de que a versão de console terá uso mais específico, voltado a um perfil que joga de galera no mesmo local, mais ou menos como o console Wii.
Os fãs do PS4 também poderão jogar o game DriveClub, lançado em 2014 pela Evolution Studios. É um game com tocada bem ao estilo Need for Speed, com gráficos e sensação de velocidade bastante impressionantes. Recomendo para quem gosta de entretenimento sem muito compromisso com a realidade.
Forza 6: o estande do X-Box possui uma série de cabines com o game recém-lançado Forza 6, que acabou juntando a maior das filas entre os jogos de corrida.
Caso esteja muito lotado ou você se incomode com a posição um pouco dramática do cockpit usado pela Microsoft, você pode dar um pulo no estande da Saraiva, logo ao lado, para jogá-lo em uma cabine um pouco mais ergonômica. Eu joguei nas duas com o Ford GT no circuito (altalmente) fictício de rua do Rio de Janeiro, mas o contato foi limitado demais devido a presença de todas as ajudas eletrônicas ativas.
A sensação de imersão do Forza 6 é muito boa, tanto pela parte gráfica caprichada quanto pelas sensações de transferência de peso e de feedback do volante, mas fiquei com a leve impressão de ser uma espécie de Project Cars simplificado na física. Ao menos nesse contato rápido, fiquei com a sensação de que o Gran Turismo 6 apresenta física melhor, especialmente na questão das transferências diagonais de peso, apesar dos gráficos e especialmente do som piores. Mas para realmente ter certeza, precisaria de um contato mais longo.
Caso você queira mais detalhes do Forza 6, recomendo que você confira o nosso compilado de avaliações de veículos especializados em games, pois em uma feira é impossível de se fazer um review apropriado. Se você tem o X-Box e quiser nos dar uma força escrevendo a sua opinião sobre o game, mande bala nos comentários!
Sessão nostalgia
O BGS tinha uma seção dedicada a games de arcade da década de 1990 – se os jogos de luta e de plataforma, como Metal Slug e a série The King of Fighters, usavam cabines genéricas, diferentes das vermelhinhas originais da SNK, por outro lado os games de corrida preservavam toda a sua originalidade. E isso inclui, claro, o sistema de inserção de fichas, ainda que (felizmente) as máquinas estivessem configuradas para “free play” – era só apertar o start e acelerar.
O Manx TT Superbike (1995) foi o primeiro arcade de motos da Sega a usar a placa Model 2, que ficou famosa por uma série de games como Daytona USA, Sega Rally Championship, Last Bronx, Indy 500, Sega Touring Car Championship e Virtua Fighter 2. Sua grande evolução em relação à Model 1 (do Virtua Racing e do Virtua Fighter, por exemplo) era a capacidade de processar texturas nos polígonos, deixando tudo com uma cara bem mais realista. Hoje o tal “realista” é quase risível, mas pense que pouco antes disso, tudo o que havia eram gráficos 2D cheios de sprites, como o Rad Mobile/Rally e o Super Monaco GP.
O grande barato do Manx TT Superbike, fora a pista inspirada em trechos do TT da Ilha de Man, era o fato de o jogador poder se suspender totalmente na moto e controlá-la apenas com o corpo, graças a um sistema de balanços e molas. Outros jogos da época exigiam que você ficasse com os pés no chão, pois não havia equilíbrio. As músicas, como todos os arcades da Sega da época, são muito bacanas. Passed through the checkpoint!
Os fãs da série Cruis’n USA (Nintendo, 1994) podem matar as saudades não apenas com o original, mas também com as continuações Cruis’n World e Cruis’n Exotica, além do California Speed (Atari, 1998). Nesta época também havia o San Francisco Rush com o mesmo tema: muscle cars e carros exóticos fantasiosos correndo em diferentes locais dos EUA, sempre com saltos gigantescos e uma jogabilidade totalmente relaxada, feita para agradar o maior espectro possível de perfis e idades. A ergonomia dos controles era péssima.
Após a virada do século, casas de fliperamas, como o Sports Arcade na Av. Paulista (São Paulo), que formavam filas de desafiantes em games de corrida e de luta, foram minguando e fechando, uma depois da outra. Esse fenômeno foi algo complexo e gradual. O poder de processamento de sistemas domésticos (PC, consoles) aumentou de forma espetacular nesta época e, paralelo a isso, o perfil dos jogos mudou: veio a enxurrada de games longos, complexos e individualistas, quase uma resposta dos consoles ao sucesso do PC na época – Resident Evil, Gran Turismo, etc. O comportamento dos jogadores também mudou: o deslocamento físico perdeu motivação com a evolução dos sistemas domésticos somado à explosão da internet.
Antigamente o arcade era a maior forma de diversão e exibicionismo dentro do entretenimento eletrônico. Você era o cara quando nenhum outro jogador vencia de você no Daytona USA – eram até oito (!) cabines interligadas – e conseguia vencer até no circuito Expert contra o computador. Você quase sempre ia ao fliperama em turma. Havia platéia, gente que ficava ali apenas olhando. Havia famosos anônimos, aquele cara que você já sabia que ia detonar todo mundo.
Hoje, você é o cara no YouTube, com speedruns e outros feitos registrados em vídeo após centenas de tentativas. O resultado final é mais perfeito e seus feitos podem dar a volta ao mundo, mas o momento no qual aquilo foi vivido foi no isolamento do seu quarto, com a mesma espontaneidade de um discurso presidencial.
Sim, o alcance é muito maior, sim, eu sou um tiozão para a geração millenial, sim, nostalgia é sempre aquela distorção emotiva. Mas eu sinto por quem não viveu essa época mais tosca, ingênua, mas bem mais orgânica e espontânea. Ainda existem manifestações deste tipo, como os games de dança e os campeonatos presenciais de jogos de luta e de futebol, o que é muito bacana. Mas isso é um recorte do nicho dentro de um nicho.
Falando em nostalgia, a Planeta DeAgostini está com um estande no Brasil Game Show, exibindo algumas de suas coleções: são miniaturas acompanhadas de fascículos explicativos de entre 12 e 16 páginas, que você compra nas bancas. A primeira é a Caminhões Brasileiros de Outros Tempos, composta de caminhões históricos como o Mercedes-Benz L1113 da Kibon, o VW 8150 da Ultragaz, o Mercedes-Benz LP331 da Casas Bahia, o Scania LKS 140 de transporte de concreto, o Chevrolet C6500 das Balas Kids – vai um toffee de leite aí? – e o VW 13130 da Shell.
Já a Veículos de Serviço do Brasil traz diversos automóveis que fizeram parte do cotidiano de quem viveu as décadas de entre 1960 e 1980. Pelo seu carisma inegável, o fusquinha da Telesp é o carro-chefe da coleção.
Outra cultura – com delicadas pontes em comum
Na geração dos frequentadores do Brasil Game Show, o carro morre como símbolo de liberdade e de representatividade de estilo de vida. Não é uma geração anti-carro, é algo que está em uma plataforma acima desse movimento politizado e polarizador: na verdade, boa parte deles sequer o reconhece como qualquer outra coisa que não um meio de transporte – e dos mais chatos por exigir atenção dedicada, o que bate de frente com a mentalidade multitarefa. Independentemente da cada vez mais limitada função dos automóveis no âmbito da mobilidade dentro dos grandes centros, a questão aqui é o interesse. Ele quase inexiste. O automóvel pra maior parte dessa galera quer dizer muito pouco, senão nada.
A Nissan bem que tentou, apresentando a série Colors do March, disponível como opcional de aproximadamente R$ 1.000 para as versões topo de linha dos motores 1.0 e 1.6, e que traz detalhes coloridos (espelhos, asa traseira, friso lateral, maçaneta e bordas do carpete) em quatro combinações: branco com vermelho, vermelho com branco, azul com branco e preto com branco. Fiquei um tempo parado no estande e tudo o que vi foi a fila da cabine do Gran Turismo 6 crescer um pouco (os jogadores podem pilotar o Nissan GT-R em Tsukuba), mas o hatchzinho foi ignorado do começo ao fim da minha estadia no espaço.
Talvez se fosse um Nissan GT-R no estande a reação fosse diferente? Talvez…
…porque é um universo diferente e que não deixa de ser interessante, por mais heterogêneo que seja com o que estamos habituados. Conversei com alguns dos que pilotaram os games de corrida que nos focamos neste post – Forza e Gran Turismo, Project Cars, Need for Speed –, e a relação deles com aquilo era literal: jogos bacanas, com bons gráficos, entretenimento. Não há interesse na transposição deste universo para o mundo físico, da mesma forma que um jogador de Battlefield raramente se interessa por armas e veículos militares reais. Claro que seria falso e injusto se generalizasse a média, até porque existem grupos heterogêneos dentro do universo dos gamers – ei, teve até leitores que reconheceram a presença do FlatOut, um deles fã do Toyota GT86 –, mas ao mesmo tempo, a tônica da frase que iniciei este capítulo é inegável.
E é um universo culturalmente muito rico e misto, que joga no mesmo caldeirão o universo dos games de console e de arcade da década de 1990 para cá, mangás e animes, HQs e filmes norte-americanos de todas as épocas. Essa mistura me lembra um pouco da Kustom Kulture, não só porque mistura várias esferas e permite infinitas nuances e tons, mas também por envolver seus entusiastas em todos os âmbitos: os hábitos, as vestimentas, as tatuagens, as músicas consumidas, a decoração de suas casas e os itens que eles valorizam e colecionam. É um estilo de vida, que valoriza e incorpora o seu próprio passado no presente da mesma forma que as culturas automotivas tratam Hachi Rokus, muscle cars antigos e afins.
Outra coisa que chamou a minha atenção é a cultura de personalização e preparação dos computadores. A lateral transparente dos cada vez mais conceituais gabinetes trouxe uma necessidade que não existia há uma década atrás: a da indústria precisar estilizar placas, processadores e coolers. Coberturas sofisticadas na frente e na traseira das placas e LEDs contrastando com superfícies escuras (nada mais daquela cor de fenolite cru) são as palavras de ordem.
E não é só uma questão de estilo. Com processadores cada vez menores rodando a frequências estratosféricas – e que ainda são ampliadas pela preparação do overclocking, que altera parâmetros como a velocidade do processador, os ciclos e a voltagem –, a temperatura pode facilmente passar dos 90º C, o que diminui não apenas a performance, mas a vida útil dos componentes. Se você olhar com atenção (nem precisa de muita) na foto acima, vai ver um complexo sistema de arrefecimento a líquido. Estes sistemas chamados de “water cooling loop” resfriam não apenas o processador principal, mas também os das placas de vídeo, as memórias, reguladores de voltagem, bridges, enfim, o que você quiser.
Com sessões tão longas de jogos, seja offline ou conectados, ergonomia se torna uma questão bastante importante. É bastante curioso o fato de a marca DxRacer usar o mesmo projeto dos bancos concha de corrida, com pequenas adaptações como o apoio lombar e o de cabeça. Mas não espere uma opção feita para simuladores de corrida: todas as cadeiras possuem jogo reclinável, apoios de braço e usam rodinhas. Algo que me chamou a atenção é a quantidade de gamers com ombros caídos para a frente, o que talvez seja um indicativo de maior atenção à coluna e à saúde de modo geral.
Bonus track: a coleção de videogames do fundador do Brasil Game Show
Uma das cerejas do bolo do Brasil Game Show é a coleção do próprio fundador do evento, o carioca Marcelo Tavares, considerada a maior do País, com mais de 350 aparelhos, mais de três mil jogos e mais de 200 acessórios. Neste link do site dele você confere a coleção inteira e detalhes de cada um dos consoles. Começamos esta galeria mais que nostálgica com o Telejogo da Philco/Ford, o primeiro videogame do Brasil e que contamos a história aqui!